Nesta viagem surreal em que vagueio, encontrei enquanto vasculhava meu velho espólio de livros empilhados no chão do meu quarto, recém chegados do passado, este velhíssimo poema dos times ...
Três donzelas foram de viagem
Uma levava um pedaço de pão
na mão
Uma disse
Cortemo-lo e dividamo-lo
E chegaram a uma floresta vermelha
e no meio da floresta vermelha
encontraram uma igreja vermelha
e na igreja vermelha
havia um altar vermelho
e em cima do altar vermelho
estava uma faca vermelha
e agora chegamos à parábola
Elas
pegaram na faca vermelha e feriram
o pão
e onde o golpearam com a
faca tão vermelha
o pão era vermelho
Lawrence Ferlinghettti
... noutro livro amarelado, de ásperas folhas encontrei este também dum outro tempo...
O peso do mundo
é o amor.
Sob o outro peso
da solidão,
sob o outro peso
da insatisfação
o peso,
o peso que trazemos
é o amor.
Quem pode negá-lo?
Nos sonhos
ele toca
no corpo,
em pensamento
constrói
um milagre,
em imaginação
angustia-se
até nascer
num ser humano -
do coração espreita
em pura chama -
pois o peso da vida
é o amor,
mas trazemos o peso
muito cansados,
e assim repousamos
nos braços do amor
por fim ,
repousamos nos braços
do amor.
Não há repouso
sem amor,
nem sono
sem sonhos
de amor -
seja louco ou gelo
obcecado por anjos
ou máquinas,
o desejo final
é o amor
-não pode amargar,
não pode negar
nem pode fugir
quando for negado
o peso é de mais
- tem de se dar
pois nada em troca
como pensado
é dado
na solidão
por mais que excele
e que se exceda.
Os corpos quentes
brilham juntos
na escuridão,
e a mão move-se
para o centro
da carne,
a pele treme
de felicidade
e a alma assoma
alegre nos olhos -
sim, sim,
é isso mesmo
que eu quero,
que eu sempre quis,
pois sempre quis
regressar
ao corpo
de onde nasci.
Allen Ginsberg
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