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quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Bukowski & Old Rock















se não sai de ti a explodir
apesar de tudo,
não o faças.
a menos que saia sem perguntar do teu
coração, da tua cabeça, da tua boca
das tuas entranhas,
não o faças.
se tens que estar horas sentado
a olhar para um ecrã de computador
ou curvado sobre a tua
máquina de escrever
procurando as palavras,
não o faças.
se o fazes por dinheiro ou fama,
não o faças.
se o fazes para teres
mulheres na tua cama,
não o faças.
se tens que te sentar e
reescrever uma e outra vez,
não o faças.
se dá trabalho só pensar em fazê-lo,
não o faças.
se tentas escrever como outros escreveram,
não o faças.







se tens que esperar para que saia de ti
a gritar,
então espera pacientemente.
se nunca sair de ti a gritar,
faz outra coisa.
 se tens que o ler primeiro à tua mulher 
ou namorada ou namorado 
ou pais ou a quem quer que seja,
não estás preparado.









não sejas como muitos escritores,
não sejas como milhares de
pessoas que se consideram escritores,
não sejas chato nem aborrecido e
pedante, não te consumas com auto-
— devoção.
as bibliotecas de todo o mundo têm
bocejado até
adormecer
com os da tua espécie.
não sejas mais um.
não o faças.
a menos que saia da
tua alma como um míssil,
a menos que o estar parado
te leve à loucura ou
ao suicídio ou homicídio,
não o faças.
a menos que o sol dentro de ti
te queime as tripas,
não o faças.










quando chegar mesmo a altura,
e se foste escolhido,
vai acontecer
por si só e continuará a acontecer
até que tu morras ou morra em ti.
não há outra alternativa.
e nunca houve.

Charles Bukowski







sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Heliodoro Baptista sempre...















Heliodoro Baptista é um dos maiores poetas moçambicanos e mesmo que o queiram enterrar ele permanecerá vivo.
Vivemos tempos conturbados no nosso amado país e lembrar a sua história faz todo o sentido; é como se fosse uma forma de invocar o seu espírito a assistir ao que ele sempre negou querer para nós.
A sua história está contada 
por Adelino Timóteo no blog do Custódio Duma  e para quem quiser ler coloquei o link no fim deste post . Usei alguns extractos e desde já  peço desculpa aos dois por ter usado o vosso material sem pedir licença.
 Heliodoro, nunca serás esquecido, nunca !! 










Ele a si se nomeava: Poeta de três prisões, exílio e desempregos. 
“O melhor que alguns nomes do poder me deram foi: três prisões, três desempregos - um deles durante mais de cinco anos -, fome e morte lenta”, são dele estas palavras.







Onde e quando, li ou ouvi, que quem sabe se conter

terá sempre, embalado no tumulto, força para se proteger?
Dizem, populismo frouxo: a liberdade experimenta-se;
mas, por cá, pela cruel indiferença, berramos:
Foda-se!
















Como as prisões e exílio atestam, ele não foi um poeta amado. A pátria não o amou, apesar dele tanto tê-la amado. Heliodoro foi por assim dizer um poeta que não tendo saído para o exílio, passou-o aqui dentro do país 34 anos.







Estou doente como um cão
num barco içado pela babugem
no ritmo Índico puro da monção;
O homem que eu disse ser,
inescrupuloso, de rara penugem,
é o capitão deste barco a arder
no seu cachimbo em forma de coração;
Longe, a ilha de seu destino, é vaga ideia
em qualquer privado jardim da consolação:
céu, mar, gaivotas de fogo, o pé-de-meia
de quando eu ainda pensava ter razão.
Este homem recorta-se no vosso céu de aço;
Ventos temporais, estrelas caídas de fronte,
O cachimbo sem tabaco, o declinado horizonte
E o coqueiro híbrido na mão insurrecta, largo o espaço.










E o País que insistiam que fossem dele e que ele recusou é este país avaro em cultura, rico em corrupção. 
Heliodoro vivia desta recusa que alguns aceitam pacificamente. 
E nessa situação se foi isolando. 
E houve também casos que o foram isolando deliberadamente.
Viveu rodeado de livros.





Escrevemos na pele: 

a morte não existe 
porque já dormimos sobre ela; 

se se passa alguma coisa? não, meu amor;
ou seja, passa-se absolutamente tudo!
e o tudo é o pão
que nunca houve neste nada;
(mas o nada será o princípio de tudo,
estas já longas servidões humanas);

esquino, te reescrevo, Thandi; e se tenho palavras
é porque imito o canto
de uma ave fecundada adulta;

(claro que o lirismo não se prende ou rotula:
aceita-se tarde ou se nega e muito cedo);

mas o poeta tem boca:
as metáforas o seu ardil,
para que outros leiam
o que ele nunca disse.










http://athiopia.blogspot.com/2009/05/heliodoro-baptista-o-incapturavel.html