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sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Massala - música da minha terra











Contactei a jornalista Paola Rolleta que foi quem fez este trabalho maravilhoso e pedi-lhe se o podia usar.
Ela  deixou-me usá-lo.
Misturei  vozes que cantam a verdadeira cultura moçambicana à massala e acho que vocês vão gostar deste cocktail daqui do Sul da África .
Estou feliz ...
Just like that !!!



      





Era uma vez uma longa estrada na parte Oriental de África, para o Sul, cheia de massaleiras. Era a estrada do maná, o alimento vindo dos céus. Na realidade, trata-se de uma longa rota dos elefantes que se alimentavam das massalas. E aqui surge a parte curiosa da história: é dificílimo plantar uma massaleira, pois esta requer condições muito próprias de humidade e calor. Quando o elefante defeca, os caroços da massala vão envolvidos no ambiente húmido necessário para fazer desabrochar a massaleira,criando-se assim um ciclo contínuo: a massaleira alimenta os elefantese estes são os únicos que fazem nascer massaleiras. O maná seria o frutodos céus oferecido pelos deuses, único alimento nessa rota de emigração. Li esta história fascinante num blogue da internet.
Porquê massala? Aí está outra parte curiosa. Vendem-se massalas ocas,coloridas, nas feiras e nas lojas de artesanato, como elementos decorativos.
E está muito na moda, nas casas bem de Moçambique, decorar as mesas também com frutos silvestres. Mas quando se pergunta acerca deles, poucas pessoas sabem responder. Resta a internet para pesquisar. Mas, depois, é preciso fazer um controlo das informações porque há muita coisa demasiado exótica por aí. Li, por exemplo, que as gochas, o instrumento idiófono, tipo chocalho de mão, feito com massalas e sementes, eram utilizadas antigamente para “expulsar os espíritos maus” das mentes dos doentes. Fui falar com o Malangatana acerca disso. “Sempre convivi com curandeiros, na minha família, mas nunca vi usar as massalas para esses fins”.





    





É sempre preciso cruzar fontes para averiguar as informações. Por isso é urgente fazerem-se estudos sobre os frutos silvestres para não se perder o conhecimento tradicional, como me disse Mário Calane, professor de ecologiana Universidade Eduardo Mondlane. “Há plantas que só são procurada em tempo de escassez alimentar. São variedades muito mais adaptadas ao meio onde vivem e podem resistir melhor às mudanças climáticas que já estão de facto a surgir! No campo usam-na, mas os citadinos esqueceram este conhecimento tradicional, que é muito rico e que pode vir a desaparecer se as pessoas do campo forem urbanizadas também. Devemos conservar esse conhecimento tradicional não só para o bem de Moçambique mas para toda a humanidade. São justamente aquelas às quais deviam dar um cuidado muito especial porque são as plantas do futuro!”.
E “fruto do futuro” é justamente o título de um artigo que encontrei acercada massala, a Strychnos spinosa, aquele fruto redondo, como uma laranja,cujo aroma e sabor são extraordinariamente deliciosos. Uma mistura de banana com ananás, com uma pitada de baunilha e um toque de canela!
O artigo realça as qualidades fantásticas da massala: alto valor nutricional, benéfica para o ambiente, fonte de rendimento.





     




 

É também chamada “laranja dos macacos”. A polpa é rica em proteínas, fósforo, magnésio, potássio e tem também uma quantidade moderada de vitaminas B e C. Está presente em toda a África Austral, sendo uma árvore de múltiplos usos. Com a polpa, faz-se sumo, compotas, papas (se misturadas com cereais como fazem em Madagáscar), e uma grande variedade de bebidas que, se deixadas a fermentar, são bem alcoólicas. Se misturada com mel, cura a tosse. É muito sumarenta e é por isso que é muito apetecida,
sobretudo em tempos de seca. Tradicionalmente não se podem arrancar da árvore. Abana-se a árvore e cai, ou, quando está madura, cai por si. A madeira da massaleira é considerada sagrada por algumas comunidades,pela sua beleza e utilidade. Fazem dela bengalas e cajados. A casca seca do fruto faz o som das marimbas, um instrumento tradicional africano que é hoje património universal proclamado pela UNESCO.




                                             




Muitas das informações sobre as propriedades da massala provêm de Israel porque para lá foi transplantada, como um dos novos frutos para climas áridos, um dos frutos do futuro!
A massala deu-se muito bem por aquelas bandas. Muitas das terras cultiváveis têm sido parceladas e urbanizadas. É por isso que procuram outras variedades para consumo humano que se dêm bem em terrenos áridos.
Fizeram testes organolépticos, perguntando às pessoas para compararem a massala com outros frutos mais familiares. As respostas mais comuns foram laranja, banana, alperce e todas as combinações possíveis entre eles todos. O fruto tem um aroma delicado, de cravinho, provavelmente a causado eugenol, o óleo essencial do cravo. Estão a estudar vários produtos a desenvolver, como sumos e rolos de polpa seca.
Existe, entre nós, também um outro tipo de massala, que se chama macuácua,e nome científico Strychnos madagascariensis. Não é tão saborosa como a massala, mas tem um uso muito peculiar. Uma vez tirada a polpa,posta ao sol a secar, retirados os caroços, é pilada para ser conservada em potes durante anos. É a mfuma, como é chamada no Sul de Moçambique.
Em tempos de fome é o único alimento. “Come-se um pouco de mfuma, bebe-se um copo de água, e assim se pode aguentar um dia de trabalho na machamba”, disse-nos Atália, uma senhora de Inhambane, hoje a viver em Ricatla, nos arredores de Maputo.
“Em tempos de fome, o conhecimento tradicional vem ao de cima. Essas plantas eram parte dos alimentos da população nos tempos antigos, antes da introdução de outras espécies de culturas”, diz Mário Calane.









Dona Atália recorda como o pai lhe recomendava que não comesse as sementes da macuácua. Mário Calane explica: “As pessoas do campo não conhecem a explicação científica, mas sabem que as sementes podem dar problemas sérios. As sementes e a casca dessas plantas contêm um alcaloide, a estricnina. O mesmo que acontece com um certo tipo de mandioca”. E sabemos que a estricnina é considerada um estimulante em pequenas doses, mas venenosa e mortal em altas doses. Será que por isso não se pode comer massala depois de uma queimada? Por isso é urgente ir para o campo,recolher informações e ir também para o laboratório. “Esse conhecimento ainda existe. Os anciãos ainda estão lá. É nossa obrigação ir ter com essas comunidades, buscar este conhecimento e publicar em livros. Isso, estamos a fazer. Mas é obrigatório fazermos análises de laboratório para ver as propriedades nutritivas e dar a conhecer a toda a gente. Para isso é preciso tempo e … vontade política”.

Paola Rolleta