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segunda-feira, 9 de novembro de 2015

A guerra prometida ...











" O maravilhoso da guerra é que cada chefe de assassinos faz abençoar suas bandeiras e invoca solenemente a Deus antes de lançar-se a exterminar a seu próximo."



Voltaire









A guerra, que aflige com os seus esquadrões o Mundo, 
É o tipo perfeito do erro da filosofia. 

A guerra, como tudo humano, quer alterar. 
Mas a guerra, mais do que tudo, quer alterar e alterar muito 
E alterar depressa. 

Mas a guerra inflige a morte. 
E a morte é o desprezo do Universo por nós. 
Tendo por consequência a morte, a guerra prova que é falsa. 
Sendo falsa, prova que é falso todo o querer-alterar. 

Deixemos o universo exterior e os outros homens onde a Natureza os pôs. 

Tudo é orgulho e inconsciência. 
Tudo é querer mexer-se, fazer coisas, deixar rasto. 
Pára o coração e o comandante dos esquadrões 
Regressa aos bocados ao universo exterior. 

A química directa da Natureza 
Não deixa lugar vago para o pensamento. 

A humanidade é uma revolta de escravos. 
A humanidade é um governo usurpado pelo povo. 
Existe porque usurpou, mas erra porque usurpar é não ter direito. 

Deixai existir o mundo exterior e a humanidade natural! 
Paz a todas as coisas pré-humanas, mesmo no homem, 
Paz à essência inteiramente exterior do Universo! 

 Fernando Pessoa 











Até que a filosofia que torna uma raça superior

E outra inferior, seja finalmente permanentemente
Desacreditada e abandonada havera guerra
Eu digo guerra

Até que não existam mais cidadãos
De 1º e 2º classe em qualquer nação
Até que a cor da pele de um homem
Não tenha maior significado que a cor
Dos seus olhos haverá guerra

Até que todos os direitos básicos
Sejam igualmente garantido para todos
Sem privilégios de raça, terá guerra

Até esse dia o sonho da paz final
Da almejada cidadania e o papel
Da moralidade internacional
Não será mais que mera ilusão
a ser percebida e nunca atingida
Por enquanto haverá guerra, guerra

Até que os ignóbeis e infelizes regimes
Que prendem nossos irmãos em Angola
Em Moçambique, África do Sul escravizada
Não mais existam e sejam destruídos
Haverá guerra, eu disse guerra

Guerra no leste, guerra no oeste
guerra no norte, Guerra no sul
guerra, guerra, rumores de guerra

E até esse dia, o continente africano
conhecerá a paz Nós africanos lutaremos
Achamos isto necessário e sabemos que devemos ganhar
E estamos confiantes na vitória

O bem sobre o mal, bem sobre o mal
O bem sobre o mal, bem sobre o mal

Bob Marley












Caminhando e cantando e seguindo a canção

Somos todos iguais braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Caminhando e cantando e seguindo a canção

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Pelos campos há fome em grandes plantações
Pelas ruas marchando indecisos cordões
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão
E acreditam nas flores vencendo o canhão

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.

Há soldados armados, amados ou não
Quase todos perdidos de armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição
De morrer pela pátria e viver sem razão

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.

Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Somos todos soldados, armados ou não
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Os amores na mente, as flores no chão
A certeza na frente, a história na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.



Geraldo Vandré

sexta-feira, 11 de julho de 2014

O Buddha na lucidez de Pessoa


















Ninguém a outro ama, senão que ama
O que de si há nele, ou é suposto.
Nada te pese que não te amem. Sentem-te
Quem és, e és estrangeiro.
Cura de ser quem és, amam-te ou nunca.
Firme contigo, sofrerás avaro
De penas.










Não só quem nos odeia ou nos inveja
Nos limita e oprime; quem nos ama
Não menos nos limita.
Que os deuses me concedam que, despido
De afetos, tenha a fria liberdade
Dos píncaros sem nada.
Quem quer pouco, tem tudo; quem quer nada
É livre; quem não tem, e não deseja,
Homem, é igual aos deuses.







Não queiras, Lídia, edificar no spaço
Que figuras futuro, ou prometer-te
Amanhã.  Cumpre-te hoje, não 'sperando.
Tu mesma és tua vida.
Não te destines, que não és futura.
Quem sabe se, entre a taça que esvazias,
E ela de novo enchida, não te a sorte
Interpõe o abismo?








Não quero as oferendas
Com que fingis, sinceros
Dar-me os dons que me dais.
Dais-me o que perderei,
Chorando-o, duas vezes,
Por vosso e meu, perdido.
Antes mo prometais
Sem mo dardes, que a perda
Será mais na 'sperança
Que na recordação.
Não terei mais desgosto
Que o contínuo da vida,
Vendo que com os dias
Tarda o que 'spera, e é nada




                                       





 





poesia de Fernando Pessoa 

         

domingo, 1 de julho de 2012

Silicone Soul & Soul Clap , a alma duplamente ...



















Constatar, assim mesmo...
Ficar lúcido com delay, assim como não querendo tipo um tingir liquido de azuis,  depois azul mais escuro e de novo os azuis mais claros, agora a clarearem até tudo ficar alvo, branco, límpido...cheio de luz!
never ending history...
as portas da percepção atravessadas sem surpresa...
o nirvana particular aprofundado num só átomo, mais suculento, os caminhos opostos se aproximando em Zen , sossegando...











Nenhum ser nos foi concedido. Correnteza apenas 

Somos, fluindo de forma em forma docilmente: 
Movidos pela sede do ser atravessamos 
O dia, a noite, a gruta e a catedral 


Assim sem descanso as enchemos uma a uma 
E nenhuma nos é o lar, a ventura, a tormenta, 
Ora caminhamos sempre, ora somos sempre o visitante, 
A nós não chama o campo, o arado, a nós não cresce o pão 




Não sabemos o que de nós quer Deus 

Que, barro em suas mãos, connosco brinca, 
Barro mudo e moldável que não ri nem chora, 
Barro amassado que nunca coze 


Ser enfim como a pedra sólido! Durar uma vez! 
Eternamente vivo é este o nosso anseio 
Que medroso arrepio permanece apesar de eterno 
E nunca será o repouso no caminho 


Hermann Hesse










Tudo se me evapora. 
A minha vida inteira, as minhas recordações, a minha imaginação e o que contém, a minha personalidade, tudo se me evapora. 
Continuamente sinto que fui outro, que pensei outro. Aquilo a que assisto é um espectáculo com outro cenário. 
E aquilo a que assisto sou eu. 
Encontro às vezes, na confusão vulgar das minhas gavetas literárias, papéis escritos por mim há dez anos, há quinze anos, há mais anos talvez. E muitos deles me parecem de um estranho; desconheço-me deles. 
Houve quem os escrevesse, e fui eu. 
Senti-os eu, mas foi como em outra vida, de que houvesse agora despertado como de um sono alheio. 

Fernando Pessoa















                         




sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Smiths - Cansaço





O que há em mim é sobretudo cansaço —

Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos





quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Fernando Pessoa - song by Raphael Saadiq



Depois  de ouvir o último álbum de Raphael Saadiq " Stone Rollin' " apaixonei-me por este tema e resolvi fazer um post  a combinar com sadness, emotion and peace..

Ontem também pensou-se em Fernando Pessoa, morreu há 76 anos e o que escreveu é intemporal...nada como fazer-lhe mais uma devida e merecida vénia...




O amor romântico é como um traje, que, como não é eterno, dura tanto quanto dura; e, em breve, sob a veste do ideal que formámos, que se esfacela, surge o corpo real da pessoa humana, em que o vestimos.
O amor romântico, portanto, é um caminho de desilusão. 
Só o não é quando a desilusão, aceite desde o princípio, decide variar de ideal constantemente, tecer constantemente, nas oficinas da alma, novos trajes, com que constantemente se renove o aspecto da criatura, por eles vestida.


Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!



 O Amor, Quando Se Revela


O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar pra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente

Não sabe o que há-de dizer.
Fala: parece que mente…
Cala: parece esquecer…

Ah, mas se ela adivinhasse,

Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;

Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe

O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar…
Fernando Pessoa




quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Pessoa - song by Elbow





Sou Lúcido


Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa
Aquele homem mal vestido, pedinte por profissão que se lhe vê na cara,
Que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele;
E reciprocamente, num gesto largo, transbordante, dei-lhe tudo quanto tinha
(Excepto, naturalmente, o que estava na algibeira onde trago mais dinheiro:
Não sou parvo nem romancista russo, aplicado,
E romantismo, sim, mas devagar...).

Sinto uma simpatia por essa gente toda,
Sobretudo quando não merece simpatia.
Sim, eu sou também vadio e pedinte,
E sou-o também por minha culpa.
Ser vadio e pedinte não é ser vadio e pedinte:
É estar ao lado da escala social,
É não ser adaptável às normas da vida,
'As normas reais ou sentimentais da vida -
Não ser Juiz do Supremo, empregado certo, prostituta,
Não ser pobre a valer, operário explorado,
Não ser doente de uma doença incurável,
Não ser sedento da justiça, ou capitão de cavalaria,
Não ser, enfim, aquelas pessoas sociais dos novelistas
Que se fartam de letras porque tem razão para chorar lagrimas,
E se revoltam contra a vida social porque tem razão para isso supor.

Não: tudo menos ter razão!
Tudo menos importar-se com a humanidade!
Tudo menos ceder ao humanitarismo!
De que serve uma sensação se ha uma razão exterior a ela?

Sim, ser vadio e pedinte, como eu sou,
Não é ser vadio e pedinte, o que é corrente:
É ser isolado na alma, e isso é que é ser vadio,
É ter que pedir aos dias que passem, e nos deixem, e isso é que é ser pedinte.

Tudo o mais é estúpido como um Dostoiewski ou um Gorki.
Tudo o mais é ter fome ou não ter o que vestir.
E, mesmo que isso aconteça, isso acontece a tanta gente
Que nem vale a pena ter pena da gente a quem isso acontece.

Sou vadio e pedinte a valer, isto é, no sentido translato,
E estou-me rebolando numa grande caridade por mim.

Coitado do Álvaro de Campos!
Tão isolado na vida! Tão deprimido nas sensações!
Coitado dele, enfiado na poltrona da sua melancolia!
Coitado dele, que com lágrimas (autenticas) nos olhos,
Deu hoje, num gesto largo, liberal e moscovita,
Tudo quanto tinha, na algibeira em que tinha pouco
Aquele pobre que não era pobre que tinha olhos tristes por profissão.

Coitado do Álvaro de Campos, com quem ninguém se importa!
Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!

E, sim, coitado dele!
Mais coitado dele que de muitos que são vadios e vadiam,
Que são pedintes e pedem,
Porque a alma humana é um abismo.

Eu é que sei. Coitado dele!
Que bom poder-me revoltar num comício dentro de minha alma!

Mas até nem parvo sou!
Nem tenho a defesa de poder ter opiniões sociais.
Não tenho, mesmo, defesa nenhuma: sou lúcido.

Não me queiram converter a convicção: sou lúcido!

Já disse: sou lúcido.
Nada de estéticas com coração: sou lúcido.
Merda! Sou lúcido.

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Give Praise - Luciano



Eu que me Aguente Comigo

Contudo, contudo,
Também houve gládios e flâmulas de cores
Na Primavera do que sonhei de mim.
Também a esperança
Orvalhou os campos da minha visão involuntária,
Também tive quem também me sorrisse.
Hoje estou como se esse tivesse sido outro.
Quem fui não me lembra senão como uma história apensa.
Quem serei não me interessa, como o futuro do mundo.

Caí pela escada abaixo subitamente,
E até o som de cair era a gargalhada da queda.
Cada degrau era a testemunha importuna e dura
Do ridículo que fiz de mim.

Pobre do que perdeu o lugar oferecido por não ter casaco limpo com que aparecesse,
Mas pobre também do que, sendo rico e nobre,
Perdeu o lugar do amor por não ter casaco bom dentro do desejo.
Sou imparcial como a neve.
Nunca preferi o pobre ao rico,
Como, em mim, nunca preferi nada a nada.

Vi sempre o mundo independentemente de mim.
Por trás disso estavam as minhas sensações vivíssimas,
Mas isso era outro mundo.
Contudo a minha mágoa nunca me fez ver negro o que era cor de laranja.
Acima de tudo o mundo externo!
Eu que me aguente comigo e com os comigos de mim.

Álvaro de Campos