A música e as palavras fazem parte de mim.
Quero ouvir, dividir e respirar música...
e as palavras que dizem, quero-as como pinceladas alegres ou amargas, luminosas ou escuras, quero-as verdadeiras...
Querida vem junto de mim Esta noite quero cantar Uma canção para ti Uma canção sem lágrimas Uma canção ligeira Uma canção de charme O charme das manhãs Envolvidas em bruma Em que valsam coelhos O charme dos pântanos Onde alegres crianças louras Pescam crocodilos
O charme dos prados Que se ceifam no Verão Para podermos rebolar-nos O charme das colheres Que rapam os pratos E a sopa de olhos claros O charme do ovo cozido Que permitiu a Colombo O truque mais luzido O charme das virtudes Que dão ao pecado O gosto do proibido
Podia ter-te cantado Uma canção de carvalho De ulmeiro ou de choupo Uma canção de plátano Uma canção de teca De rimas mais duráveis Mas sem ruído nem alarme Preferi experimentar Esta canção de charme Charme do velho notário Que no estúdio austero Denuncia o falsário
Ou o charme da chuva Escorrendo gotas de ouro Sobre o cobre do leito Charme do teu coração Que vejo junto ao meu Quando penso no bem-estar Ou o charme dos sóis Que giram sempre em volta De horizontes vermelhos E o charme dos dias Apagados da nossa vida Pela goma das noites
As teias que envolvem o quadro escondido pelo tempo são como uma manta de filigrana
No fundo do sótão, por trás de móveis desconjuntados, da bola de basket careca de tantas partidas
A tela esquecida, na penumbra dos dias permanece guardando a história dum tempo, dum espaço...
Não feito o quadro de Dorian Gray, apenas se descascando imperceptível mente, devagar...
No dia em que se fez a mudança de casa, nesse dia ele seria relegado para o fundo do sótão
Esta casa do presente, já muito antiga, não tem nenhuma parede onde ele possa ser pendurado
Nenhum prego, nenhum acessório poderá suster o peso da pintura, as paredes liquefazem-se
Nesta casa a luz faz com que o azul do mar da tela se derrame qual maré pelo chão, pelos quartos
As gaivotas volteando por cima do barco artesanal ouvem-se pelos corredores, ah o calor...
O calor, a brisa do mar não chega para amenizar o torpor , o chão de madeira ferve, a areia queima..
Por dentro de nós passam mundos, passados, presentes e futuros, atropelam-se as noções elementares O vivido, são camadas de vida vivida e em qualquer delas existimos intensamente, nos apaixonamos, nos angustiamos parecendo que só aquele presente existiu, são tantos presentes Camada a camada vamos vivendo a vida vivida, fluindo... O que se vive no presente, é apenas mais uma camada a acrescentar às outras, às que passaram É o momento real, que nos envolve, que nos faz agir e que nos faz pensar no impalpável futuro Ele virá, será presente e de imediato mais uma camada a sobrepor as outras...
A dimensão dos sonhos sonhados, das vontades, dos desejos, do que se imagina no cenário presente
Essa é a única dimensão que não se junta as camadas do tempo, a dimensão da mente
Ela projecta e desenha, pinta, ela representa só para ti, exclusivamente és tu e sonhas para ti
Dentro de nós estão mundos passados, presentes e futuros, atropelam-se as noções elementares
O viver transforma-se numa grande aventura, numa viagem de constantes revelações, materiais, etéreas, whatever, maravilha !
Impossível não querer entender, tudo está a acontecer seguido e ao mesmo tempo.
Lá da Coreia ameaçam mentes loucas e cheias de raiva fazerem explodir o planeta com armamento nuclear...
Nós frustrados com a nossa vida sem futuro melhor, conformamo-nos por estar muito longe de Pyongyang e sorrimos seguros e em paz na nossa merda de realidade...
... mas um mal nunca vem só, para fechar o ciclo da desesperança e do desengano, oiço o matraquear das AK47 em Muxungué e vejo os cidadãos tranquilos viajando de autocarro num suposto país em paz a serem mortos sem compaixão, o dejá vu da guerra civil está aí, real...
A guerra, que aflige com os seus esquadrões o Mundo, É o tipo perfeito do erro da filosofia. A guerra, como tudo humano, quer alterar. Mas a guerra, mais do que tudo, quer alterar e alterar muito E alterar depressa. Mas a guerra inflige a morte. E a morte é o desprezo do Universo por nós. Tendo por consequência a morte, a guerra prova que é falsa. Sendo falsa, prova que é falso todo o querer alterar. Deixemos o universo exterior e os outros homens onde a Natureza os pôs. Tudo é orgulho e inconsciência. Tudo é querer mexer-se, fazer coisas, deixar rasto. Para o coração e o comandante dos esquadrões Regressa aos bocados o universo exterior. A química directa da Natureza Não deixa lugar vago para o pensamento. A humanidade é uma revolta de escravos. A humanidade é um governo usurpado pelo povo. Existe porque usurpou, mas erra porque usurpar é não ter direito. Deixai existir o mundo exterior e a humanidade natural! Paz a todas as coisas pré-humanas, mesmo no homem, Paz à essência inteiramente exterior do Universo!
Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos" Heterónimo de Fernando Pessoa
Como é que se faz um País?
Será que não conseguem os homens ser solidários e deixar de lado a avidez vampírica pelo Poder?
Começo a crer que a tal mudança que diziam ir acontecer a 21 de Dezembro começa a fazer sentido...
Como uma onda de um Tsunami surrealmente enorme ela se vem aproximando desde então...
As relações, as atitudes, a fragilidade de todo o quotidiano, a perenidade de tudo como se o presente fosse o último dia das nossas vidas, egoísmo, futilidade , culto do consumismo pelo consumismo, completamente oco de qualquer fundamento, ou seja, o boçalismo elevado a status dominante da sociedade, a insensibilidade para com o povo de um país riquíssimo que vive no limiar da miséria, a dança dos abutres, o riso das hienas, o cheiro a podre...
Que porra de merda é esta em que se transformou o meu país ?!?!
Obra mal feita, em vez construção responsável e em vez de se plantar para colher no futuro, colhem-se frutos híbridos, doentes no imediato .
O imediato é a religião e para isso o poder a qualquer preço como doutrina!!
A guerra muda tudo, destrói gerações, gasta tempo de vida, é uma merda !!
Tomara que esses senhores pelo menos consigam fazer calar as armas antes que nos desfaçamos em sangue !!
Triste será se um dia a vivermos de novo à base de repolho e carapau, falarmos do país que Moçambique já era antes desta 2ª guerra civil e também falarmos daquele país grandioso em que Moçambique se poderia ter transformado, se os homens tivessem sido menos egoístas, menos cegos, menos orgulhosos, menos burros neste momento!!!
Façamos uma mistura de liberdade, ganância, tesouros naturais, egoísmo, tesão de ditadura, deslumbramento, ódios, sentimentos de injustiça, desespero, pobreza extrema, sem vergonhiçe, muito dinheiro, etc, deitemos esses ingredientes voláteis num oceano de bom senso e os deixemos esfriar.
Verificaremos que depois de frios estes ingredientes não têm mais poder para nos fazer enlouquecer a ponto de começarmo-nos a matar uns aos outros, entre irmãos; acordaremos como se tivéssemos estado a viver um pesadelo, tenho a certeza.
Consertemos as nossas almas, resgatemos a nossa essência de povo e falemos das coisas que nos separam chamando os bois pelos seus nomes !!!
Não subestimemos estes sinais, este aviso de Muxungué é um sinal muito forte.
Basta de impunidade, basta de se pensar que alguns têm mais direitos do que a maioria, sejamos honestos e construamos a paz, a felicidade e o desenvolvimento deste País na base da verdade e do trabalho abnegado em prol de todos...
Parem esta palhaçada que já está a trazer de novo o luto provocado pelo ódio !!
Buddha me ilumine, me dê força e lucidez, rogo do fundo da alma... Buddha me acalme o sobressalto no peito, meu coração sai do lugar e chega à boca Buddha onde estás ? Buddha dá um mirada neste teu devoto admirador, por favor !!! Buddha me dá só um pouco de paz que estou a morrer por dentro... Buddha , estou tão cansado desta travessia do deserto, exausto ... Buddha, não sei mais como buscar alento, me ajuda ou me dá ao menos a coragem para desistir... Om mani padme hum
“A esse que é tolerante para com os intolerantes, doce para com os violentos, desapegado de tudo para com os apegados a tudo - a esse eu chamo de sábio.
A esse que nada mais espera neste mundo, nem em um outro mundo, que é a tudo insensível, de tudo desprendido - a esse eu chamo de sábio.
A esse que, não tendo mais ligações com os homens, superou aquelas que poderia ter com os deuses, que é completamente desprendido de tudo - a esse eu chamo de sábio.”
Buddha
“Não é sobre as faltas alheias que devemos fixar a atenção, mas sobre o que nós mesmos deixamos de fazer.
Fácil é ver a falta do próximo; difícil, a nossa própria. A dos outros, damos o maior relevo possível; a nossa, ao contrário, dissimulamos, como o trapaceiro esconde seus dados falsos. Que te pode interessar que outrem seja ou não culpado?
Vem, amigo, e olha o teu próprio caminho!
Que, pouco a pouco, sem se cansar, o sábio sopre sobre as impurezas de tua alma, como o ourives sopra sobre as partículas de prata.
Pela atividade viril, pelo esforço vigilante, pela paz da alma e pelo domínio sobre si mesmo, o sábio pode fazer uma ilha que não submerge nas ondas.
Calmo é o seu espírito, calma a sua palavra, calma a sua maneira de agir.
Quando um homem, que não é crédulo, mas que conhece o Incriado (o Nirvana) , rompe assim suas amarras e diz adeus aos prazeres, torna-se o mais eminente dos mortais.”