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quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Amor & Ódio




                                  AMOR








 



                                  

A luz no paraíso é feita de azuis, desbotam o mar em tons de aguarela
Feito de carinho e doçura o amor se transforma em sublime existir
O tacto é transparente e as almas se enroscam num sufocado abraço terno
Nas miríades de luz e amor, a dor se desvanece em certezas de alegria e rejubilo
Conchas e búzios alaranjados, roxos e brancos imaculados enfeitam as areias virgens
Amar dando como que brotando de dentro o nosso melhor, até mesmo o melhor que não sabíamos ter
A pele de cobre se torra e transforma-se em café escuro e o sorriso estampado de branco se ilumina
O mar presente é sublime na sua quietude, um mar desfeito pelas ilhas, rendido, acaricia, belíssimo!




                                             
  ÓDIO
                                     


                                 











                             


Nas matas flutuam os espíritos de muitas dezenas de meninos desta nação em pânico...
As balas ceifam os jovens que mereciam ter vivido as suas vidas, os seus sonhos
Nas matas do meu país os  irmãos como quizumbas enfeitiçadas focinham no próprio sangue ...
Ah... as mães não sabem que os seus filhos já morreram, as mães estão amordaçadas na própria dor
Elas não choram por saber dos filhos mortos, choram sim por não saber se os filhos ainda vivem...
Nas matas da minha amada terra a maldição se mantém, a paz foi envenenada ou enfeitiçada
Nós filhos e avós, juntos temos de lutar e pedir aos muzimos que nos ajudem a quebrar o mal
As matas precisam ser purificadas e de campo de morte se transformar em campos de cultivo
Nós os filhos da nossa terra queremos que a vida seja o nosso bem mais precioso, incondicionalmente!! 




   







segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Espelho líquido ...















Como será estar do outro lado do espelho?
Como será quando passarmos para a dimensão do não existir materialmente?
Continuar a existir  espiritualmente do outro lado do espelho é uma incógnita mas  também  uma esperança ...
Essa única certeza basilar de que temos prazo nos  deixa putos da vida e infelizmente ninguém voltou para contar como é ...
Não sabemos se como um fósforo que se apaga definitivamente nós também simplesmente terminaremos .








Os Livros Sagrados todos  têm explicações que não me convenceram nunca  e só basta mesmo é sossegar o facho.
Sossegar e viver o dia a dia em sintonia em harmonia com todos os elementos, em harmonia com a natureza.
Uma forma de nirvana essa de deixar de questionar o inquestionável e usufruir da vida sem a julgar,  sem dela nada cobrar , sem a colocar dentro de estereótipos.









Ah !!!
A curiosidade de saber como é do outro lado do espelho é desmedida...
O facto de termos esta capacidade inata de perceber o quanto nada sabemos, dá um certo sentido às nossas vidinhas ...
Se questionamos é porque fomos feitos para questionar e então não faz sentido não haver uma réstia de esperança em relação a possíveis revelações fantásticas..
Pago para ver e estou expectante em relação ao outro lado do espelho...








Tudo isto porque já me cansa esta existência tão previsível e toda engendrada na base do domínio dos mais fortes sobre os mais fracos.
Que merda termos de lutar numa luta desigual, sem saber se nessa luta outros factores inesperados não serão também introduzidos para a tornar ainda mais difícil !!!
Somos pó das estrelas, somos talvez aliens que invadiram este planeta, somos sei lá o quê...
Celebrar a vida é sem dúvida a única escolha que faz sentido e quando chegar a hora da passagem para o outro lado do espelho tudo se esclarecerá .









quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Pessoa - song by Elbow





Sou Lúcido


Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa
Aquele homem mal vestido, pedinte por profissão que se lhe vê na cara,
Que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele;
E reciprocamente, num gesto largo, transbordante, dei-lhe tudo quanto tinha
(Excepto, naturalmente, o que estava na algibeira onde trago mais dinheiro:
Não sou parvo nem romancista russo, aplicado,
E romantismo, sim, mas devagar...).

Sinto uma simpatia por essa gente toda,
Sobretudo quando não merece simpatia.
Sim, eu sou também vadio e pedinte,
E sou-o também por minha culpa.
Ser vadio e pedinte não é ser vadio e pedinte:
É estar ao lado da escala social,
É não ser adaptável às normas da vida,
'As normas reais ou sentimentais da vida -
Não ser Juiz do Supremo, empregado certo, prostituta,
Não ser pobre a valer, operário explorado,
Não ser doente de uma doença incurável,
Não ser sedento da justiça, ou capitão de cavalaria,
Não ser, enfim, aquelas pessoas sociais dos novelistas
Que se fartam de letras porque tem razão para chorar lagrimas,
E se revoltam contra a vida social porque tem razão para isso supor.

Não: tudo menos ter razão!
Tudo menos importar-se com a humanidade!
Tudo menos ceder ao humanitarismo!
De que serve uma sensação se ha uma razão exterior a ela?

Sim, ser vadio e pedinte, como eu sou,
Não é ser vadio e pedinte, o que é corrente:
É ser isolado na alma, e isso é que é ser vadio,
É ter que pedir aos dias que passem, e nos deixem, e isso é que é ser pedinte.

Tudo o mais é estúpido como um Dostoiewski ou um Gorki.
Tudo o mais é ter fome ou não ter o que vestir.
E, mesmo que isso aconteça, isso acontece a tanta gente
Que nem vale a pena ter pena da gente a quem isso acontece.

Sou vadio e pedinte a valer, isto é, no sentido translato,
E estou-me rebolando numa grande caridade por mim.

Coitado do Álvaro de Campos!
Tão isolado na vida! Tão deprimido nas sensações!
Coitado dele, enfiado na poltrona da sua melancolia!
Coitado dele, que com lágrimas (autenticas) nos olhos,
Deu hoje, num gesto largo, liberal e moscovita,
Tudo quanto tinha, na algibeira em que tinha pouco
Aquele pobre que não era pobre que tinha olhos tristes por profissão.

Coitado do Álvaro de Campos, com quem ninguém se importa!
Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!

E, sim, coitado dele!
Mais coitado dele que de muitos que são vadios e vadiam,
Que são pedintes e pedem,
Porque a alma humana é um abismo.

Eu é que sei. Coitado dele!
Que bom poder-me revoltar num comício dentro de minha alma!

Mas até nem parvo sou!
Nem tenho a defesa de poder ter opiniões sociais.
Não tenho, mesmo, defesa nenhuma: sou lúcido.

Não me queiram converter a convicção: sou lúcido!

Já disse: sou lúcido.
Nada de estéticas com coração: sou lúcido.
Merda! Sou lúcido.

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa