
Constatar, assim mesmo...
Ficar lúcido com delay, assim como não querendo tipo um tingir liquido de azuis, depois azul mais escuro e de novo os azuis mais claros, agora a clarearem até tudo ficar alvo, branco, límpido...cheio de luz!
never ending history...
as portas da percepção atravessadas sem surpresa...
o nirvana particular aprofundado num só átomo, mais suculento, os caminhos opostos se aproximando em Zen , sossegando...
Nenhum ser nos foi concedido. Correnteza apenas
Somos, fluindo de forma em forma docilmente:
Movidos pela sede do ser atravessamos
O dia, a noite, a gruta e a catedral
Assim sem descanso as enchemos uma a uma
E nenhuma nos é o lar, a ventura, a tormenta,
Ora caminhamos sempre, ora somos sempre o visitante,
A nós não chama o campo, o arado, a nós não cresce o pão
Não sabemos o que de nós quer Deus
Que, barro em suas mãos, connosco brinca,
Barro mudo e moldável que não ri nem chora,
Barro amassado que nunca coze
Ser enfim como a pedra sólido! Durar uma vez!
Eternamente vivo é este o nosso anseio
Que medroso arrepio permanece apesar de eterno
E nunca será o repouso no caminho
Hermann Hesse
Tudo se me evapora.
A minha vida inteira, as minhas recordações, a minha imaginação e o que contém, a minha personalidade, tudo se me evapora.
Continuamente sinto que fui outro, que pensei outro. Aquilo a que assisto é um espectáculo com outro cenário.
E aquilo a que assisto sou eu.
Encontro às vezes, na confusão vulgar das minhas gavetas literárias, papéis escritos por mim há dez anos, há quinze anos, há mais anos talvez. E muitos deles me parecem de um estranho; desconheço-me deles.
Houve quem os escrevesse, e fui eu.
Senti-os eu, mas foi como em outra vida, de que houvesse agora despertado como de um sono alheio.
Fernando Pessoa