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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Pertencer ao não espaço









                                                 A ponte de Heráclito - René Magritte, 1935






















Não pertenço a lado nenhum,
não pertenço lá, não pertenço cá
Nasci lá, cresci lá, no tempo em que
o que era lá, era aqui também
Lá era uma parte daqui,
mas não era aqui,
era uma mistura do que era lá
com o que chegava daqui
No fim da mistura, lá, sobrou só o lá
e eu não sou só de lá,
eu não sinto só o lá,
então vim para aqui, onde nunca houve mistura
onde falta o lá, aqui, só está o aqui
Também não sinto o aqui,
nunca pertenci só aqui, também sou de lá
Será que sou sem lugar?
Será que alguém pertence a algum lugar
ou é tudo uma questão da argila de que somos feitos?
Será que temos uma ideia errada do que é ser?
Ser é o quê afinal?












Nasci lá sob o regime daqui,
cresci e fiz-me homem,
o regime acabou, lá e aqui
A realidade lá, transformou-se numa coisa,
que não tem nada a ver com o que fui,
nem com o que sou
Cansei-me e vim ver o outro lado,
o aqui, onde tudo começou,
e o aqui, também não tem nada a ver comigo,
é só o aqui, não tem nada de lá, nunca teve
Quando éramos lá e aqui,
inseridos numa realidade diferente,
éramos uma mistura e nela fiz-me este que sou,
diferente dos de lá e dos de aqui
Hoje nem sou lá nem sou aqui, sou o quê então?





sexta-feira, 27 de junho de 2014

O suicídio das borboletas - music by Lenny Kravitz



















Um dia levantar-se-ão ventos tépidos e acariciantes e as borboletas rodopiarão pelo salão.
Como cores de aguarela dançarão pelo chão de pólen enquanto vozes em surdina chorarão seus sonhos perdidos em tons dos blues dos despojados...
Os aromas das várias flores levitarão e as borboletas se embriagarão, perdidas de tesão beijarão os espelhos.
Arrancarão depois as asas e sem cor cairão extenuadas, olhando ajoelhadas o reflexo decrépito do corpo nu de lagarta desmembrada









Pestanas longas ocultam o olho visionário, o olho de água e fogo que vê para além do sol e para além do purgatório.
Por trás deste olho um crânio de ideais falhados e sonhos esburacados.
Por dentro daquele sujeito amores felizes e paixões intensas se levantaram como ténues correntes dum qualquer calmo oceano, e tudo arrastaram para as areias desertas de uma qualquer ilha perdida.
Náufrago numa terra de borboletas exóticas, viverá como adestrador de casulos, orquestrador e circense, inventará a valsa dos insectos suicidas.







Enquanto a incúria, o boçalismo, a arrogância, a cobiça e tantos outros podres permanecerem, o destino de nós todos será o de permanecermos escravos, apáticos, conformados, medíocres, pobres ou então teremos de acordar e lutar pela nossa dignidade.

 Temos de ter tomates, deixar o conforto da cobardia  e dizer BASTA !!!  





   

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Amor & Ódio




                                  AMOR








 



                                  

A luz no paraíso é feita de azuis, desbotam o mar em tons de aguarela
Feito de carinho e doçura o amor se transforma em sublime existir
O tacto é transparente e as almas se enroscam num sufocado abraço terno
Nas miríades de luz e amor, a dor se desvanece em certezas de alegria e rejubilo
Conchas e búzios alaranjados, roxos e brancos imaculados enfeitam as areias virgens
Amar dando como que brotando de dentro o nosso melhor, até mesmo o melhor que não sabíamos ter
A pele de cobre se torra e transforma-se em café escuro e o sorriso estampado de branco se ilumina
O mar presente é sublime na sua quietude, um mar desfeito pelas ilhas, rendido, acaricia, belíssimo!




                                             
  ÓDIO
                                     


                                 











                             


Nas matas flutuam os espíritos de muitas dezenas de meninos desta nação em pânico...
As balas ceifam os jovens que mereciam ter vivido as suas vidas, os seus sonhos
Nas matas do meu país os  irmãos como quizumbas enfeitiçadas focinham no próprio sangue ...
Ah... as mães não sabem que os seus filhos já morreram, as mães estão amordaçadas na própria dor
Elas não choram por saber dos filhos mortos, choram sim por não saber se os filhos ainda vivem...
Nas matas da minha amada terra a maldição se mantém, a paz foi envenenada ou enfeitiçada
Nós filhos e avós, juntos temos de lutar e pedir aos muzimos que nos ajudem a quebrar o mal
As matas precisam ser purificadas e de campo de morte se transformar em campos de cultivo
Nós os filhos da nossa terra queremos que a vida seja o nosso bem mais precioso, incondicionalmente!! 




   







sábado, 12 de novembro de 2011

Amar - song by Lenny Kravitz

 
                                                           




                                               Amar Intensamente


De que vale no mundo ser-se inteligente, ser-se artista, ser-se alguém, quando a felicidade é tão simples! Ela existe mais nos seres claros, simples, compreensíveis e por isso a tua noiva de dantes, vale talvez bem mais que a tua noiva de agora, apesar dos versos e de tudo o mais. Ela não seria exigente, eu sou-o muitíssimo. Preciso de toda a vida, de toda a alma, de todos os pensamentos do homem que me tiver. Preciso que ele viva mais da minha vida que da vida dele. Preciso que ele me compreenda, que me adivinhe. A não ser assim, sou criatura para esquecer com a maior das friezas, das crueldades. Eu tenho já feito sofrer tanto! Tenho sido tão má! Tenho feito mal sem me importar porque quando não gosto, sou como as estátuas que são de mármore e não sentem.


Florbela Espanca, in "Correspondência (1920)"




                  Amar!



Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar!  Amar!  E não amar ninguém!


Recordar?  Esquecer?  Indiferente!...
Prender ou desprender?  É mal?  É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!


Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!


E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...


Florbela Espanca