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segunda-feira, 17 de junho de 2013

Vale sempre a pena... - reggae music

                         







                                        






                                                                                          

Quem se lembra do filme de culto de 1978,  Midnight  Express?
A história do jovem  turista que é apanhado no momento do embarque em Istambul com algumas barras de haxixe e é fechado  numa cadeia infernal, prisão que o leva quase à loucura....















Já preso há muitos anos é transferido para uma cadeia - hospício e ai a loucura fica por um fio...
A dada altura e contrariando a rotina diária de todos os loucos, a de caminharem ininterruptamente em círculos e num último rasgo de lucidez, o jovem endoidecido vira-se e começa a caminhar em sentido contrário , contra a turba de loucos agitados pela quebra daquele ritual.
A confusão que se gerou salva-o, desperta do pesadelo em que aquela provação o fizera cair, reage  e das profundezas escuras do desespero, num último sopro, puro instinto de sobrevivência,  acorda do coma, regressa à vida !!















A lembrança deste filme é como um grito de basta, ele percebe que mais uma vez tem de encerrar outro capítulo da sua vida.
Tem que ir por caminhos diferentes, mudar as regras, contrariar o estabelecido, buscar outras energias e não perder mais tempo, lá fora a vida urge.  

Perceber o que nos faz mal é demorado mas sempre  chega...
Ele não sabe o que vai fazer, não tem planos, mas vai sair por aí e algo acontecerá , seja o que for será melhor que a rotina, essa rotina vegetal em que vivia pensando, amorfo, reflectindo, isolado do mundo e da vida...
O sol brilha e as crianças brincam, as pessoas falam alto, ouvem-se gargalhadas, tantas vidas e tantos problemas, então para quê lamentar ?














 

Cântico negro




"Vem por aqui!" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

José Régio















http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Expresso_da_Meia-Noite