quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O sabor do fel & Jack Johnson









                                                                           Manuel Bandeira




Pergunto à noite serena o porquê desta cabra da angústia não deixar de  me perseguir e sei de antemão que ela não me vai responder , pois eu sei que ela a noite é má conselheira.
Minh' alma sobressaltada, agoniada, farta destes sentires é um farrapo pisado no chão, estou de novo envelhecidamente cansado.
Onde buscar forças ? Onde?
 Estou farto desta angustia azeda  que transforma o sabor dos dias e das noites num gosto amargo de fel...
Prisioneiro sim, sou prisioneiro nesta prisão dos sentimentos sofridos !
Que agonia, acho que vou vomitar...
Só me resta vomitar e postar estes 3 versos do Manuel Bandeira  ele sim, desarmava a angustia e a transformava em peças de arte.







                                                 I

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.

A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.      









                                                        

                                                 II

Eu faço versos como quem chora

De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
Eu faço versos como quem morre.






                                                    III


Chora de manso e no íntimo... Procura curtir sem queixa o mal que te crucifica:
O mundo é sem piedade e até riria
Da tua inconsolável amargura.
Só a dor enobrece e é grande e é pura.
Aprende a amá-la que a amarás um dia.
Então ela será tua alegria,
E será, ela só, tua ventura...
A vida é vã como a sombra que passa...
Sofre sereno e de alma sobranceira,
Sem um grito sequer, tua desgraça.
Encerra em ti tua tristeza inteira.
E pede humildemente a Deus que a faça 
Tua doce e constante companheira...






domingo, 15 de setembro de 2013

Nocturnos insones & Charlie Chaplin ...







                               Catedral de Maputo -  foto de Carlos Afonso








Já perdoei erros quase imperdoáveis,

tentei substituir pessoas insubstituíveis
e esquecer pessoas inesquecíveis. 
Já fiz coisas por impulso,
já me decepcionei com pessoas quando nunca pensei me decepcionar, mas também decepcionei alguém. 
Já abracei pra proteger,
já dei risada quando não podia,
fiz amigos eternos,
amei e fui amado,
mas também já fui rejeitado,
fui amado e não amei.





Já gritei e pulei de tanta felicidade,
já vivi de amor e fiz juras eternas,
"quebrei a cara muitas vezes"! 
Já chorei ouvindo música e vendo fotos,
já liguei só para escutar uma voz,
me apaixonei por um sorriso,
já pensei que fosse morrer de tanta saudade
e tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo). 








Mas vivi, e ainda vivo!

Não passo pela vida…
E você também não deveria passar! 
Viva!
Bom mesmo é ir à luta com determinação,
abraçar a vida com paixão,
perder com classe
e vencer com ousadia,
porque o mundo pertence a quem se atreve

e a vida é "muito" pra ser insignificante.
Poema da noite Charlie Chaplin