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quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O doce veneno da melancolia...








                                  












Nada! 

Horas e horas neste ponto morto 
Onde caiu agora a minha vida... 
Nem um desejo, ao menos! 
Só instintos pequenos: 
Apetite de cama e de comida! 

Nem sequer ler um livro 
Ou conversar comigo, discutir... 
Nada! 
Neutro, morno, a dormir 
Com a carne acordada. 

Miguel Torga












O prazer profundo, inefável, que é andar por estes campos desertos e varridos pela ventania, subir uma encosta difícil e olhar lá de cima a paisagem negra, escalvada, despir a camisa para sentir directamente na pele a agitação furiosa do ar, e depois compreender que não se pode fazer mais nada, as ervas secas, rente ao chão, estremecem, as nuvens roçam por um instante os cumes dos montes e afastam-se em direcção ao mar, e o espírito entra numa espécie de transe, cresce, dilata-se, não tarda que estale de felicidade.
Que mais resta, então, senão chorar? 


José Saramago















Dei-te os dias, as horas e os minutos 
Destes anos de vida que passaram; 
Nos meus versos ficaram 
Imagens que são máscaras anónimas 
Do teu rosto proibido; 
A fome insatisfeita que senti 
Era de ti, 
Fome do instinto que não foi ouvido. 

Agora retrocedo, leio os versos, 
Conto as desilusões no rol do coração, 
Recordo o pesadelo dos desejos, 
Olho o deserto humano desolado, 
E pergunto porquê, por que razão 
Nas dunas do teu peito o vento passa 
Sem tropeçar na graça 
Do mais leve sinal da minha mão... 

Miguel Torga













Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida, eu vou te amar
Em cada despedida, eu vou te amar
Desesperadamente
Eu sei que vou te amar

E cada verso meu será
Pra te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida

Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua, eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta tua ausência me causou

Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
À espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida

Vinicius de Moraes






terça-feira, 12 de junho de 2012

Estilhaçado





                               




O chão fugiu, num piscar de olhos o sol emudeceu...
Como chuva caindo muita, também seu sol se esvaiu pelo chão e tudo a terra sugou...
A festa que parecia a celebração perfeita da vida terminou e ficou ele de novo dançando sozinho.
Sozinho com seus ais e seus fantasmas hilariantes, com sua estupefacção aos caprichos do improvável...








O caminho como diz seu velho amigo começa a ficar mais claro, o processo se desenrolando...
 A sabedoria da dor é pungente e apunhala, fere trespassa as lágrimas e nem chorar consegue, queda-se acocorado, à  mercê do acaso...










O fascínio é lhe proibido, apenas poderá passear seu olhar pelo oxigénio do sentir, sem ele sorrindo a certeza do definhar é vera e caótica.
Uma vontade de pranto o acomete e quase com prazer anseia o momento em que explodirá por dentro, em que os cacos do tesouro se espalharão feito cinzas ...
Fragmentos irreais do que era o seu sol, miríade de  uma luz que se extingue.









 Inconformado e vivo geme, teme pelo que virá, não quer imaginar o vazio do que parecia pleno se transformando num holograma, em mais um ente etéreo lhe atazanando o sentir, quebrando de novo, estilhaçando...
Quebrando irremediavelmente  tudo !!!