
O tempo escorre qual água incessante e infinita que cascateia ravina abaixo, se perdendo nos destinos caminhos, sugada pela terra, evaporando-se sem sentido no éter ou viajando, exibindo sua cristalinidade aos céus sequiosos...
Passa e não deixa sinais, segue e nos surpreende sempre, ora porque passou demasiado rápido ou porque simplesmente resolveu parar nos deixando desesperados...
Passageiros nesta nave corpórea seguimos ignorantes e meio apreensivos, constatando a velocidade a aumentar, velocidade que o tempo a si impõe , que a si injecta, junkie de chegar a algum lugar a nós não comunicado...
Nessa estrada alucinante , a vertiginosa velocidade do tempo carrega em suas entranhas tempos mais lentos que espreitam impotentes o tempo se esvaindo, não deixando hipótese alguma de um sorriso curativo, apaziguador, poder permanecer.
O tempo dum beijo canibal, longo de prazer absoluto demora uma ano-luz e alguns segundos até que um mosquito indiscreto numa frase inapropriada transforma o êxtase numa lágrima de sangue vermelho, vivo, e o relógio do tempo inverte o sentido dos ponteiros e instantaneamente a dor se pronuncia, a pele da alma se empola e a borbulhinha fica e dura o tempo que o tempo quiser...
O tempo vira temporal, o temporal muda o tempo quente em tempo chuvoso que dura o tempo que tiver que durar...
Porque o tempo passa e não nos avisa que está passando rápido ou que não está querendo passar?
Como poderemos medir a velocidade com que o tempo passa por nossas vidas?
Gosto da velocidade do piscar dos olhos, é perfeita, não interfere com o que vemos, não interfere com as lágrimas nem com os sorrisos que nos habitam, enquanto que o outro tempo, é revelador e nos deixa sempre frustrados, ora passa rápido quando o queríamos parado para continuar a felicidade daquele momento ou pára, quando o que queremos é fugir de alguma mágoa que nos apunhala...