A música e as palavras fazem parte de mim.
Quero ouvir, dividir e respirar música...
e as palavras que dizem, quero-as como pinceladas alegres ou amargas, luminosas ou escuras, quero-as verdadeiras...
Outono uma folha amarelada tomba no ombro resvala para o chão um tapete de frutos podres folhas e o cheiro da terra O sol sorri ainda de peito alçado o calor finge que ainda não se recolheu no coração que bate feito savana a planície vibra e irradia
No Outono o sol vermelho tinge o pensamento o aceno ao sul e às monções é instintivo Parto o cálice da fantasia e inspiro o cair da tarde com amor e gáudio Outono a noite nítida erigirá altares e cantaremos à neblina e aos nevoeiros Afinal não é a beleza a mais perfeita invenção dos olhos da alma?
Outono quando as luzes se acendem como numa paleta de cores misturam-se à luz do dia encenam então oscilações laranja pálido a desbotar e nós poderemos dançar a queda das folhas ou encurvar os ombros e continuar...
Outono
Pássaros há que solfejam as rimas do acasalamento ninhos mais quentes, tempos de menos comer Alegremo-nos tem pássaros que fogem do frio do norte o canto noturno do rouxinol no silêncio perfeito da noite a beleza do canto desdiz o mito do calor da savana mais a sul Outono
Gastam a energia e o pouco dinheiro fingindo que são sérios e dançamos todos comemos e o carnaval é longo e oco Como uma onda revolta as pessoas fluem de lá para cá e de cá para lá, aos gritos, excitados como as crianças quando no circo os palhaços e os malabaristas os levam ao êxtase
Aqui o êxtase é feito de conspirações, promessas inverosímeis
as velhas trapaças com marionetes ainda funcionam
e o povo exulta, corre pelo areal, vai à loucura!
Do mais lerdo ao mais iluminado parece que todos se prontificaram a assistir ao espetáculo sem guião,
o show de improviso onde rabiscos são traçados
neste bafiento esboço mal feito,
Com pés de barro eles querem ser endeusados, nus, vocês acreditam? Tudo que começa mal normalmente acaba mal ou então mal continuará até ao fim dos dias À forma como temos sido tratados desde o inicio,
juntemos como num bolo o fermento destes últimos dias
feito de raiva, ódio, egoísmo e brutalidade e fiquemos à espera que ele faça crescer a justiça
Esperarão em vão, como foi possível acreditarem?
Santa ingenuidade ou hipocrisia?
Não, não, os próximos dias serão amargos, quero eu que no fim, quando tudo tiver terminado, que o caminho seja outro que não este tão sofrido Que a luz rompa definitivamente os corações endurecidos
ou que nós rompamos com os corações endurecidos e consigamos para nós o trato a que temos direito Poderemos então olharmo-nos ao espelho e sorrir
sem vergonha e com a dignidade conquistada
com a coragem que se adquire quando a injustiça, a subjugação e a mortal indignação nos são infligidas durante anos Não vai ser um parto fácil não, mas a criança vai nascer!
Sonhar é só o que me sobra, mesmo
sem saber o que será depois, sonho o fim da infâmia!
O amor em palavras mil vezes dito e desdito quando sentido por dentro do poema chora sorrindo levanta as mãos aos céus onde no firmamento cisca numa estrela o momento A palavra amor e o amor se entrelaçaram são um só o abraço também acontece nos corações que batem em uníssono graves na pulsão do sangue nos sentidos
Amor num mar sereno de marés vivas
mãos dadas telepáticas a palavra calada
sem promessas nem juras
ficam os olhos da alma no céu o suspiro mais profundo