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segunda-feira, 25 de junho de 2012

Parabéns Moçambique !!





                        

                                             Samora Machel proclamando a Independência de Moçambique



        25 de Junho de 1975, estava lá no estádio da Machava, esperamos à chuva, agrupados ao estilo russo por Grupo Dinamizadores dos Bairros e a chuva a cair miúda, sem parar…
depois já dentro do Estádio vi os recém chegados  ilustres filhos da Pátria, a figura daqueles que na mata tinham lutado para que chegássemos aquele 
momento solene…
ouvimos a voz carismática de Samora Machel a proclamar a nossa Independência …
a bandeira de Portugal foi arriada e em êxtase hasteamos todos a nossa primeira bandeira, a de Nação Soberana, 
da República Popular de Moçambique, a nação nascia marxista -leninista !!!
Muita coisa aconteceu e escrevemos a nossa história recente com sangue e com determinação.





Hoje somos mais maduros, temos mais tranquilidade para pensar e tomar decisões e somos a República de Moçambique, nação jovem, terra prometida para muitos, nossa terra onde ainda esperamos que seja  profícua para os seus filhos…
Manancial de possibilidades para o mundo inteiro mas ainda muito aquém do bem que poderia gerar na vida dos moçambicanos…

Como diz o Mia Couto, existem muitos enriquecidos quando precisávamos sim era de ricos, geradores de riqueza, ricos por trabalho realizado, ricos que contribuem  na criação de empregos, que constroem obra visível e com pertinência para o desenvolvimento do país, etc... 





Vivi isso com os meus 17 anos e nesse momento inesquecível, como numa viagem psicadélica, sonhei a minha pátria essa pátria aqui evocada no poema de  José Craveirinha, o nosso poeta-mor !!!!



SIA-VUMA 

Enquanto
instintivas andorinhas
incansáveis fulgem as asas 
contra a taciturna saca azul
engomada a pulso sobre nós
com alcunha portuguesa de céu
suburbaninhos largam-se à mecha dos pneus à mão
ou pilotos analfabetizados mesmo assim guiam
à pata os friendships de caixote
SIA-VUMA!

E o nosso amor de homens
descerra os olhos ao nu mais feminino
de um par de pernas nacionais abertas
na insolação viril do xigubo
SIA-VUMA!

E noivas
cingem aos rins
a vertigem púrpura das capulanas
e reprimem nos bantos corações
uma a uma as missangas da tristeza
e talham a dente a xicatauana da paciência
que o tempo de amar não se extingue
e na espera o longo sono excessivo
do mais verdadeiro amor também compensa
alucinante visão de um novo horizonte
SIA-VUMA!

E carnudos
gomos de lábios escarlates de virgindade
nas nossas pálpebras
boca e músculos tlhatlhuvem a verdade
da coacta insónia do zampungana
SIA-VUMA!

E não mais o lovolo
e a estiva de manhã à noite
sem o gozo comum dos sexos
e coxas delas penetradas
a invencíveis machos de liberdade
SIA-VUMA!

E as maxilas
das fêmeas a tin-gomas de desejo
que nos mordam a carne no delírio
indelével dos dentes
e fembem-nos o torso e os punhos
à lei dos tintlholos irados
contra as maiúsculas das letras
e algarismos nas blusas de contratados
SIA-VUMA!

E o comboio dos magaízas
será transporte escolar dos meninos da linha
e os compondes celeiros do nosso milho
SIA-VUMA!

E um círculo de braços
negros, amarelos, castanhos e brancos
aos uivos da quizumba lançada ao mar
num amplexo a electrogéneo
apertará o imbondeiro sagrado de Moçambique
à música das timbilas
violas, transístores e xipendanas
SIA-VUMA

E dançaremos o mesmo tempo da marrabenta
sem a espera do calcanhar da besta
do medo a cavalo em nós
SIA-VUMA!

E seremos viajantes por conta própria
jornalistas, operários com filhas também dançarinas de ballet
arquitectos, poetas com poemas publicados
compositores e campeões olímpicos
SIA-VUMA!

E construiremos escolas
hospitais e maternidades ao preço
de serem de graça para todos
e estaleiros, fábricas, universidades
pontes, jardins, teatros e bibliotecas
SIA-VUMA!

E guiaremos as nossas charruas
editaremos os nossos livros
semearemos de arroz os nossos campos
sintonizaremos a voz dos nossos emissores
e bateremos também o crawl nas piscinas
SIA-VUMA!

E ergueremos estátuas aos nossos técnicos
estâncias para os nossos velhos
estádios para os nossos jovens
e represas alegóricas ao pai
à mãe e ao filho não evocados nas maldições
infinitas que devastaram a África
SIA-VUMA!

E distribuiremos amuletos de aritmética
e invocaremos o exorcismo dos altos-fornos
a antropologia cultural de um changana
a uma virgem maconde moçambicanamente
e a lógica diesel das geradoras na Manhiça
SIA-VUMA!

E armados de martelo e chaves-de-boca
montaremos água canalizada no Xipamanine todo
desviaremos o machimbombo 7 para a Polana
e o machimbombo 2 da Polana para o Alto-Maé
e controlaremos a lavra de quilovátios todos os dias
semeando amperes no Chamanculo inteiro
SIA-VUMA!

E inocularemos
e nós para o mundo a vacina
contra os vírus suásticos
e pendurada exibiremos ao povo dos belos bairros
a relíquia fóssil da gengiva de nojo
dos que traírem o folclore deste poema
SIA-VUMA!

E à propaganda deste abecedário
inoxidáveis ao medo
levantemo-nos ao acetileno das palavras
insurrectos em massa
SIA-VUMA!

E deixem em nós gerar-se
irresistível a prole das sementes do beijo
consanguíneo do Grande Dia
SIA-VUMA!

Que um enxame de mãos em prece
na orgia fantástica dos augúrios do nhanga
há-de voltar deste exílio
mais moçambicano connosco
SIA-VUMA!


Passaram 37 anos e eu queria que o meu País fosse mais justo e que o objectivo de vida vigente, que é o de atingir a riqueza a qualquer preço, fosse substituído pelo nascer de uma consciência nacionalista  e que nos preocupássemos mais em desenvolver os valores humanos e no ensinamento do sentido profundo do  significado da pátria…









Queria também que aqueles que traçam o nosso futuro, não perdessem completamente o sentido da realidade e que conseguissem perceber o caminho por onde estão a levar um povo inteiro…
Que reflectissem  com sentimento e com respeito…
O meu sonho de pátria mantém-se intacto e sei que encontraremos o nosso caminho, que as ervas daninhas serão arrancadas pela raiz e que definitivamente trilharemos esse almejado caminho do desenvolvimento, da justiça, da verdade…












Sou feliz por ter nascido aqui e por pertencer a este povo humilde, alegre, generoso e trabalhador…
Parabéns Moçambique, parabéns por termos conseguido nos mantermos e em paz, apesar dos pesares…
Aos trancos e barrancos vamos  crescendo e  vamos nos acertando…















sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O Meu Herói Eduardo Mondlane



                                               20/06/1920 - 03/02/1969















Feriado longo, todo mundo usufruindo dos 3 dias, nas praias, de visita a outros lugares ou simplesmente curtindo o sossego da casa sem horários para cumprir, todos gozando o 3 de Fevereiro.

O dia em que se comemora a passagem dos 43 anos sobre o assassinato de Eduardo Chivambo Mondlane, o pai da pátria moçambicana !!
Este intelectual, self made man, professor de história e sociologia na Universidade de Syracuse, New York, investigador nas Nações Unidas, onde estudava as razões e os acontecimentos que estavam a levar os países africanos a lutar pela Independência.
Foi ele que uniu os movimentos que lutavam pela Independência de Moçambique e que em conjunto fundaram a Frente de Libertação de Moçambique, tendo sido ele nomeado o primeiro Presidente da Frelimo.
Foi assassinado por um encomenda bomba  e nunca se soube quem o matou.





    
                 









Eduardo Mondlane casou com uma cidadã americana com quem teve 3 filhos.

Esta curta biografia é suficiente para se perceber que ele era um homem com uma cultura, educação e uma formação acima da média.
Filho de um chefe tradicional, Mondlane estudou na missão presbiteriana suíça próxima de Manjacaze. Terminou os seus estudos secundários numa escola da mesma igreja na África do Sul e depois de uma curta passagem pela Universidade de Lisboa, foi financiado pelos suíços e foi estudar para os Estados Unidos onde se doutorou em sociologia.

Imaginar este líder a governar este País é um exercício lindo de se fazer.
Os valores, o conhecimento e a inteligência deste democrata nato nos teriam guiado na senda de um Moçambique sério, baseado no fundamento basilar por ele defendido, o de criar condições de vida dignas para os moçambicanos.
Teríamos um sistema de ensino para além do vulgar e ao fim destes 36 anos teríamos moçambicanos formados e com capacidade igual a qualquer cidadão formado nas grandes universidades deste mundo.



                             














A sua visão global, a sua experiência  de vida em várias capitais europeias, a sua permanência por longo tempo nos EUA  a exercer cargos importantes, fariam com que ele nos trouxe-se  ensinamentos  sobre a necessidade de seriedade, nos estudos, no trabalho, na sociedade, em casa e de certeza que hoje seríamos cidadãos dignos e orgulhosos da nossa pátria.
A ambição de ter uma educação e formação equiparada aos outros países era o foco principal, que não se concretizou e hoje somos este país de 3º mundo, corrupto, miserável, mendicante onde os malfeitores governam de forma impune.

Ele foi assassinado e esse propósito enterrado com ele. Tudo o que aconteceu depois desse ato cobarde já todos nós sabemos e continuamos a testemunhar diariamente o quão longe este país está da mística, da classe, do projeto  que envolve o nome deste líder africano único , com uma dimensão tão grande só comparável a de Mandela.
Lamento, mas devo dizer que não entendo porque não se fala, não se divulga a figura exemplar deste moçambicano saído de Manjacaze  que sonhou o seu país, iniciou e liderou a luta de libertação, lutou abnegadamente deixando para traz uma vida e uma carreira promissora nos EUA   e morreu lutando !!!!
Iniciei este post a descrever o feriado e termino dizendo que para a maioria deste povo este dia significa apenas 3 dias de descanso…
Memória curta e ingratidão a de quem governa e não exalta este herói maior e pobreza de formação e de cultura dum povo que não homenageia os seus heróis, não porque seja insensível, mas apenas porque não tem essa educação e porque tem outras prioridades, como por exemplo, a desesperada luta diária para sobreviver à vida dura que a Independência não aliviou nem um bocadinho.