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terça-feira, 6 de maio de 2014

Tarrus no país da cobardia






















Como a tormenta que se não adivinha, a chuva miúda ia borrifando nossos dias com incertezas e apreensões aos magotes  e mesmo assim íamos seguindo nossas vidas...
A morrinha que caía mais nuns dias do que noutros deixou de o ser e rapidamente se está a transformar em  chuva grossa,  a nós só nos resta esperar que não vire uma tempestade destruidora....
O desfecho  é mais que sabido e caminhamos sim para aquilo que nós, a maioria,  não queríamos que acontecesse mas que no intimo de cada um de nós,  sabíamos que iria acontecer, a guerra  ...









Como uma máquina gigante, surreal, que surge no horizonte da ficção cientifica e esmaga tudo à sua passagem ou como o ciclone que girando a uma velocidade alucinante segue lentamente moendo tudo à sua passagem, esta borrasca promete nos deixar de novo de rastos, esmagados contra o chão, nus, sem direito a sonhar ou a querer...
As rajadas já varrem vidas faz tempo mas agora a fúria já aumentada grita com voz de trovão e nós nos agachamos, nos estendemos colados ao asfalto, nos escondemos em baixo dos autocarros enquanto os morteiros entram em acção e vomitam desprezo, despeito, desrespeito, desgraça....








A dignidade de cada um de nós está moribunda e junto com ela o respeito por nós próprios há muito que apodreceu e não existe medicina nem religião que sare essa cobardia, essa má formação congénita de um  provável cidadão  de um país que nasceu doente...
O cidadão sonhado, de um  país que ainda não existia, anunciado com o fervor de ser o seu maior anseio, por  Craveirinha, continua adiado....
Somos um povo humilde e submisso, que grilhetas nos colocaram nossos ancestrais que não conseguimos gritar a nossa indignação, lutar  e ao invés disso  nos deixamos violar?









Porque não somos guerreiros?
Porque não nos manifestamos e não lutamos pelos nossos direitos?
Porque nos agachamos e nos escondemos heróis atrás do teclado e depois  mostramos sorrisos falsos, comprometidos, convenientes  em público ?
Porque não fazemos nada e aceitamos ser cúmplices conscientes  dos crimes dos nossos algozes?
Assim sendo devemos aceitar que temos o país e o governo que merecemos !!
Somos fracos, sem personalidade e sem sentido de pátria !!!
Somos cobardes e como tal temos o país no estado em que está, um país raptado, rapinado,  à beira do precipício   !!







domingo, 15 de julho de 2012

Neruda num domingo jamaicano






                 
                 



Ao subir à noite ao terraço de um arranha-céu altíssimo e aflitivo, pude tocar a abóboda noturna e num ato de amor extraordinário apoderei-me de uma estrela celeste.
Era uma noite negra e eu deslizava pelas ruas com a est
rela roubada no meu bolso.
De trêmulo cristal parecia e era num átimo como se levasse um pacote de gelo ou uma espada de arcanjo na cintura.






Guardei-a, temeroso, debaixo da cama para que ninguém a descobrisse, sua luz porém atravessou primeiro a lã do colchão, depois as telhas, e o telhado da minha casa.

Incômodos tornaram-se para mim os afazeres mais comuns.
Sempre com essa luz de astral acetileno que palpitava como se quisesse retornar para a noite, eu não podia dar conta de todos os meus deveres cheguei a esquecer de pagar as minhas contas e fiquei sem pão nem mantimentos.





 

Enquanto isso, na rua, se amotinavam transeuntes, boêmios vendedores atraídos sem dúvida pelo insólito clarão que viam sair de minha janela.
Então recolhi outra vez minha estrela, com cuidado a envolvi em um lenço e mascarado entre a multidão passei sem ser reconhecido.








Tomei a direção oeste, rumo ao rio Verde, que ali sob o arvoredo flui sereno.
Peguei a estrela da noite fria e suavemente lancei-a sobre as águas.
E não me surpreendeu notar que se afastava como peixe insolúvel movendo na noite do rio seu corpo de diamante.