sexta-feira, 29 de março de 2013

surrealizando sem final...





                                       
                                            Magritte








Velho manguço sem nome caminha lentamente e as flores exalam perfumes do mato à sua passagem, odores fortes são aspergidos tal a autoridade moral do bicho...
Sentado junto ao fogareiro o velho Job controla as maçarocas a assar, no canto da boca um tabaco enrolado em papel de saco de cimento vai ardendo ...
manguço chegado à cabana do Job, salta para o peitoril da janela e espreita .

" Hum, o Job está a esmerar-se! - empinando o narizito, pensa de si para si, enquanto num salto se põe à porta e bate duas vezes.
"Deixa-te de fitas e entra pelo buraco da porta velho engraçadinho !! - vocifera Job.









Sentados à volta do foguareiro vão comendo as espigas em silêncio mas conversando por olhares.
Num certo olhar de través Job pergunta ao manguço sem nome:
" Acreditas em fábulas? "
Soa no silêncio um som raquítico, o som do possível riso do manguço sem nome:
"Crrriícririri..."
Sacudindo a cauda felpuda num movimento quase humano de reverência, olha o velho Job com um olhar franzido:
" Claro que não, achas possível que ao fim de tantos anos de partilharmos o milho e termos conseguido nos comunicarmos em silêncio eu posso ouvir uma pergunta dessas sem chiar ? "
Velho Job levanta-se meio curvado e num olhar de paralaxe  responde:
" Sendo assim, traz a garrafa de aguardente para assarmos as bolotas, ensinaste-me a gostar delas velho safado ! "
O dia seguindo seu curso fantástico e fora da cabana a harmonia reinando na floresta ...








- Toninho ! Toninho !- o chamado entra  pela porta do quarto como se chegasse da casa de Job.
 Toninho levanta-se da cama contrariado e fecha o livro.
 O final da história fica para depois do lanche.
- Já vou mãe !









sábado, 23 de março de 2013

no chuveiro com candeeiros...


















Hoje resolvi mandar os problemas para os buracos da rua para que os carros os amassem e os desfaçam sem contemplações...  estou radiante !!

Quero que tudo se resolva por si, que eu não me angustie ficando a espera do sinal verde, não quero mais !!!
Afinal de que serve isso se você não pode controlar ou mesmo influenciar o resultado final?





Então ficamos assim, vou gastar montes de litros do liquido precioso e vou-me chuveirar até a alma se sentir completamente fresca, depois vou sair da toca e trabalhar meus candeeiros bem na sombra da mangueira e ouvir música aos gritos, mas dentro do civismo claro...






Sinto-me um privilegiado por poder fazer o que disse e milionário por poder dispor do meu tempo mesmo sabendo que tenho todo o tempo para mim por estar sem trabalhar, sou um riquíssimo teso viu ?
O vil metal está chegando ao fim e começo a imaginar como será a vida debaixo da ponte mas estou feliz e positivo e mais, estou vivo, belo, alimentado e apaixonado, então....estou perfeito !!







Quero ser e sentir que sou, respirar e sentir a vida entrar por mim dentro fluindo , chilando, me acarinhando, me fazendo dançar e sorrir...
Viver vale a pena, não tem coisa mais bela que o sorriso de despreocupação irradiando no rosto de quem luta arduamente para não se angustiar...

Essa puta está aprendendo que comigo não tem mais hipótese !!!
Vou pro chuveiro, ciau !!




                                              

sábado, 9 de março de 2013

aprendendo sempre...




                                                                                   Irises, 1889  Vincent van Gogh 








                                                                                   
            
                                                                   



Aquela dita cuja, amiga do alheio, que por vocação rouba às almas o néctar do doce viver....
Voltou, volta sempre, vai voltar sempre...
O balanço de Jamiroquai  fluindo, como quando imaginamos que estamos no paraíso...mas não estamos.
Não existe paraíso algum, existem sim momentos em que sentimos estar no paraíso, e só....

Ah felizardos que somos por ter esses momentos de irrealidade, esses momentos reais de plenitude !!







A nostalgia chega sem avisar entrando por portas e travessas, sem permissão, sem que alguém a tenha chamado...e senta em cima de tudo!
O já vivido a cabra não tira, ela sem saber faz com que o paraíso visitado fique mais brilhante, mais encantador e extremamente apetecível...
Rindo-me para a cabra sei que como veio há-de ir e de certeza voltarei ao paraíso...
Assim são as visitas da peste e suas tentativas vãs para reinar...









 Perde sempre porque na balança pesam mais os momentos vividos com paixão, com o sangue fervendo, com a cabeça acelerando e com um sorriso rasgado permanente, do que as cinzentas razões que a peste  usa para se afirmar como sendo ela a forma em que tudo acaba...
Enganou-se a megera, ela é que serve para que queiramos mais é viver e usufruir ...
A cabra definitivamente está se dando mal....
A vida pulsando é muito mais forte do que a sombra gélida duma qualquer angústia, podem escrever !!!