domingo, 28 de abril de 2013

Boris Vian na Jamaica







                               
















Querida vem junto de mim 
Esta noite quero cantar 
Uma canção para ti 

Uma canção sem lágrimas 
Uma canção ligeira 
Uma canção de charme 

O charme das manhãs 
Envolvidas em bruma 
Em que valsam coelhos 

O charme dos pântanos 
Onde alegres crianças louras 
Pescam crocodilos








O charme dos prados 
Que se ceifam no Verão 
Para podermos rebolar-nos 

O charme das colheres 
Que rapam os pratos 
E a sopa de olhos claros 

O charme do ovo cozido 
Que permitiu a Colombo 
O truque mais luzido 

O charme das virtudes 
Que dão ao pecado 
O gosto do proibido









Podia ter-te cantado 
Uma canção de carvalho 
De ulmeiro ou de choupo 

Uma canção de plátano 
Uma canção de teca 
De rimas mais duráveis 

Mas sem ruído nem alarme 
Preferi experimentar 
Esta canção de charme 

Charme do velho notário 
Que no estúdio austero 
Denuncia o falsário









Ou o charme da chuva 
Escorrendo gotas de ouro 
Sobre o cobre do leito 

Charme do teu coração 
Que vejo junto ao meu 
Quando penso no bem-estar 

Ou o charme dos sóis 
Que giram sempre em volta 
De horizontes vermelhos 

E o charme dos dias 
Apagados da nossa vida 
Pela goma das noites 

Boris Vian, in "Canções e Poemas"











1 comentário:

  1. Sonzeira massa, reggae dos bons, como é costumeiro por aqui. A gente chega e libera a alma pra sair dançando. Bom que só!

    Som e palavra, comungaram perfeitinhos.

    Beijos do lado de cá.

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