Para chegar ao Muquifo ele tem de descer umas escadas íngremes sob a sombra duma mangueira portentosa.
Abre o cadeado da grade de ferro, roda a chave da porta e o seu pedaço de intimidade lhe dá as boas vindas.
O melhor dos mais lindos palácios está ali, logo que a porta se fecha a tranquilidade e a segurança correm, saltitam, pulam para o seu colo felizes por o receberem ...
A geleira sorri-lhe, o pacote de waffers de baunilha a meio ficou na mesa , repara que está tudo como gosta e como deixou ontem quando saiu para vadiar...
A mochila com o lap fica logo ali no sofá purpura da cozinha, já na casa de banho abre as torneiras e tempera um banho morno...
A caminho do quarto vai tirando a t-shirt , acende a luz, flita o quarto com o Baygon para garantir que mosquito algum lhe perturbe o sono e fica nu por dentro e por fora.
Apetece-lhe ouvir Alborosie e começa a cantarolar Dutty Road:
dem walk on dutty road, jahfull a garbage bin and cockroach, jah
As luzes do Muquifo iluminam esta actividade registando para a posteridade os movimentos do resgatado, a calma e o prazer contidos em cada gesto rotineiro transformam a cena num bailado em slow motion.
O banho vai até esgotar a água quente, nesse banho ele simplesmente deixa de estar e se concentra no prazer da massagem , como mãos oleosas e quentes a água o relaxa mais ainda...
Descalço e de toalha à cintura põe água a ferver para cozinhar um spaggheti liga depois o lap ao sistema de som e Precious enche o espaço:
precious precious she's wining on me(lawd a mercy)
precious rub a dub mi girl till da morning
precious precious she's wining on me
Como as coisas simples podem ser tão prazeirosas e a convivência com ele próprio tão reconfortante!!!
Depois de ter percorrido o deserto das almas penadas montado no faustoso camelo alado do acreditar, pensava ele conseguir chegar a terra do entendimento, descobre agora no ocaso da vida que tal nunca poderia ter acontecido...
Percebe que não se pode chegar a lado nenhum se não conseguirmos primeiro resgatar o amor próprio.
O respeito em todos os sentidos da palavra; a afirmação da nossa essência, da nossa personalidade sem dúvidas.
Entendeu finalmente que não se pode ser o que os outros gostariam que fossemos, que não podemos viver em função da vida dos outros .
Ele acredita que sendo assim, verdadeiro e seguro de si que tudo ainda é possível.
O amor, a paz e até a felicidade poderão ainda acontecer ....
Entendeu finalmente que não se pode ser o que os outros gostariam que fossemos, que não podemos viver em função da vida dos outros .
Ele acredita que sendo assim, verdadeiro e seguro de si que tudo ainda é possível.
O amor, a paz e até a felicidade poderão ainda acontecer ....
O Muquifo fica na entrada da zona esquecida da cidade das acácias, fica ali onde a vida fervilha e as pessoas são feitas de luta e determinação, onde não existe espaço para lamentos, onde se cantam todas as odes à vida, todos os dias ...
A voz grossa de Alborosie sobe por entre os ramos da mangueira e consegue chegar ao último andar do prédio ao lado...
Ele dança ao som do reggae, o molho a bolonhesa já está quente, o resto do pacote de parmesão ralado ainda chega para esta refeição...
Enquanto dança de toalha a cintura agradece aos céus por ter sobrevivido, ele sente e sabe que nunca mais será infeliz, que nunca mais ninguém lhe fará chorar....
O amor e o bem são invencíveis !!!!
Só ele achava que não sobreviveria, mas quem o conhece, decerto jamais duvidou da sua força.
ResponderEliminarÉ bem verdade, não se desperta o amor de ninguém se não o cultivamos ao espiarmos pra dentro de nós mesmos... É que as vezes espiamos e lá dentro está um tanto escuro. Mas sempre clareia, clareia sim!
"O amor e o bem são invencíveis", amém! Espero que as danças sejam sempre assim, alegres e de bem com a vida. Que o amor jamais se perca dele.
Amei o Alborosie.
A propósito: Fiu-fiu!
Vou rezar com ele esse mantra esperançoso: O amor e o bem são invencíveis! Quando nos damos conta, nosso muquifo é nosso castelo encantado e seguro(?)e coisas pequenas, simples mesmo, se tornam grandiosas!
ResponderEliminarBeijuuss Tony, n.a.
Profundamente apaixonante "ouvir-te" neste texto prosaíco que desnuda a realidade de tantos outros lugares esquecidos desta pátria dos herois anónimos como tu embora reconhecidos pelo seu universo "do amor e do bem". Sya vuma!
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