Ginsberg, mais um dos meus amados poetas malditos...
Personagem de filme, mente fora do seu tempo, um guru no sentido da liberdade de ser-se, louco, visionário, contra-corrente, rebelde...
um pedaço do Uivo...
Eu vi as melhores cabeças da minha geração destruídas pela loucura, famintos histéricos nus, se arrastando na aurora pelas ruas do bairro negro na fissura de um pico,
hipsters1 de cabeça feita anjos ardendo por uma conexão celestial e ancestral com o dínamo estrelado ancestral na maquinaria da noite,
que pobreza e farrapos e olhos ocos e loucos sentaram fumando na escuridão sobrenatural dos apartamentos sem calafetação flutuando pelos tetos das cidades contemplando jazz,
que despiram seus cérebros ao Céu sob o El 2 e viram anjos muçulmanos cambaleando sobre telhados e iluminados,
que passaram por universidades com olhos serenos e radiantes alucinando Arkansas e tragédias de luz-Blake 3 entre os mestres de guerra,
que foram expulsos de universidades por pirarem & publicarem odes obscenas nas vidraças do crânio,
que se encolheram em quartos barbudos e de cuecas, queimando dinheiro em cestos de lixo e escutando o Terror pela parede,
que levaram uma geral nos pentelhos voltando via Laredo 4 com um cinturão de maconha rumo a Nova York,
que engoliram fogo em hotéis de quinta ou beberam terebentina no Beco do Paraíso 5, morte, ou purgatoriando seus torsos noite a noite com sonhos, com drogas, com pesadelos despertos, álcool e caralho e escrotos e fodas infinitas [...]
1 Hipster, gíria dos anos 40 para drogado e marginal.
2 El, ou “Elevated Train”, no original, refere-se ao elevado para o trem do metrô que existe em algumas cidades norte-americanas. El também é o nome hebraico para Deus.
3 Referência ao poeta e visionário inglês William Blake, com o qual Ginsberg teria tido uma alucinação em 1948.
4 Cidade texana que faz fronteira com o México.
5 Paradise Alley, Viela ou Beco do Paraíso, em Nova York. Referência ao lugar onde morava a prostituta Mardou Fox, do romance Subterraneans, de Jack Kerouac.
http://revistacult.uol.com.br/home/2010/11/o-uivo-vivo-de-allen-ginsberg/
O peso do mundo
é o amor.
Sob o fardo
da solidão,
sob o fardo
da insatisfação
o peso
o peso que carregamos
é o amor.
Quem poderia negá-lo?
Em sonhos
nos toca
o corpo,
em pensamentos
constrói
um milagre,
na imaginação
aflige-se
até tornar-se
humano -
sai para fora do coração
ardendo de pureza -
pois o fardo da vida
é o amor,
mas nós carregamos o peso
cansados
e assim temos que descansar
nos braços do amor
finalmente
temos que descansar nos braços
do amor.
Nenhum descanso
sem amor,
nenhum sono
sem sonhos
de amor -
quer esteja eu louco ou frio,
obcecado por anjos
ou por máquinas,
o último desejo
é o amor
- não pode ser amargo
não pode ser negado
não pode ser contigo
quando negado:
o peso é demasiado
- deve dar-se
sem nada de volta
assim como o pensamento
é dado
na solidão
em toda a excelência
do seu excesso.
Os corpos quentes
brilham juntos
na escuridão,
a mão se move
para o centro
da carne,
a pele treme
na felicidade
e a alma sobe
feliz até o olho -
sim, sim,
é isso que
eu queria,
eu sempre quis,
eu sempre quis
voltar
ao corpo
em que nasci.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Allen_Ginsberg
"quer esteja eu louco ou frio, obcecado por anjos
ResponderEliminarou por máquinas, o último desejo é o amor"... E não é?
Amo estar aqui e me perceber atônita em meio a tanto verbo forte, palavras que dizem verdades indesejadas, mas verdades.
Bendito sejam os teus poetas malditos.
Beijos, Mickey!
Tô podendo naum ler essas intensidades todas! Li e foi como uma bofetada no coração...tá ardendo Tony, ardendo.
ResponderEliminarBeijuuss n.a.