domingo, 25 de dezembro de 2011

Putumayo Presents Brazilian Lounge - If




Se consegues manter a calma
quando à tua volta todos a perdem
e te culpam por isso.

Se consegues ter confiança em ti
quando todos duvidam de ti
e aceitas as suas dúvidas

Se consegues esperar sem te cansares por esperar
ou caluniado não responderes com calúnias
ou odiado não dares espaço ao ódio
sem porém te fazeres demasiado bom
ou falares cheio de conhecimentos

Se consegues sonhar
sem fazeres dos sonhos teus mestres

Se consegues pensar
sem fazeres dos pensamentos teus objectivos

Se consegues encontrar-te com o Triunfo e a Derrota
e tratares esses dois impostores do mesmo modo

Se consegues suportar
a escuta das verdades que dizes
distorcidas pelos que te querem ver
cair em armadilhas
ou encarar tudo aquilo pelo qual lutaste na vida
ficar destruído
e reconstruires tudo de novo
com instrumentos gastos pelo tempo




Se consegues num único passo
arriscar tudo o que conquistaste
num lançamento de cara ou coroa,
perderes e recomeçares de novo
sem nunca suspirares palavras da tua perda.

Se consegues constringir o teu coração,
nervos e força
para te servirem na tua vez
já depois de não existirem,
e aguentares
quando já nada tens em ti
a não ser a vontade que te diz:
"Aguenta-te!"

Se consegues falar para multidões
e permaneceres com as tuas virtudes
ou andares entre reis e pobres
e agires naturalmente

Se nem inimigos
ou amigos queridos
te conseguirem ofender

Se todas as pessoas contam contigo
mas nenhuma demasiado

Se consegues preencher cada minuto
dando valor
a todos os segundos que passam
Tua é a Terra
e tudo o que nela existe
e mais ainda,
tu serás um Homem, meu filho!



Rudyard Kipling

sábado, 24 de dezembro de 2011

Miguel Migs - Lilás




Lilás era pequenina pequenina, menor que um botão...
a voz dela era muito maior que ela, encantava e as flores viravam-se para a ouvir cantar
o vento e a chuva paravam e o sol dançava ao nascer, tal era a beleza da sua voz...
certo dia Lilás resolveu que queria ser cantora e viver a cantar
chegou a casa que era uma caixa de fósforos abandonada num lugar esquecido e pegou na mochila
Lilás chorou na despedida e depois cantou até a sua voz desaparecer no horizonte...




Lilás começou a cantar para as formigas e o trabalho virou festa, em fila as formigas não estavam mais tristes com sua cargas, carregavam dançando
Lilás depois foi cantar para as ervas daninhas, e como por magia elas desabrocharam flores lilases microscópicas e de perfume embriagante;
Sentada numa folha de cajueiro, Lilás observava a sua audiência, uns deitados, outros esvoaçando e outros chegando, todos queriam ouvir a voz...
Lilás conseguira e finalmente iria fazer o seu grande espetáculo, a entrada era livre...
outra histórinha para a Erika






sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Turin Brakes - Jasmim




Jasmim corre pelos atalhos no meio do mar de capim, corre atrás do som dos batuques...
O sol de sangue se desfaz em silêncios e os batuques ecoam;
Jasmim corre e o som dos cânticos fica mais perto, o chão vibra;
ele quer ver os guerreiros dançar, quer ver os olhos acesos no momento do empunhar das lanças...




O calor da fogueira já se sente e Jasmim se mistura com as outras crianças da aldeia, estão em estado de espanto...

O guerreiro maior dá um salto e cai de olhos arregalados e lança em riste , ameaçando a plateia infantil...
Jasmim foi quem mais alto gritou quando em uníssono a criançada se assustou...
Jasmim não gritou de medo, gritou de emoção, era aquilo que mais queria fazer quando crescesse ...
Jasmim queria ser  guerreiro, dançar e ter aquele olhar !!!

histórinha para a minha neta Erika...



Michael Bublé - Crazy Love





Michael Bublé, o  Sinatra dos nossos dias...
A voz de veludo trouxe para o Jazz uma lufada de ar fresco, com sucessos atrás de sucessos é um dos músicos que
mais me acompanha  quando estou comigo só... como hoje por exemplo.
Gosto muito deste álbum, e recomendo..


                   











Boas festas !!!


http://pt.wikipedia.org/wiki/Michael_Bubl%C3%A9


quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Natural Black - Vibração Positiva




Natural Black é uma mania minha, faz parte do meu lado reggae mais profundo...





...a voz de  Mortimer Softley  mais conhecido por Natural Black é um lamento, voz que fica registada junto daquelas vozes únicas, que à primeira audição reconhecemos de imediato; a banda fantástica, pena que o You Tube não tenha as melhores canções...






De Phazz - Orgulho




"Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde, amo-te simplesmente sem problemas nem orgulho: amo-te assim porque não sei amar de outra maneira."

Pablo Neruda




Os teólogos há muito o notaram: a esperança é o fruto da paciência. Deveríamos acrescentar: e da modéstia. O orgulhoso não tem tempo de esperar... Sem querer nem poder estar à espera, força os acontecimentos, como força a sua natureza; amargo, corrompido, quando esgota as suas revoltas, abdica: para ele, não há qualquer forma intermédia. É inegável que é lúcido; mas não esqueçamos que a lucidez é própria daqueles que, por incapacidade de amar, se dessolidarizam tanto dos outros como de si próprios.

Emil Cioran
.






quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Zero 7 - caminhando...




I

Tenho sonhos cruéis; n'alma doente
Sinto um vago receio prematuro.
Vou a medo na aresta do futuro,
Embebido em saudades do presente...
Saudades desta dor que em vão procuro
Do peito afugentar bem rudemente,
Devendo, ao desmaiar sobre o poente,
Cobrir-me o coração dum véu escuro!...
Porque a dor, esta falta d_harmonia,
Toda a luz desgrenhada que alumia
As almas doidamente, o céu d'agora,
Sem ela o coração é quase nada:
Um sol onde expirasse a madrugada,
Porque é só madrugada quando chora.

II

Encontraste-me um dia no caminho
Em procura de quê, nem eu o sei.
d Bom dia, companheiro, te saudei,
Que a jornada é maior indo sozinho
É longe, é muito longe, há muito espinho!
Paraste a repousar, eu descansei...
Na venda em que poisaste, onde poisei,
Bebemos cada um do mesmo vinho.
É no monte escabroso, solitário.
Corta os pés como a rocha dum calvário,
E queima como a areia!... Foi no entanto
Que choramos a dor de cada um...
E o vinho em que choraste era comum:
Tivemos que beber do mesmo pranto.

III

Fez-nos bem, muito bem, esta demora:
Enrijou a coragem fatigada...
Eis os nossos bordões da caminhada,
Vai já rompendo o sol: vamos embora.
Este vinho, mais virgem do que a aurora,
Tão virgem não o temos na jornada...
Enchamos as cabaças: pela estrada,
Daqui ainda este néctar avigora!...
Cada um por seu lado!... Eu vou sozinho,
Eu quero arrostar só todo o caminho,
Eu posso resistir à grande calma!...
Deixai-me chorar mais e beber mais,
Perseguir doidamente os meus ideais,
E ter fé e sonhar d encher a alma.


Camilo Pessanha, in 'Clepsidra'






Natal de pobre - song by Zeca Pagodinho



O Natal, a festa da família, a celebração pagã, o motivo de aproximação entre as pessoas, whatever...
Não levo a sério...para mim é simplesmente a grande festa das crianças, o resto cada um que imagine e sinta à sua maneira;
curta-se !!!






Natal de pobre é um tipo de natal muito estranho porque nele, as crianças não ganham presentes, e não há uma mesa com comida farta e gostosa (a menos que você considere arroz, feijão e farofa como comida farta e gostosa). O dia começa com a avó, a tia, a mãe e todo o mundo caçando e refogando o içá, pondo a codorna pra assar, e comprando seus presentes de última hora e totalmente inúteis. Toda a pobraiada vai ao supermercado. As principais coisas que são encontradas dentro de um carrinho de compra de um pobre na véspera do Natal são: MUITA BEBIDA, cigarros, frango(ou a codorna)e MAIS BEBIDA. A hora de passar no caixa é frustrante para todos.
Como já foi citada acima, no Natal da família pobre tem (ou não) como comida: Farofa de içá (aquelas formigas gigantes que voam), codorna assada com maionese  barata, arroz com ovo, sopa de milho com ervilha, ou refrigerante barato. Como os pobres foram ao supermercado e deram o maior prejuizo, a única coisa que trouxeram de lá foi MUUUITA BEBIDA. É claro, bebida barata. As mil crianças da família tiveram que dividir apenas 1 garrafa de refrigerante . Os adultos, tiveram uma grande variedade de bebidas: pinga com mel, pinga com limão, pinga com maracujá, pinga com morango, pinga com pinga, pinga com gelo, gelo com gelo e muita cerveja.
Presente de natal de pobre.Na maioria das vezes, ninguém ganha nada, pois como foi dito anteriormente, a família gastou todas as (risos)"economias" no supermercado. Mas há os casos que as pessoas ganham os presentes, que são os mais baratos possíveis, como os citados abaixo:
Meias, cuecas, calcinhas, chaveiros, camisetas, brinquedinhos como pião, bonecas(aquelas que sai o cabelo todo), carrinhos de plástico, etc.
A noite é a curtição da família :
A mais baixa opção de todas. As crianças ficam na casa de um vizinho brincando com os filhos do mesmo, enquanto os adultos vão ao esperado baile funk, que não passa de um barraco com um radinho, e meia dúzia de CDs. A briga começa quando o tio começa a dar em cima das mulheres dos outros homens. A família tem que separar a briga, senão o tio apanhará de pelo menos 10 homens. Após o ocorrido, a família vai embora, não que quisessem, mas foram expulsos.
Quase meia-noite, todo mundo sai de casa, mas como não compraram fogos de artifício, acendem palitos de fósforos, ou até mesmo pegam suas armas e começam a atirar. Após a meia-noite, o cunhado desaparece. Toda a vizinhança começa a procurar na rua, até quando acham ele caído na viela...


...adaptado do link:
http://desciclopedia.org/wiki/Natal_de_pobre

...o mundo seria bem mais feliz se em vez de celebrarmos datas , festejássemos sim a vida, a solidariedade, o amor, etc

Feliz Natal !!



terça-feira, 20 de dezembro de 2011

William Blake - song by The Doors




"If the doors of perception were cleansed everything would appear to man as it is, infinite."


"Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo apareceria para o homem tal como é: infinito."


O Amor não busca seu próprio prazer,
nem por si próprio tem qualquer cuidado,
mas para o outro dá seu conforto,
e constrói um Paraíso no desespero do Inferno.
Assim disse a pequena bolinha de lama,
pisada pelas patas do gado;
mas um seixo do rio,
cantarolou os seguintes versos:.
O Amor procura somente seu próprio prazer,

para amarrar o outro ao seu deleite.
Deleite na falta de conforto alheio,
e constrói um Inferno na malícia do Paraíso.


William Blake




segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Neruda - song by Gotan Project



Florida ilusão que em mim deixaste
a lentidão duma inquietude
vibrando em meu sentir tu juntaste
todos os sonhos da minha juventude.

Depois dum amargor tu afastaste-te,
e a princípio não percebi. Tu partiras
tal como chegaste uma tarde
para alentar meu coração mergulhado

na profundidade dum desencanto.
Depois perfumaste-te com meu pranto,
fiz-te doçura do meu coração,

agora tens aridez de nó,
um novo desencanto, árvore nua
que amanhã se tornará germinação.




Não eras para os meus sonhos, não eras para a minha vida,
nem para os meus cansaços perfumados de rosas,
nem para a impotência da minha raiva suicida,
não eras a bela e doce, a bela e dolorosa.

Não eras para os meus sonhos, não eras para os meus cantos,
não eras para o prestígio dos meus amargos prantos,
não eras para a minha vida nem para a minha dor,
não eras o fugitivo de todos os meus encantos.
Não merecias nada. Nem o meu áspero desencanto
nem sequer o lume que pressentiu o Amor.

Bem feito, é muito bem feito que tenhas passado em vão
que a minha vida não se tenha submetido ao teu olhar,
que aos antigos prantos se não tenha juntado
a amargura dolente de um estéril chorar.

Tu eras para o imbecil que te quisesse um pouco.
(Oh! meus sonhos doces, oh meus sonhos loucos!)
Tu eras para um imbecil, para um qualquer
que não tivesse nada dos meus sonhos, nada,
mas que te daria o prazer animal
o curto e bruto gozo do espasmo final.

Não eras para os meus sonhos, não eras para a minha vida
nem para os meus quebrantos nem para a minha dor,
não eras para os prantos das minhas duras feridas,
não eras para os meus braços, nem para a minha canção.


Pablo Neruda

sábado, 17 de dezembro de 2011

Milton Gulli - Diáspora

Super agradável surpresa, boa voz e muito bom felling !!
Milton Gulli moçambicano na diáspora , é cantor e compositor de bandas de relevo em Portugal,  como Cacique 97, Cool Hipnoise ou os extintos Philarmonic Weed – e também de projectos como Grasspoppers, Makonde, Makafula Soundsystem, Lisboa Sport Clube de Funk ou Kimabngui Band .





Passa, Dribla, Chuta, Marca Um Golo Sonhador from Ras Kitchen Film on Vimeo.



.


 -






Brown Skin Guy - Grasspoppers from Ras Kitchen Film on Vimeo.




...depois de ter feito este post estive a ouvir o álbum  "The Grasspoppers presents Lovers Rock Inna Week" e adorei, tem temas muito bons, parabéns !!

Cesária Évora - Adeus rainha dos pés descalços



Cesária Évora



 Conhecida como «a diva dos pés descalços», foi a cantora de maior reconhecimento internacional de toda história da música popular cabo-verdiana. Apesar de ser sucedida em diversos outros géneros musicais, Cesária Évora foi maioritariamente relacionada com a morna, por isso também foi por vezes apelidada "rainha da morna.
Descansa em paz rainha...





http://pt.wikipedia.org/wiki/Ces%C3%A1ria_%C3%89vora

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Dreadzone - Live at Sunrise





Gravado ao vivo no Sunrise Celebration Festival Somerset em Junho de 2006...
Dreadzone é uma banda com herança dos Big Audio Dinamyte ...
O baterista Greg Roberts, ex BAD junta-se ao Eng de Som Tim Bran e inventam os Dreadzone.
Outros membros dos BAD juntam-se ao projecto...
Para levantar o astral e cagar para o que não interessa, enjoy life on your way !!!
Este live é tufff !!!
Não encontrei nenhuma referencia a este festival no youtube e resolvi inventar um vídeo com um tema do álbum..


.
 

estes são de outros álbuns...











para fechar este  som terrível !!!




http://en.wikipedia.org/wiki/Dreadzone

Smiths - Cansaço





O que há em mim é sobretudo cansaço —

Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos





terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Chris Standring - O medo





Não tenhas medo do passado.
Se as pessoas te disserem que ele é irrevogável, não acredites nelas.
O passado, o presente e o futuro não são mais do que um momento na perspectiva de Deus, a perspectiva na qual deveríamos tentar viver.
O tempo e o espaço, a sucessão e a extensão, são meras condições acidentais do pensamento.
A imaginação pode transcendê-las, e mais, numa esfera livre de existências ideais.
Também as coisas são na sua essência aquilo em que decidimos torná-las.
Uma coisa é segundo o modo como olhamos para ela.

Oscar Wilde
  







Parecemos estar hoje animados quase exclusivamente pelo medo.
Receamos até aquilo que é bom, aquilo que é saudável, aquilo que é alegre.
E o que é o herói?
Antes de mais, alguém que venceu os seus medos.
É possível ser-se herói em qualquer campo; nunca deixamos de reconhecer um herói quando este aparece. A sua virtude singular é o facto de ele ser um só com a vida, um só consigo próprio.
Tendo deixado de duvidar e de interrogar, acelera o curso e o ritmo da vida.
O cobarde, par contre, procura deter o fluxo da vida.
E claro que não detém nada, a menos que se detenha a si próprio.
A vida continua sempre a avançar, quer nos portemos como cobardes, quer nos portemos como heróis.
A vida não impõe outra disciplina - se ao menos o soubéssemos compreender! - para além de a aceitarmos tal como é.
Tudo aquilo a que fechamos os olhos, tudo aquilo de que fugimos, tudo aquilo que negamos, denegrimos ou desprezamos, acaba por contribuir para nos derrotar.
O que nos parece sórdido, doloroso, mau, poderá tornar-se numa fonte de beleza, alegria e força, se o enfrentarmos com largueza de espírito.
Todos os momentos são momentos de ouro para os que têm a capacidade de os ver como tais.
A vida é agora, são todos os momentos, mesmo que o mundo esteja cheio de morte.
A morte só triunfa ao serviço da vida.

Henry Miller


segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Maxwell - País de mim




Depois de Quelimane, um sorriso me encheu a alma, percebi que os ventos já não estão para chegar, chegaram ...
Não admira que em pleno Dezembro estivéssemos durante uns dias com temperaturas de Junho, eram os ventos  tão ansiosamente esperados a percorrer o país para anunciar a boa nova ...
Podemos sonhar o nosso belo, maravilhoso, único Moçambique !!


País de mim

O peso da vida!
Gostava de senti-lo à tua maneira
e ouvi-la crescer dentro de mim,
em carne viva,

não queria somente
rasgar-te a ferida,
não queria apenas esta vocação paciente
do lavrador,
mas, também, a da terra
e que é a tua


Assume o amor como um ofício
onde tens que te esmerar,

repete-o até à perfeição,
repete-o quantas vezes for preciso
até dentro dele tudo durar
e ter sentido

Deixa nele crescer o sol
até tarde,
deixa-o ser a asa da imaginação,
a casa da concórdia,

só nunca deixes que sobre
para não ser memória.

Eduardo White







domingo, 11 de dezembro de 2011

Sneaker Pimps - rebel, rebel...







                                                                       
primeiro...

"Sendo que a vida humana é dominação organizada, e o princípio da realidade é adaptação a essa mesma dominação - há a rebeldia como actividade nobre "


Agustina Bessa Luis

                                                depois...

É proibido sentir saudades de alguém sem se alegrar, esquecer seus olhos, seu sorriso, só porque seus caminhos se desencontraram.


Nomeei-te rainha.
Há maiores do que tu, maiores.
Há mais puras do que tu, mais puras.
Há mais belas do que tu, há mais belas.

Mas tu és a rainha.

Quando andas pelas ruas
ninguém te reconhece.
Ninguém vê a tua coroa de cristal, ninguém olha
a passadeira de ouro vermelho
que pisas quando passas,
a passadeira que não existe.

E quando surges
todos os rios se ouvem
no meu corpo,
sinos fazem estremecer o céu,
enche-se o mundo com um hino.

Só tu e eu,
só tu e eu, meu amor,
o ouvimos.      
Ao contrário de ti
não tenho ciúmes.






Vem com um homem
às costas,
vem com cem homens nos teus cabelos,
vem com mil homens entre os seios e os pés,
vem como um rio
cheio de afogados
que encontra o mar furioso,
a espuma eterna, o tempo.

Trá-los todos
até onde te espero:
estaremos sempre sozinhos,
estaremos sempre tu e eu
sozinhos na terra
para começar a vida




Onde termina o arco-íris,
em tua alma ou no horizonte?
Diz-me, a rosa está nua,
ou só tem esse vestido?
Porque se suicidam as folhas
quando se sentem amarelas?
Quantas igrejas tem o céu?
Como se chama uma flor
que voa de pássaro em pássaro?
e onde termina o espaço
se chama morte ou infinito?

Pablo Neruda





                                             

sábado, 10 de dezembro de 2011

Great expectations - song by Lou Reed



Moderar as Expectativas


Ordinário desaire de tudo o que é muito celebrado antes é não chegar depois ao excesso do que foi concebido. Nunca o verdadeiro pôde alcançar o imaginado, porque fingir perfeições é fácil; difícil é consegui-las. Casa-se a imagi­nação com o desejo e concebe sempre muito mais do que as coisas são. Por maiores que sejam as excelências, não bastam para satisfazer o conceito, e, se o enganam com exorbitante expectação, é mais rápido o desengano que a admiração. A esperança é grande falsificadora da verdade: que a sensatez a corrija, fazendo que a fruição seja superior ao desejo. Princípios de crédito servem para despertar a curiosidade, não para empenhar o obje­cto. Melhor resulta quando a realidade excede o conceito e é mais do que se acreditou. Essa regra faltará no que é mau, pois ajuda-o a própria exageração; desmente-a o aplauso, chegando a parecer tolerável o que se temeu ser ruim ao extremo.

Baltasar Gracián y Morales, in 'A Arte da Prudência


quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Boris Vian - song by Frank Zappa




Boris Vian faz parte dos autores que mais me marcaram, li os seus livros há muitos anos mas permanece em mim a magia e o encanto que senti  nas viagens surrealistas em que ele me transportou...

Os livros mais marcantes são sem dúvida "O arranca corações " e  " A espuma dos dias ", aqui ficam alguns excertos do A espuma dos dias...




"O casamento As vagonetas encontravam-se alinhadas à entrada da igreja. Colin e Alise instalaram-se na primeira e partiram imediatamente. Foram dar a um corredor escuro que cheirava a religião. A vagoneta deslizava nos carris com ruído de trovoada e a música ressoava com uma força enorme.
(…)"

"Desabotoou o colarinho. Alise reuniu forças e com um gesto resoluto espetou o arranca-corações no peito de Partre. Ficou a olhar para ela. Morria muito depressa mas fazia um último olhar de espanto ao verificar que o seu coração tinha a forma de um tetraedro. Alise ficou muito pálida. Jean-Sol já estava morto, e o chá arrefecia. Agarrou no manuscrito da Enciclopédia e rasgou-o. Um dos criados veio limpar o sangue e todas as porcarias que a caneta tinha feito na pequena mesa rectangular. Alise pagou, abriu os dois braços do arranca-corações e o coração de Partre caiu em cima da mesa; voltou a fechar o instrumento brilhante, meteu-o na carteira e saiu, levando na mão a caixa de fósforos que Partre trazia no bolso. (…)
"

"- Esta empada de enguias é notável - disse Chick. - Quem te deu a ideia de a fazeres?
- Foi o Nicolas quem teve a ideia - retorquiu Colin. - Há uma enguia - ou antes, havia - que todos os dias vinha ter ao lavatório dele pelo cano da água fria. Punha a cabeça de fora e esvaziava o tubo de pasta dentífrica, fazendo pressão com os dentes. Nicolas só usa pasta americana, de ananás. Isso deve tê-la tentado.
- Como é que ele a apanhou? - perguntou Chick.

- Pôs um ananás inteiro no lugar do tubo. Quando engolia a pasta conseguia deglutir e depois recolher a cabeça, mas com o ananás, quanto mais ela puxava, mais os dentes se enterravam no ananás. (…)"



" — De facto não me interessa muito — disse o gato.
— Fazes mal — respondeu a ratinha. — Ainda sou nova e até há pouco bem alimentada.
— Também eu ando bem alimentado — disse o gato — e não sinto nenhuma vontade de me suicidar. Estás pois a ver por que razão acho isso anormal.
— É porque não viste — acrescentou a ratinha.
— O que é que isso tem? — perguntou o gato.
Não tinha grande necessidade de sabê-lo. Havia calor e os seus pêlos revelavam a maior elasticidade.
— Fica à beira da água — disse a ratinha — espera a hora, anda pela prancha e pára ao meio. Vê qualquer coisa.
— Não pode ver grande coisa — respondeu o gato. — Talvez um nenúfar.
— Sim — disse a ratinha, — Espera que ele suba para o matar.
— É idiota. Não tem qualquer interesse.
— Depois de passar a hora — continuou a ratinha — volta à margem e olha para a fotografia.
— Nunca come? — perguntou o gato.
— Nunca — disse a ratinha. — Está a ficar muito fraco e eu não posso suportar uma coisa dessas. Um destes dias vai dar um passo em falso, quando passar por cima daquela grande prancha.
— E que mal isso te faz? perguntou o gato. — Sentir-se-á infeliz, por acaso?
— Não se sente infeliz — respondeu a ratinha —, sofre. É isso que eu não posso suportar. E depois há-de cair na água, debruça-se de mais.
— Sendo assim — disse o gato —, quero prestar-te o serviço, mas não sei por que razão digo «sendo assim», uma vez que não percebo nada.
— És formidável — disse a ratinha.
— Mete a cabeça na minha boca e espera.
— Vai demorar muito tempo?
— O tempo de alguém me pisar o rabo — respondeu o gato; tenho de ter reflexos rápidos. Mas vou deixá-lo de fora, não tenhas medo.
 A ratinha afastou as mandíbulas do gato e enfiou a cabeça entre os dentes agudos. Retirou-a logo a seguir.
 — Diz-me cá — perguntou —, comeste tubarão esta manhã?
— Ouve — disse o gato —, se não te agradar podes pôr-te a mexer. Esses truques não me impressionam. Desenrasca-te sozinha.
 Parecia aborrecido.
 — Não te zangues — pediu a ratinha.
 Fechou os olhinhos pretos e pôs a cabeça em posição. Com precaução, o gato encostou os caninos pontiagudos ao pescoço cinzento e delicado. Os bigodes pretos da ratinha misturavam-se aos seus. Desenrolou a cauda felpuda e deixou-a estendida no passeio.
 Onze rapariguinhas cegas do Orfanato Júlio, o Apostólico, aproximavam-se a cantar. (…)"

Boris Vian









terça-feira, 6 de dezembro de 2011

William Shakespeare - song by Heavy D


Depois de algum tempo, você aprende a diferença, a subtil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.

E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão. Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam... E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la, por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.


Descobre que se levam anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante das quais se arrependerá pelo resto da vida. Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida. E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher. Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam, percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos.


Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa, por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos. Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser. Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto.

Aprende que não importa onde já chegou, mas onde está indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve. Aprende que, ou você controla seus actos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem
dois lados.





Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as consequências. Aprende que paciência requer muita prática. Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se.


Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou. Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha. Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são insignificantes, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.


Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama, contudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.


Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo. Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado. Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás.

Portanto... plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores. E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida!"

William Shakespeare





domingo, 4 de dezembro de 2011

Craveirinha - song by George Benson




Relembrar Craveirinha, é relembrar que no passado houve homens que sonharam este país diferente, diferente do regime colonial e também diferente deste que temos...
Passados 36 anos de Independência ainda não é este o país  que foi sonhado por José Craveirinha, Noémia de Sousa, Rui Knofli, Eduardo Mondlane,  etc...
Reler estes poemas que foram escritos durante o colonialismo, e que por causa deles Craveirinha pagou na pele a sua ousadia, a de desafiar o regime com palavras, talvez sirva para reflectirmos um pouco sobre o tempo que já passou e o quanto falta fazer para termos realmente o país sonhado...


O meu preço

Eu cidadão anónimo
do País que mais amo sem dizer o nome
se é para me dar de corpo e alma
dou-me todo como daquela vez em Chaimite.
Dou-me em troca de mil crianças felizes
nenhum velho a pedir esmola
uma escola em cada bairro
salário justo nas oficinas
filas de camiões carregados de hortaliças
um exército de operários todos com serviço
um tesouro de belas raparigas maravilhando as praias
e ao vento da minha terra uma grande bandeira sem quinas.
Se é para me dar
dou-me de graça por conta disso.
Mas se é para me vender
vendo-me mas vendo-me muito caro.









HINO À MINHA TERRA

O sangue dos nomes
é o sangue dos homens.
Suga-o tu também se és capaz
tu que não nos amas.

Amanhece
sobre as cidades do futuro.
E uma saudade cresce no nome das coisas
e digo Metengobalame e Macomia
e é Metengobalame a cálida palavra
que os negros inventaram
e não outra coisa Macomia.

E grito Inhamússua, Mutamba, Massangulo!!!
E torno a gritar Inhamússua, Mutamba, Massangulo!!!
E outros nomes da minha terra
afluem doces e altivos na memória filial
e na exacta pronúncia desnudo-lhes a beleza.
Chulamáti! Manhoca! Chinhambanine!
Morrumbala, Namaponda e Namarroi
e o vento a agitar sensualmente as folhas dos canhoeiros
eu grito Angoche, Marrupa, Michafutene e Zóbuè
e apanho as sementes do cutlho e a raíz da txumbula
e mergulho as mãos na terra fresca de Zitundo.
Oh, as belas terras do meu áfrico País
e os belos animais astutos
ágeis e fortes dos matos do meu País
e os belos rios e os belos lagos e os belos peixes
e as belas aves dos céus do meu país
e todos os nomes que eu amo belos na língua ronga
macua, suaíli, changana,
xitsua e bitonga
dos negros de Camunguine, Zavala, Meponda, Chissibuca
Zongoene, Ribáuè e Mossuril.
– Quissimajulo! Quissimajulo! – gritamos
nossas bocas autenticadas no hausto da terra.
– Aruángua! – Responde a voz dos ventos na cúpula das micaias.

E no luar de cabelos de marfim nas noites de Murrupula
e nas verdes campinas das terras de Sofala a nostalgia sinto
das cidades inconstruídas de Quissico
dos chindjiguiritanas no chilro tropical de Mapulanguene
das árvores de Namacurra, Muxilipo, Massinga
das inexistentes ruas largas de Pindagonga
e das casas de Chinhanguanine, Mugazine e Bala-Bala
nunca vistas nem jamais sonhadas ainda.
Oh! O côncavo seio azul-marinho da baía de Pemba
e as correntes dos rios Nhacuaze, Incomáti, Matola, Púnguè
e o potente espasmo das águas do Limpopo.
Ah! E um cacho das vinhas de espuma do Zambeze coalha ao sol
e os bagos amadurecem fartos um por um
amuletos bantos no esplendor da mais bela vindima.

E o balir pungente do chango e da impala
o meigo olhar negro do xipene
o trote nervoso do egocero assustado
a fuga desvairada do inhacoso bravo no Funhalouro
o espírito de Mahazul nos poentes da Munhuana
o voar das sécuas na Gorongoza
o rugir do leão na Zambézia
o salto do leopardo em Manjacaze
a xidana-kata nas redes dos pescadores da Inhaca
a maresia no remanso idílico de Bilene Macia
o veneno da mamba no capim das terras do régulo Santaca
a música da timbila e do xipendana
o ácido sabor da nhantsuma doce
o sumo da mampsincha madura
o amarelo quente da mavúngua
o gosto da cuácua na boca
o feitiço misterioso de Nengué-ua-Suna.

Meus nomes puros dos tempos
de livres troncos de chanfuta umbila e mucarala
livres estradas de água
livres pomos tumefactos de sémen
livres xingombelas de mulheres e crianças
e xigubos de homens completamente livres!

Grito Nhanzilo, Eráti, Macequece
e o eco das micaias responde: Amaramba, Murrupula,
e nos nomes virgens eu renovo o seu mosto em Muanacamba
e sem medo um negro queima as cinzas e as penas de corvos de agoiro
não corvos sim manguavavas
no esconjuro milenário do nosso invencível Xicuembo!

E o som da xipalapala exprime
os caninos amarelos das quizumbas ainda
mordendo agudas glandes intumescidas de África
antes da circuncisão ébria dos tambores incandescentes
da nossa maior Lua Nova.





Reza, Maria

Suam no trabalho as curvadas bestas
E não são bestas
São homens, Maria!

Corre-se a pontapés os cães na fome dos ossos

E não são cães
São seres humanos, Maria!

Feras matam velhos, mulheres e crianças

E não são feras, são homens
E os velhos, as mulheres e as crianças
São os nossos pais
Nossas irmãs e nossos filhos, Maria!

Crias morrem à míngua de pão

Vermes na rua estendem a mão à caridade
E nem crias, nem vermes são
Mas aleijados meninos sem casas, Maria!

Do ódio e da guerra dos homens

Das mães e das filhas violadas
Das crianças mortas de anemia
E de todos os que apodrecem nos calabouços
Cresce no mundo o girassol da esperança

Ah! Maria,

Põe as mãos e reza
Pelos homens todos
E negros de toda a parte
Põe as mãos
E reza, Maria!

José Craveirinha






sábado, 3 de dezembro de 2011

Nneka - Soul is Heavy



Já tinha feito um post desta cantora e este é sem dúvida um dos melhores álbuns de 2011...
Todo bom, sem músicas fracas, é ouvir de ponta a ponta e repetir...



quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Fernando Pessoa - song by Raphael Saadiq



Depois  de ouvir o último álbum de Raphael Saadiq " Stone Rollin' " apaixonei-me por este tema e resolvi fazer um post  a combinar com sadness, emotion and peace..

Ontem também pensou-se em Fernando Pessoa, morreu há 76 anos e o que escreveu é intemporal...nada como fazer-lhe mais uma devida e merecida vénia...




O amor romântico é como um traje, que, como não é eterno, dura tanto quanto dura; e, em breve, sob a veste do ideal que formámos, que se esfacela, surge o corpo real da pessoa humana, em que o vestimos.
O amor romântico, portanto, é um caminho de desilusão. 
Só o não é quando a desilusão, aceite desde o princípio, decide variar de ideal constantemente, tecer constantemente, nas oficinas da alma, novos trajes, com que constantemente se renove o aspecto da criatura, por eles vestida.


Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!



 O Amor, Quando Se Revela


O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar pra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente

Não sabe o que há-de dizer.
Fala: parece que mente…
Cala: parece esquecer…

Ah, mas se ela adivinhasse,

Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;

Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe

O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar…
Fernando Pessoa