sábado, 9 de novembro de 2013

Hesse & Moska







                                     














A serenidade não é feita nem de troça nem de narcisismo, é conhecimento supremo e amor, afirmação da realidade, atenção desperta junto à borda dos grandes fundos e de todos os abismos; é uma virtude dos santos e dos cavaleiros, é indestrutível e cresce com a idade e a aproximação da morte. É o segredo da beleza e a verdadeira substância de toda a arte. O poeta que celebra, na dança dos seus versos, as magnificências e os terrores da vida, o músico que lhes dá os tons  duma pura presença, trazem-nos a luz; aumentam a alegria e a clareza sobre a Terra, mesmo se primeiro nos fazem passar por lágrimas e emoções dolorosas.














Talvez o poeta cujos versos nos encantam tenha sido um triste solitário, e o músico um sonhador melancólico: isso não impede que as suas obras participem da serenidade dos deuses e das estrelas. O que eles nos dão, não são mais as suas trevas, a sua dor ou o seu medo, é uma gota de luz pura, de eterna serenidade. 

Mesmo quando povos inteiros, línguas inteiras, procuram explorar as profundezas cósmicas em mitos, cosmogonias, religiões, o último e supremo termo que poderão atingir é essa serenidade.












A verdade é um ideal tipicamente jovem, o amor  por seu turno, um ideal das pessoas maduras e daqueles que se esforçam por estar preparados para enfrentar a diminuição das energias e a morte. 

As pessoas que pensam só deixam de ambicionar a verdade quando se dão conta que o ser humano está extraordinariamente mal dotado pela natureza para o reconhecimento da verdade objectiva, pelo que a busca da verdade não poderá ser a actividade humana por excelência.












Mas também aqueles que jamais chegam a tais conclusões fazem, no decurso das suas experiências inconscientes, um percurso semelhante.
Ter consigo a verdade, a razão e o conhecimento, conseguir distinguir com precisão entre o Bem e o Mal, e, em consequência disso, poder julgar, punir e sentenciar, poder fazer e declarar a guerra - tudo isto é próprio dos jovens e é à juventude que assenta bem.
Se, porém, quando envelhecemos, continuamos a ater-nos a estes ideais, fenece a já de si pouco vigorosa capacidade de «despertar» que possuímos, a capacidade de reconhecer instintivamente a verdade sobre-humana.

Hermann Hesse











4 comentários:

  1. [agora eu só te li. muito lindo e verdadeiro. mas eu volto pra ouvir]


    namastê

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  2. É meu querido, vc bem soube, com sua sensibilidade ímpar, fazer a escolha... numa mistura de "verdades" que nos faz refletir!
    Beijuuss Tony

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  3. Tem canções aí que eu ainda não conheço. Agora é a hora, né?

    Você como sempre brilhante na arte de intercalar canção e reflexão,meu caro amigo. Falando nisso, já atentou para "Reflexos e Reflexões", do Moska?

    Que tudo esteja bem por aí, se não agora, num amanhã que seja breve.

    Meu abraço forte.

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  4. Sereno é vir aqui te ler e ouvir tudo de lindo que sugere, adoro o Moska, ganhei meu domingo.

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