segunda-feira, 15 de junho de 2015

O pão que Deus amassou...











Estar presente em si e colar conchas, pintar de cores fortes a madeira virgem
O pedaço de casca de árvore, transforma-se em arte e renasce...

Dos obscuros recônditos do que doía, pelo agir vai se iluminando o ser,
surgem cores em círculos, laranja e amarelos do sol, como velas de cera bruxuleando no escuro
O trilho de regresso é cheio de trinados de pássaros tranquilos e o aperto,
o aperto do peito vai e vem, este ir não tem como não ir e vou...









Soberano e lúcido é como se deve ser,  como a flor amarela do cacto, 
das assustadoras agulhas do carnudo verde, desse corpo nasce a flor, 
soberana, irradiando beleza
Assim o sol rompe a noite fria e o trilho surge ali, a dizer, vem!







As agulhas no verde fui eu, por dentro conheci caminhos estranhos que me confundiram tudo
O tempo de fermentação depende da dor, ela deve ser profunda e longa para se chegar 
As portas da percepção não se abrem só pela prática da meditação ou por outras formas sublimes de se ir ao encontro de si.
A dor abre sem pena, o buraco da visão lúcida e demora, demora a doer...
Sarada a ferida o olho se abre, tudo fica mais leve, tudo é mais claro, enxergas  mais um pouco...








A lucidez, o gostar de estar assim, consigo em sintonia, afinal lá fora não tem mais confusão, 
este é o teu tempo, agora, o trilho é de ouro e a luz cega-me. 
Vou, não tem mais frio, sou pássaro de novo e de novo voo, lúcido !








terça-feira, 2 de junho de 2015

Uma metamorfose dos sentidos...








                                











Quando de repente  o céu escureceu pensei por momentos que fosse um temporal a chegar sem avisar, e era, era a maior tempestade dos meus sentidos!
Os vidros de meu edifício vibraram de tal forma que meus ouvidos ensurdeceram com o clamor de minha alma, gritando feito um berro, sobrepondo-se o lamento ao som dos vidros enlouquecidos ...
Partiu-se o espelho onde toda a vida me mirei, infeliz dono de tantas certezas, onde a minha imagem reflectida, a do meu ser agachado com o peso das expectativas  que se alhearam de tudo, cagaram para mim e empurram-me para baixo; a imagem  repetia-se e repetia-se em cada pedacinho de espelho, fazendo-me no meu ajoelhar multiplicado, entender a frio que o jogo acabou, a tempestade não veio por acaso, veio para se transformar em verdade de uma vez por todas.









Naquele momento a temperatura subiu ao ritmo acelerado do meu batimento cardíaco, fundiu o aço das minhas defesas e me vi a esvair feito lava, escorrendo como utópicas lágrimas de metal pelo chão, por cima da poesia que parecia e afinal não era....
Ficou noite sem estrelas, cego tentei apalpar a realidade mas as formas que tocava não as conseguia identificar, e fiquei e caminhei e fui e parei e andei, tentando em vão perceber...
Caminhei quilómetros por labirintos sem saída, sem respostas para perguntas não formuladas, quedava-se meu ser aos apalpões e sem vontade de encontrar a saída e ao mesmo tempo lutando por encontrá-la.








Ribombaram trovões duvidosos, rugidos da natureza nunca antes ouvidos e eu perdi-me, o caminho não estava mais ali, a tempestade até o cheiro dos dias fez mudar, o ar não mais foi puro, sentia-se um aroma a flores murchas, a rosas azedas, os pássaros deixaram de cantar e não mais me acordaram nas manhãs.
Dormi muitos dias, muitos, acordado velava meu sono profundo, o cansaço virou adrenalina e discuti comigo aos gritos, tive que impor uma vontade, a única que servia para não enlouquecer.
Peguei em mim e saí dali, neste momento ainda caminho, mas não estou mais na zona da tormenta.
Caminhei aos tombos durante uma longa noite, que durou muitos dias e da mesma forma que a tempestade chegou, de surpresa, foi com surprsa que comecei de repente a ver e a perceber que estava em lugares novos, não deu ainda para fazer juízos sobre os mesmos, mas sinto que estou a viver algo novo.











 O caminho até ao destino, se é que há um destino, ainda é longo, distante, como se estivesse a começar uma aventura, as cores são vivas e vejo-me a sorrir, sim, a sorrir sem razão ou mesmo com razão !
A vida está aqui e é para ser vivida.
Feita de emoções, as pesadas, com o sabor salgado de lágrimas, o ter de tomar consciência das nossas legítimas derrotas.
Feita também de celebração, com gargalhadas e beijos canibais, com a aceleração dos sentidos no êxtase, na vida a pulsar, no abraço verdadeiro, apertado. 
Vamos, o tempo não pára, quero mais, vou querer sempre mais quando o que tiver não me chegar !



sexta-feira, 22 de maio de 2015

Estrada Pafuri - Vilankulo, quando ?











Esta estrada é uma das provas que os nossos governantes não querem pensar para além do imediato e nem pensar em nada que não seja do seu interesse pessoal, ou do interesse de quem tem o poder real.
 Deixam para traz sem nenhum pudor os anseios de milhares de moçambicanos e matam a possibilidade de haver um BOOM no sector do comércio e turismo.

Basta dizer que esta estrada a ser (re)construida, faria com que JHB ficasse a 1050 km de Vilankulo.
A distancia por estrada neste momento, via MPM são 1270 km de JHB - VILANKULO
Referir que pela via MPM esta distancia divide-se em 440 km em territorio sul africano e 824 km em Moçambique.
No trajecto  via Pafuri , esta distância divide-se em 600km na RSA e 500km em Moçambique.
Esta estrada dinamizaria o norte da africa do sul e abria possibilidades de investimentos variados ao longo da estrada, aliaria o desenvolvimento dos parques nacionais de Limpopo e de Banhine.
Os sul africanos sairiam do norte da africa do sul e 500 km depois entrariam em Vilankulo.
Inhassoro, Vilankulo, o Arquipélago de Bazaruto e o resto da provincia de Inhambane para sul beneficiariam como nunca e o desenvolvimento surgiria.
O comércio beneficiaria também, pois a RSA ficaria mais perto do que Maputo ou que a Beira !
Não deixem a provincia de Inhambane e em especial o distrito de Vilankulo morrer por vossa incúria !!! !!!!
(As distâncias do troço Pafuti - Vilankulo são aproximadas )







terça-feira, 12 de maio de 2015

Tudo novo de novo - Paulinho Moska


























Eu falo de amor à vida, você de medo da morte
Eu falo da força do acaso e você, de azar ou sorte
Eu ando num labirinto e você, numa estrada em linha reta
Te chamo pra festa mas você só quer atingir sua meta

Sua meta é a seta no alvo
Mas o alvo, na certa não te espera

Eu olho pro infinito e você, de óculos escuros
Eu digo: "Te amo" e você só acredita quando eu juro
Eu lanço minha alma no espaço, você pisa os pés na terra.
Eu experimento o futuro e você só lamenta não ser o que era
E o que era ? Era a seta no alvo
Mas o alvo, na certa não te espera

Eu grito por liberdade, você deixa a porta se fechar
Eu quero saber a verdade, e você se preocupa em não se machucar
Eu corro todos os riscos, você diz que não tem mais vontade
Eu me ofereço inteiro, e você se satisfaz com metade

É a meta de uma seta no alvo
Mas o alvo, na certa não te espera

Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada
Quando se parte rumo ao nada ? 

Sempre a meta de uma seta no alvo
Mas o alvo, na certa não te espera

Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada
Quando se parte rumo ao nada...














Eu
Chorei até ficar debaixo d'água
Submerso por você
Gritei até perder o ar
Que eu já nem tinha pra sobreviver (Eu andei...)

Eu
Andei até chegar no último lugar
Pisado por alguém
Só pra poder provar
O que era estar depois do final do além (Eu andei...)

E cheguei exatamente onde algum dia
Você disse que partia pra nunca mais voltar
E eu já estava lá a te esperar sem dizer adeus

Eu
Fiquei sozinho até pensar
Que estar sozinho é achar que tem alguém
Já me esqueci do que não fiz
O que farei pra te esquecer também
Se eu não sei o nome do que sinto
Não tem nome que domine o meu querer
Não vou voltar atrás
O chão sumiu a cada passo que eu dei (Eu andei...)












Diga aí amigo...
Como vai você?
Estou aqui contigo
E Você também me vê
Às vezes sou seu clone
E você é o meu
Não temos o mesmo nome
Mas nossa vida se perdeu
Em encontros e desencontros
Do mesmo sopro
Que atravessa eu e você
Se estou contigo
É porque estás comigo
E nós não podemos nos perder











O vazio é um meio de transporte
Pra quem tem coração cheio
Cheio de vazios que transbordam
Seus sentidos pelo meio
Meio que circunda o infinito
Tão bonito de tão feio
Feio que ensina e que termina
Começando outro passeio
E lá do outro lado do céu
Alguém derrama num papel
Novos poemas de amor
Amor é o nome que se dá
Quando se percebe o olhar alheio
Alheio a tudo que não for
Aquilo que está dentro do teu seio
Porque seio é o alimento
E ao mesmo tempo a fonte para o desbloqueio
E desbloqueio é quando aquele tal vazio
Se transforma em amor que veio
Lá do outro lado do céu
Alguém derrama num papel
Novos poemas de amor
Do outro lado do céu
Alguém derrama num papel
Novos poemas de amor
O vazio é um meio de transporte
Pra quem tem coração cheio














Vamos começar
Colocando um ponto final
Pelo menos já é um sinal
De que tudo na vida tem fim
Vamos acordar
Hoje tem um sol diferente no céu
Gargalhando no seu carrossel
Gritando nada é tão triste assim
É tudo novo de novo
Vamos nos jogar onde já caímos
Tudo novo de novo
Vamos mergulhar do alto onde subimos
Vamos celebrar
Nossa própria maneira de ser
Essa luz que acabou de nascer
Quando aquela de trás apagou
E vamos terminar
Inventando uma nova canção
Nem que seja uma outra versão
Pra tentar entender que acabou
Mas é tudo novo de novo
Vamos nos jogar onde já caímos
Tudo novo de novo
Vamos mergulhar do alto onde subimos





domingo, 10 de maio de 2015

Os meninos da praia...























Minha primeira história em fotos,

Os meninos brincam todos domingos, a praia é o seu mundo de fantasia.
Eles brincam horas nos barcos dos pais ...
São filhos dos pescadores e imaginam-se em aventuras e viagens fantásticas 
Os meninos de Vilankulo são crianças felizes, livres e protegidas; este é um mundo em extinção...
 Aqui se vive na simplicidade e no desapego natural...
Não é preciso mais que a pura alegria de brincar, eles fazem a festa !
Façam esta viagem ao som de India Arie, boa curte !











sábado, 2 de maio de 2015

Beija flor...











Onde se escondeu o beija flor  que não mais (en)cantou meu amanhecer?
Será que se foi com meu sorriso (en)cantar um outro lugar?
As flores do jardim choram o pólen feito lágrimas doces e o silêncio não é de paz,  é sonoro e vibra dentro de mim ...
 Oiço o meu coração, será que ele está ali onde o sol brilha mais do que aqui?
Esta nuvem escura afastou meu beija flor, tenho a certeza !
Vou culpar o sol por não ser  forte ou o vento por estar ausente e a nuvem não afastar?
Não!
O beija flor voou e o sol  escondeu-se por trás das nuvens
Meu coração bate devagarinho, o jardim ficou silencioso e as flores exalam seu perfume...
Beija flor volta logo por favor!
Nuvem negra sai e vai ensombrar outro lugar, deixa meu sol de novo brilhar!
Vai... e deixa meu beija flor voltar !










 



 

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Dim Division by Miguel Migs








                              







Super deep house, adoro Miguel Migs, o DJ perfeito, de eleição...
Ouvir este deep house, macio, de veludo, extremo bom gosto, com o groove perfeito, a batida cardíaca no sincopado ritmo da felicidade, ele é o mestre dos mestres...
Alegria é sinónimo de dança, e estou a sofrer de felicidade, muito !
O álbum esperado superou todas as expectativas

                                       Let´s dance !!!!!!






             








           







                 








            









                       







              








           



http://en.wikipedia.org/wiki/Miguel_Migs





sábado, 14 de fevereiro de 2015

love for lovers - music by D' Angelo




























Love, tesão, paixão, dopamina, febre, querer muito, ansiedade, ver, sentir, olhar, tocar, sofrer, doer, mais, mais, mais, profundamente mais, sentido, transpirado, amassado, beijo, beijos, beijar, rir, gargalhar, chorar, abraçar, caminhar, dormir, mãos dadas, agarradas, comer, velas, incenso, musica, praia, nascer e morrer, de novo,viver, intensamente, tudo, mais, querer mais, tudo...



















sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Live Forever Bob Marley !









                                      

                                               06/02/2015


                         
 Happy 70th Mr Marley !!





                   

   











 



















quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Finalmente 2015 !







                                                 stencil  feito em Novembro na parede da  sala














Que tudo seja mais leve, que o sol nos ilumine por dentro todos os dias
Que não existam muitas nuvens e que elas não sejam escuras, carregadas,
Que sejam só algodão doce no céu














Que celebremos ainda mais esta vida, que os sorrisos sejam sempre muitos
Que as dores sejam tratadas com a indiferença que elas merecem
Que o amor seja doce e terno, que ele seja companheiro, cúmplice e tolerante











Que as paixões ardam  muito, sejam de derreter o aço e durem a eternidade ...
Que os amigos se encontrem ainda mais vezes que em 2014, que se embebedem de novo
Que acordemos para as coisas obviamente sem interesse nenhum, sejamos simples












Que percebamos o quão insignificantes são o orgulho e a arrogância
Que saibamos nos sentir realizados pelo enriquecimento  do espírito e não pelo brilho do vil metal
Que não magoemos a mãe terra, que não a amputemos sem dó nem  escrúpulos, eduquemos sim !!!










O conhecimento torna a alma jovem e diminui a amargura da velhice. Colhe, pois, a sabedoria. Armazena suavidade para o amanhã.



Vinci , Leonardo da









..



quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Farewell 2014 - music by Soja




                           











Não contabilizo os anos mas tento reflectir sobre a sua passagem ...
Decepções,  momentos maravilhosos, desencontros previsíveis, solidão no desapego, amar sem limites, celebração da vida e lágrimas também...
Amar sem dúvida incondicionalmente mas dentro do racional, amar-me incondicionalmente sim.
O mundo mais virtual, as pessoas mais egoístas, os seres se desumanizando e o reino do supérfluo reinando...
O tempo passando célere, o vivido se sobrepondo ao por viver...
Viver é a palavra de ordem e nunca submissão, ali na esquina tem um sorriso quente esperando por ti...











E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perda da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.









Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.


E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?









 Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil.








Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus.A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.

Rubem Braga
Extraído do livro "A Traição das Elegantes".




sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Somos feitos de músicas...





                                         








Algumas canções extraordinárias  vivem dentro de nós a vida inteira e connosco seguirão para além do tempo...







Auscultei-me acerca daquelas canções que no inicio se revelaram profecias e fontes de inspiração, meio abstracta a ideia, e depois de reflectir um bocado surgiram estas...








No tempo destas canções, vivíamos numa tribo nómada, nocturna, no future, bas-fond, hanging around ...








Nesta sinuosa viagem na imponderabilidade da vida, nesta fascinante existência que nos surpreende sempre,  nada é,  tudo está sempre em processo dinâmico, nada permanece ... 








Como agir, quando de dentro de nós  uma voz grita as nossas certezas, as nossas estratégias, o nosso acreditar, o tudo é possível?









Na base dessa marca que te define como ser, que define a tua personalidade, a tua pessoa, estão  canções mágicas, músicas que te embriagaram  e se alojaram dentro de ti para sempre, e te transformaram ...








Estas canções foram a metamorfose, depois delas e de tudo o que culturalmente a elas estava ligado , nunca mais fomos os mesmos...







Nada nem ninguém muda a essência de cada um,,,




sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Fazer o quê?



















Raios partam os dias zangados. Nada há que se possa fazer para fugir deles. Esperam por nós, como credores ajudados por juros injustificáveis, para nos cortarem a fatia do nosso coração que lhes cabe. 

Não são como os dias tristes, que não conseguem habituar-se a uma realidade qualquer, que se revelou, sem querer, desiludindo-nos de uma ilusão que nós próprios inventámos, para mais facilmente podermos acreditar, falsamente, nela. Mas assemelham-se para mais bem nos poderem magoar. Depois. Quase ao mesmo tempo. Bem.






Quem não tem um dia zangado, em que ninguém ou nada corresponde ao que esperávamos? A felicidade é a excepção e o engano. Resulta mais de um esquecimento do que de uma lembrança. 

Pouco há de certo neste mundo. São muitos os pobres, mas não são poucos os ricos. As pessoas do sexo masculino não se entendem nem com as pessoas do sexo masculino, nem com as do sexo feminino. As pessoas, sejam de que sexo e sexualidade forem, compreendem-se mal. Dão-se mal, por muito bem que se dêem.








 As mais apaixonadas umas pelas outras são as que menos bem aceitam as diferenças, as incompreensões, os dias zangados e as noites zangadas que apenas servem para nos relembrar que todos nós nascemos e morremos sozinhos. E que viver é um enorme entretanto, de que devemos tirar partido, sobretudo quando há a sorte de amar e ser amado ou amada. 

Os dias zangados são dias de amor. Ninguém se zanga por desamor. O amor sobrevive e continua, como vingança. 

Miguel Esteves Cardoso










Nunca implore carinho, atenção ou amor. Se não é dado por vontade própria, não vale a pena ter....
Desconhecido








domingo, 9 de novembro de 2014

Bukowski nos solos de Zappa





















ignis fatuus

a única solidão é
sono ou morte
nós não éramos inteligentes, o bastante
gentis com os outros e cruéis para si mesmos
quando pedimos a nós mesmos por misericórdia
e isso foi negado

a mais sagrada privacidade permanece
nos esperando
e tudo que foi
incompreendido ou abandonado
se reunirá

deixe meu fracasso ser sua sorte
isso que foi um quebrado
e descuidado
erro

que seja conhecido
que saber sua própria morte
é morrer duas vezes
uma vez realmente
e então, quase nada

que seja conhecido
que não há nada tão feio
em tudo que é tangente
como a besta humana
um truque definido contra o sangue de sua alma

que seja conhecido
que a solidão é a única
misericórdia
e a única
amante









que seja conhecido
que um homem não precisa ser Cristo
para ser crucificado

que seja conhecido
que um homem pode ser
crucificado
a cada dia
a cada momento
a cada respiração
de sono e vigília
e então ser atormentado novamente

que seja conhecido
que um homem pode morrer
e morrer
e morrer
e morrer
e ainda sentir a dor
e saber que está morto
e ainda sentir a dor
e saber que não há nada que ele possa fazer
e ainda  sentir
a dor
que seja conhecido

que seja conhecido
que os templos não são nada
e os sinos não são nada
e a fama não é nada
e a vitória não é nada
e o sexo não é nada
e que a solidão traz loucura
e a multidão traz loucura
e bebem  e comem o corpo
como um tigre
que não há nenhuma voz para falar com
nenhum ouvido para ouvir








que seja conhecido
que haverá outros homens como eu
levantados  para a boca dos leões
queimados  por falsos amores
enganados por gentileza
alvejados pelo intelecto
tontos por ramalhete
sacrificados para o lucro
utilizados como mão de obra barata
e estes serão os mais gentis dos acontecimentos
em comparação com o que vai entrar no olho
e na orelha
e no cérebro
e escoar para as entranhas para começar seu
trabalho de morte
eu tenho pena que todos esses meus irmãos
que vão me seguir nos séculos
Incapazes de amar, porque não há nada para amar
Incapazes de matar, porque não há nada vivo
Para sempre pendurados e
sangrando e tontos
Pela besta
humana
as paredes
os jardins
o sol
as flores
os beijos
as bandeiras
os mares
os animais
a comida
os licores
as pinturas
as sinfonias
tudo inutilidade

que seja conhecido
que a maioria dos homens
adoram quando podem ver
e eles vêem uns aos outros
e eles adoram isso
porque eles vêem muito pouco

que seja conhecido
que eu sou amargo
e condenado
e cansado
e inútil

que seja conhecido
que quando esperança final se vai
lá permanece, mas olhando para a dança
e observando a relação fraca
dos idiotas
com muito pouco anotações








que seja conhecido
que eu estou morto
mas não existe raiva

que seja conhecido
que a maioria dos homens estão mortos
muitos anos antes do enterro

que seja conhecido
que muitos homens morrem na infância
que muitos homens nascem mortos
embora as suas partes se movam
e fazem som
e crescem
e avançam
no comportamento adulto
e fazem  as coisas da
civilização

Que seja conhecido
que estes homens nunca existiram
e que seus funerais
foram  enormes farsas
e também as lágrimas mortas
para o já morto

que seja conhecido
que os próprios vermes
estavam mais perto da verdade
na medida em que
não
choram

que seja  conhecido
que o nascimento não é santo
que a morte não é santa
que a vida não é santa

que seja conhecido
que eu tenho sangrado sem coroas
que  eu vou sangrar em um momento
que eu vou sangrar para sempre
vermelho
vermelho
vermelho
e os falcões vão dançar
dentro dos meus ossos
e regozijar

que seja conhecido
que eu não morra pelos pecados do homem
mas que eu morra pelo o quê o homem é
e para o que eu quase fui
eles- muito pouco de qualquer coisa
em mim mesmo levantou o suficiente
para ver o horror
o adoecer
e enlouquecer
e murchar

não tome como pessoal
o que eu digo sobre a vida
completamente
ou o homem
completamente
a não ser que
em outro plano
você se considera
um defensor da vida e do homem
o que é apenas uma outra fraqueza natural das espécies
como um rato guardando seu ninho
e para o qual
eu não posso te culpar totalmente

a única solidão é a morte
mas não esta morte
não esta morte
não
esta

morte.

Charles Bukowski






segunda-feira, 27 de outubro de 2014

...ouvindo The Cinematic Orchestra










                                                                                                        







     





Li algures que o ser humano é solitário, irremediavelmente ele é sozinho...
Somos sozinhos e mesmo quando vivemos a dois continuamos sozinhos, apenas passamos a ser duas pessoas sós dividindo suas solidões, compartilhando suas solidões...
Puxa, é algo muito severo, é uma condição que nos deixa a total responsabilidade de ser e de existir....

Ainda por cima deixa-nos também num existir ao sabor da nossa intuição,  entregues a nós próprios ou a uma escolha, nessa diversidade de opções que o homem foi inventando, tentando encontrar a melhor formula para lidar com isso.











Fará isto algum sentido, os solitários felizes e os solitários angustiados?

Acredito que a empatia, mais do que a paixão nos ajuda a não nos sentirmos tão sós.

Ela abre de imediato as portas a uma comunicação mais fácil, mais prazeirosa e isso no fundo é o anseio do prisioneiro de si próprio; encontrar alguém que olhe a vida de um modo semelhante ao seu, ai a solidão não será tão grande.










O prazer, a empatia, a paixão, isso tudo nós sentimos sozinhos mesmo que partilhado com alguém, apenas projectamos a nossa ideia de simbiose, a nossa sensação de  "química", só e apenas...
Pelo que concluo que tudo isso não passa de uma divagação criada e alimentada pela nossa mente solitária.
A angustia voltou e divagando sobre o sexo dos anjos vou repintando esse velho quadro inacabado, há tanto tempo arrumado na poeira do sótão.





















domingo, 12 de outubro de 2014

...que se quebrem as grilhetas !!








                               

                             
                                                     foto de Zeca de Oliveira












Meu país vai para eleições na quarta feira dia 15 e pela primeira vez a Frelimo poderá sair do poder que ocupa desde a Independência em 1975.
 Seria bom que tal acontecesse, porque o povo está cansado desta ditadura encapotada de democracia,  que existe apenas para servir os interesses de uma oligarquia que vem enriquecendo despudoradamente, enquanto o povo vai continuando cada vez mais pobre, cada vez mais miserável.





Renamo e MDM, as alternativas ao poder estabelecido, fizeram a sua campanha num nível muito inferior à máquina riquíssima da Frelimo, mas mesmo assim,  sem artifícios para alienar as populações, arrastaram multidões que se mostraram interessadas em ouvir discursos diferentes, discursos críticos às promessas nunca cumpridas do passado, ouviram palavras cheias de esperança, promessas possíveis de ser realizadas.
 Esperamos que este país possa acordar das trevas, que este país possa finalmente se libertar das amarras do partido único, que tem permanecido ao leme deste país como se o país fosse uma propriedade sua durante tantos e tantos anos.








 Sonhar é legitimo, e como moçambicano tenho sonhado um dia acordar e ver o meu país liberto desta triste realidade .
 Espero que seja desta vez, que de mãos dadas possamos todos construir um verdadeiro  Estado de Direito , com forças politicas de cores diferentes, em igualdade de direitos e de possibilidades, que possam elas lealmente esgrimir seus programas, suas ideias, em liberdade e com um único fito, o de servir os moçambicanos.








sábado, 27 de setembro de 2014

Os eus do Eduardo White



















 
Hoje sou eu e não sou, estou em mim como uma realidade etérea dentro e física fora. Sai de casa um e voltei para ela outro. 
Dei conta desse facto, agora, quando me sentei junto ao computador e quis escrever e não pude.
 Entretanto, uma campainha fictícia tocou-me e abri o peito para espreitar quem era e era o outro que tocava.
 Esqueceste-te de mim, disse-me. 
Eu fitei-o alarmado porque nunca tal realidade se tinha dado assim tão evidente.
 Desculpa-me, respondi-lhe. 
Abri mais o peito e ele entrou-me e logo fiquei dois num ápice. Sentamos-nos os três. Eu, a matéria, e os dois outros que me ocupam e que são informes e intactáveis e que aqui falam comigo de modo estranho.










Acho inacreditável que não seja eu nenhum de vós dentro de mim, afirmo-lhes. 
E eles riem-se e eu calo-me estupefacto. Se sou dois e percebo, quem é este dentro de mim?
 Pergunto-lhes. Sim, porque se os vejo, sou e se com eles falo, penso e se penso e não sou eles, sou eu , então, mais um outro. 
Isto não me agrada, cogito. Mas... e com qual pensa este que agora sou? 
Outro, respondem-me eles. 
Eu vazo de inacreditar. Eu baralho-me de imperceber. Somos três, e' isso que somos? 
Sim, respondem eles. Tu és a parte material desse que és, neste exacto momento e esse que és, é a outra parte com que a tua matéria se pensa. 
Mas, porra, e então vocês? grito-lhes, irritado.









 Nós somos os outros que tu de vez em quando és e nós o tu que a gente é quando assim o queremos. 
Sou, pelos vistos, um hospedeiro? pergunto-lhes eu. 
Do teu ponto de vista, sim, porem, do nosso, não.
 A confusão engorda, a duvida alonga-se. E o que fazem então, aqui, vocês? pergunto-lhes.
 Eu venho escrever por ti e este vem fumar contigo e o que tu és, e és tu e estas ai e nós aqui.
 Caramba, ó meus senhores, eu já não percebo nada. Se eu sou eu o este que estou e vós sois eu o esses que são, quem sou eu? 
Todos nós, dizem eles, e nós todos tu. 
Brrrrr, merda danada. Já estou a espalhar-me de imperceber. Esperai, digo-lhes eu, eu vou dormir para ver se me arrumo e volte a entender esta salada toda. Nós vamos contigo, dizem-me eles. Porque? pergunto-lhes.
 Porque nós também precisamos de o fazer e se não fizermos contigo não o poderemos fazer com mais ninguém. Nós somos tu e tu és nós, lembras-te? 
E eu levanto-me, sem dizer nada, e venho deitar-me e eles comigo ou eu com eles, fico sem saber dizer. E durmo.

Eduardo White