terça-feira, 25 de setembro de 2012

" - Please, play again for me Amy "





















Sentidos no âmago das cores dispersas, leves
são meus suspiros  e meus desassossegos sem rimas
misturando os sabores , diluindo as mãos nas mãos
encantando os olhares , olhares sem espelhos cristalinos
embaciados de lágrimas doces , pétala a pétala com cuidado
enquanto isso o vinho cor de sangue em vitral o copo torna
cantos sagrados de vozes dos deuses na terra, sem devoção
elevados aos píncaros da loucura não se despojam, nunca !!! 















 o pulsar do coração rimbomba dentro
 das praias ao longe a miragem grita surda
 enquanto sorrio para a lua amarelada em sépia
 deslavada foto encurvada como flores  secas de papel
 plantadas na soleira de cal ao sibilar dos pássaros da tarde
 a sombra dança ao sabor do vento, ao sabor
do amor que nunca acaba, brilha iridiscente e não fere... 











esses livros escolhidos , pedaços de almas nebulosas
despojos da dor e da lucidez são portas, são buracos negros
altares de flores brancas, de aguas perfumadas de incenso de jasmim
o mel e o bom whisky velho , as especiarias preferidas , o fumo
adocicados sabores e flautas de pan embalando os véus
no encontro dos sentidos somos ateus e inventamos cultos
lá, onde não se lembra mais nada fica a ilusão perfeita
fica o mistério do indizível,sossega a alma em alvoroço








domingo, 23 de setembro de 2012

Miguel Esteves Cardoso - o vero amor ...

                      



                                                                                                                                                       
                                    



A partir do contacto estreito com as bandas pós- punk e new wave da editora Factory, tais como Joy Division, New Order, Durutti Column ou The Fall, aquando da sua estada no Reino Unido, «MEC» (como era conhecido pelos fãs), deu-se a conhecer como autor de crónicas sobre música pop, publicadas nos jornais Se7e, O Jornal (actual Visão) ou Música & Som, avidamente lidas pelos jovens portugueses, em complemento à transmissão dessa música em programas como Rock em Stock, de Luís Filipe Barros, ou Rotação, Rolls Rock e Som da Frente, de António Sérgio, na Rádio Renascença e na Rádio Comercial.
Nessa época, dedicou-se também à crítica literária e cinematográfica, no Jornal de Letras, Artes e Ideias
Começou igualmente a ser presença assídua na rádio e na televisão, em parte devido à sua aparência invulgar e desajeitada de jovem intelectual ingénuo e perverso, e às suas intervenções imprevisíveis e desconcertantes, irónicas e irreverentes.



http://pt.wikipedia.org/wiki/Miguel_Esteves_Cardoso









...faço parte da geração que viveu este lado do MEC ao vivo e a cores...
O MEC e o Som da Frente do António Sérgio foram as portas para um mundo novo, inteligente e de extremo bom gosto...

Esta singela homenagem ao Miguel Esteves Cardoso e um muito obrigado por 
nos teres trazido, visionário, a garantia das grandes bandas antes de elas o serem ...
 Thanks também por teres sido o catalisador em grande estilo de tudo aquilo que precisávamos para legitimar o nosso modo contra corrente de olhar as coisas e o mundo...








Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo.
O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios.Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. 
Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?





O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar.
O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.
O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado,viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. 
Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também. 

Miguel Esteves Cardoso, in 'Jornal Expresso'





quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Hesse abraça Gibran











A verdade é um ideal tipicamente jovem, o amor, por seu turno, um ideal das pessoas maduras e daqueles que se esforçam por estar preparados para enfrentar a diminuição das energias e a morte. 

As pessoas que pensam só deixam de ambicionar a verdade quando se dão conta que o ser humano está extraordinariamente mal dotado pela natureza para o reconhecimento da verdade objectiva, pelo que a busca da verdade não poderá ser a actividade humana por excelência.
Mas também aqueles que jamais chegam a tais conclusões fazem, no decurso das suas experiências inconscientes, um percurso semelhante.






Ter consigo a verdade, a razão e o conhecimento, conseguir distinguir com precisão entre o Bem e o Mal, e, em consequência disso, poder julgar, punir e sentenciar, poder fazer e declarar a guerra - tudo isto é próprio dos jovens e é à juventude que assenta bem. 
Se, porém, quando envelhecemos, continuamos a ater-nos a estes ideais, fenece a já se si pouco vigorosa capacidade de «despertar» que possuímos, a capacidade de reconhecer instintivamente a verdade sobre-humana.








A vossa alegria é a vossa tristeza mascarada.
E o mesmo poço de onde sai o vosso riso esteve muitas vezes cheio de lágrimas.
E como poderá ser de outra maneira?
Quanto mais fundo a tristeza entrar no vosso ser, maior é a alegria que podereis conter.
A taça que contém o vosso vinho não é a mesma que foi feita no forno do oleiro?
E a lira que vos apanigua o espírito não é da mesma madeira com que foram esculpidas as facas?








Quando estiverdes alegres, olhai bem dentro do vosso coração e descobrireis que só aquele que vos deu tristezas vos dá também alegrias.
Quando estiverdes tristes, olhai novamente para dentro do vosso coração e vereis que na verdade estais a chorar por aquilo que foi a vossa alegria.
Alguns de vós dizeis, "A alegria é maior que a tristeza" e outros dirão "Não, a tristeza é maior".
Mas eu digo-vos que são inseparáveis.
Juntas vêm, e, quando uma se senta junto de vós lembrai-vos que a outra está a dormir na vossa
cama.
Na verdade, estais suspensos como balanças entre a vossa tristeza e a vossa alegria.
Só quando vos esvaziais ficais em equilíbrio e imóveis.
Quando o guardador de tesouros vos erguer para pesar o seu ouro e a sua prata, nem a vossa alegria nem a vossa tristeza se devem alterar.





segunda-feira, 17 de setembro de 2012

essa velha presença garantida...










Olá !!!
Puxa não te via faz tempo, até pensei que tinhas ido de vez...
Sabes, não tinha saudades nenhumas tuas, nenhumas mesmo...mas já que estás por aqui que tal me dizeres de tua justiça?
O tempo quando não apareces parece que pára e que nada acontece, é  a tranquilidade e quando penso nela agora na tua presença, é como se não tivesse nunca estado desassossegado ...







O antes da tua chegada tem um sabor a vazio, a algo que se dissipa  facilmente....
Essa perene tranquilidade nem que dure muito tempo  desfaz-se assim que reapareces...
 Tu és mais sumarenta que qualquer bem estar corpóreo, tu preenches o sentir duma forma inigualável, apertas o coração como uma garra e dominas, submetes...





Vens de novo ter comigo para quê?
Precisas como um piromaníaco de ver as almas a arder, bebes o sangue vital como um vampiro do espírito ...
A arte, não é mais que uma forma criada por ti para  retratar os desmandos que operas na mente de quem sente...
 Através dela materializas  as tuas posturas  implacáveis, mudas de aguilhão consoante o flanco  se  põe mais ou menos a jeito e cravas a  amargura sem contemplações ...
Quanto mais magoas mais expressão de sangue e lágrimas  tem a obra  que crias ...






  Como se trocasses de máscaras numa peça de teatro surrealista, ris-te de nós, crias a confusão nos sentimentos e nas certezas improváveis ...
Depois apareces irado e blasfemas deitando fumo pelo nariz como uma máscara chinesa e nós inseguros nos encolhemos na nossa vontade...
  Fazes com que tenhamos desprezo por nós próprios, pela nossa fraqueza humana e depois apareces cinicamente chorando como um palhaço triste...






Olhas-me frio e sem expressão, o que esperas para me abraçar?
Olha, sinceramente  não precisas fazê-lo, não precisas mesmo...
Não tens de fazer nada, sou teu alimento!!
 Afinal não basta só a tua presença para explicar tudo ?
Já sinto o chão a se liquefazer, não tarda e estarei nadando nas águas frias das tuas imposições, merda !!!





terça-feira, 11 de setembro de 2012

Allen Ginsberg - Erotic Lounge 8









   





 Ginsberg, mais um dos meus amados poetas malditos...
Personagem de filme, mente fora do seu tempo, um guru no sentido da liberdade de ser-se, louco, visionário, contra-corrente, rebelde...








um pedaço do Uivo...


Eu vi as melhores cabeças da minha geração destruídas pela loucura, famintos histéricos nus, se arrastando na aurora pelas ruas do bairro negro na fissura de um pico,
 hipsters1 de cabeça feita anjos ardendo por uma conexão celestial e ancestral com o dínamo estrelado ancestral na maquinaria da noite,
que pobreza e farrapos e olhos ocos e loucos sentaram fumando na escuridão sobrenatural dos apartamentos sem calafetação flutuando pelos tetos das cidades contemplando jazz,
que despiram seus cérebros ao Céu sob o El 2 e viram anjos muçulmanos cambaleando sobre telhados e iluminados,
que passaram por universidades com olhos serenos e radiantes alucinando Arkansas e tragédias de luz-Blake 3 entre os mestres de guerra,
que foram expulsos de universidades por pirarem & publicarem odes obscenas nas vidraças do crânio,
 que se encolheram em quartos barbudos e de cuecas, queimando dinheiro em cestos de lixo e escutando o Terror pela parede,
que levaram uma geral nos pentelhos voltando via Laredo 4 com um cinturão de maconha rumo a Nova York,
 que engoliram fogo em hotéis de quinta ou beberam terebentina no Beco do Paraíso 5, morte, ou purgatoriando seus torsos noite a noite com sonhos, com drogas, com pesadelos despertos, álcool e caralho e escrotos e fodas infinitas [...]

 1  Hipster, gíria dos anos 40 para drogado e marginal.
 2  El, ou “Elevated Train”, no original, refere-se ao elevado para o trem do metrô que existe em algumas cidades norte-americanas. El também é o nome hebraico para Deus.
 3  Referência ao poeta e visionário inglês William Blake, com o qual Ginsberg teria tido uma alucinação em 1948.
 4  Cidade texana que faz fronteira com o México.
 5  Paradise Alley, Viela ou Beco do Paraíso, em Nova York. Referência ao lugar onde morava a prostituta Mardou Fox, do romance Subterraneans, de Jack Kerouac.

http://revistacult.uol.com.br/home/2010/11/o-uivo-vivo-de-allen-ginsberg/














O peso do mundo 
         é o amor. 
Sob o fardo 
       da solidão, 
sob o fardo 
      da insatisfação 

       o peso 
o peso que carregamos 
        é o amor. 

Quem poderia negá-lo? 
          Em sonhos 
nos toca 
      o corpo, 
em pensamentos 
        constrói 
um milagre, 
         na imaginação 
aflige-se 
         até tornar-se 
humano - 

sai para fora do coração 
         ardendo de pureza - 

pois o fardo da vida 
          é o amor, 

mas nós carregamos o peso 
           cansados 
e assim temos que descansar 
nos braços do amor 
          finalmente 
temos que descansar nos braços 
           do amor. 

Nenhum descanso 
        sem amor, 
nenhum sono 
        sem sonhos 
de amor - 
           quer esteja eu louco ou frio, 
obcecado por anjos 
           ou por máquinas, 
o último desejo 
          é o amor 
- não pode ser amargo 
         não pode ser negado 
não pode ser contigo 
           quando negado: 

o peso é demasiado 
          - deve dar-se 
sem nada de volta 
         assim como o pensamento 
é dado 
         na solidão 
em toda a excelência 
         do seu excesso. 

Os corpos quentes 
          brilham juntos 
na escuridão, 
          a mão se move 
para o centro 
        da carne, 
a pele treme 
          na felicidade 
e a alma sobe 
         feliz até o olho - 

sim, sim, 
           é isso que 
eu queria, 
          eu sempre quis, 
eu sempre quis 
         voltar 
ao corpo 
         em que nasci.










http://pt.wikipedia.org/wiki/Allen_Ginsberg

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

"The The" estar...








                        


Quando parece que o mundo vai desabar, quando ficamos sem saber se amanhã cumpriremos nossos compromissos , pagaremos nossas contas, quando...







O dia seguinte nos surpreende, a situação afinal não é tão caótica, afinal até pagamos a maior parte do que devíamos,  afinal até dá para relaxar um pouco, afinal...






  Imprevisível é como se apresenta todo o incerto, o improvável é o que quase parece ser uma certeza...








Sonhando a vida improvisando soluções e planos, imberbes seres cósmicos, nos distraímos do essencial, nos perdemos na rotina  do formigueiro...






A estrela cadente ilumina o lago parado e pinta de prateado numa pincelada, aquela lambidela de luz, a sua passagem...
 Depois o lago fica reflectindo  impávido a  morosa efervescência da vida  estrelar...







amo os The The  para além da música ou das letras...
The The são alma, são cultura, são uma visão longínqua para além...
o génio incompreensivelmente belo de Matt Johnson e a guitarra dos Smiths, Johnny Marr inventando muito...


beyond love ...



sábado, 25 de agosto de 2012

essa nossa condição...








                                         



                                                 





                              Para o meu brother John, que se reintegrou de novo no Inominável ... 



Ah nossa perene condição humana...
Somos pó das estrelas amassados numa argila baça, onde se não vislumbra o cintilar estrelar...

Sim, o sorriso inocente duma criança, sim , ele exprime a novidade, a descoberta, mas vamos evoluindo pela existência e a condição terráquea se começará a revelar...

Ela não pára de se afirmar mais e mais cruel, mais e mais rapace, mais e mais selecção animalesca das espécies!






...e o espírito?

ele que sente, ele que percebe a incompreensão...
 Olha a matéria de que nós somos moldados e permanece flutuante...pairando no limbo do não saber
Habitante involuntário pergunta porque razão existe prisioneiro de um ser estranho, um ser com quem nos habituamos a conviver, de quem nos habituamos  a perceber as imperfeições ? 
Aleatoriamente somos moldados belos ou imperfeitos, chineses, indianos ou de outra característica diferente, inteligentes ou não....
Tal como numa fábrica, somos produtos acabados produtos série, ovos chocados na incubadora planetar , prontos para a experiência inexplicável de Gaia...







As recordações da juventude sobrevivem à decadência, ficam depois da morte prisioneiras numa fotografia ou numa canção em desuso...
Ser-se maduro é saber perceber que não somos pó nenhum das estrelas, somos sim entes incubados em argila ,aliens sem explicação...
 Somos felizes, somos angustiados, somos desligados, somos encucados...
Existimos sim, aqui, em Gaia...
e depois? 








segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Palavreando o tempo sem sentido













O tempo escorre qual água incessante e infinita que cascateia ravina abaixo, se perdendo nos destinos caminhos, sugada pela terra, evaporando-se 
sem sentido no éter ou viajando, exibindo sua cristalinidade  aos céus sequiosos...

Passa e não deixa sinais, segue e nos surpreende sempre, ora porque passou demasiado rápido ou porque simplesmente resolveu parar nos deixando desesperados...







Passageiros nesta nave corpórea seguimos ignorantes e meio apreensivos, constatando a velocidade a aumentar, velocidade que o tempo a si impõe , que a si injecta,  junkie de chegar a algum lugar a nós não comunicado...
Nessa estrada alucinante , a vertiginosa velocidade do tempo carrega em suas entranhas tempos mais lentos que espreitam impotentes o tempo se esvaindo, não deixando hipótese alguma de um sorriso curativo, apaziguador, poder  permanecer.






O tempo dum beijo canibal, longo de prazer absoluto demora uma ano-luz e alguns segundos até que um mosquito indiscreto numa frase inapropriada transforma o êxtase numa lágrima de sangue vermelho, vivo, e o relógio do tempo inverte o sentido dos ponteiros e instantaneamente a dor se pronuncia, a pele da alma se empola e a borbulhinha  fica e dura o tempo que o tempo quiser...
O tempo vira temporal, o temporal muda o tempo quente em tempo chuvoso que dura o tempo que tiver que durar...





Porque o tempo passa e não nos avisa que está passando rápido ou que não está querendo passar?
Como poderemos medir a velocidade com que o tempo passa por nossas vidas?
Gosto da velocidade do piscar dos olhos, é perfeita, não interfere com o que vemos, não interfere com as lágrimas nem com os sorrisos que nos habitam,  enquanto que o outro tempo, é revelador e nos deixa sempre frustrados, ora passa rápido quando o queríamos parado para continuar a felicidade daquele momento ou pára, quando o que queremos é fugir de alguma mágoa que nos apunhala...


domingo, 5 de agosto de 2012

Surreal_jazzmente











Lá ao longe a pequena figura surge e se aproxima em crescendo...desabitante de si vem vindo sem saber se voltará alguma vez.










O  jazz de Paul Brown & Marc Antoine faz o seu caminhar ritmado soltar notas musicais e sem sentir caminha absorto, caminha sabendo que não acontecerá nada em Dezembro de 2012, nem mais nada acontecerá para além do imprevisível .
 Possesso de tédio  chega finalmente ao lago do que não é previsível , a temperatura está amena , um crocodilo se achando  dorme de barriga para o ar, confiante, enquanto isso o pescador a seu lado remenda as redes velhas com que vem sonhando apanhar cardumes improváveis ..







Solta a jangada e num instante já flutua pelo lago, não deixa que as águas lhe molhem a apatia, precisa de permanecer seco , a tarde vai caindo e com ela a temperatura e a mascara inexpressiva da sua indiferença  ...
Avista a cabana na pequena ilhota dos desapontamentos e uma luz ténue de esperança ilumina subtilmente o cenário, não se vê ninguém, ali só se permite a solidão , a solidão intransponível de cada um.
Olhando a lua diminuída, coloca seus phones e  quando Najee começa a soprar o sax a lua  se encanta e   fica cheia e enorme...e azul.
 Um arco íris explode dentro do seu cérebro e tudo fica mais imprevisível...









Dançando com swing, é uma silhueta ritmada na enluarada  ilha das desilusões.
 Sacudida pela dança  a mente baralhada de tantas incertezas, ao ritmo do jazz de Jessie J vai-se encaixando, incerteza em certeza, como peças de  um puzzle...
Uma estrela cadente risca o céu no momento em que ele risca um fósforo para acender a beata e outros recantos do pensamento despertam, se iluminam...
Perto da meia noite e depois dum serão maravilhoso de solitude involuntária e que se esperava de resultado imprevisível, apaticamente e em paz dirigiu-se para a porta da cabana.











Tocou no botão da suposta campainha e alguns segundos depois e sem estar à espera, abriram-se duas portas e ele entrou num elevador.
Carregou na tecla do rés do chão e respirou fundo, se preparou para regressar ao mundo real, olhou para o relógio e só teria autocarro para casa ás 04H30...
O som de Richard Elliot traz o saxofone desta vez para a estação vazia, donde nunca saiu nenhum autocarro nem será previsível que  alguma vez saia ....e ao fundo na vitrine enegrecida de fuligem um poster velho,  um crocodilo  dorme de barriga para o ar, confiante, enquanto isso o pescador a seu lado remenda as redes velhas .....



   

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Romain Virgo - álbum novíssimo...








                             


...o menino cresceu , este é o 2º álbum, fresquinho.... e muito bom !!!





























segunda-feira, 30 de julho de 2012

Romain Virgo - the voice






                             




Voz, voz e muita voz !!!

 Jamaicano de 21 anos, descoberto num concurso de televisão em 2006. 

Simplesmente uma voz sublime !!!




























































http://en.wikipedia.org/wiki/Romain_Virgo

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Amy Whinehouse, um ano passou...






                                 
                                 





(...) A morte (ou a sua alusão) torna os homens delicados e patéticos.
Estes comovem-se pela sua condição de fantasmas. Cada acto que executam pode ser o último.
Não há um rosto que não esteja por se desfigurar como o rosto de um sonho.
Tudo, entre os mortais, tem o valor do irrecuperável e do perdido.
Entre os Imortais, pelo contrário, cada acto (e cada pensamento) é o eco de outros que no passado o antecederam, sem princípio visível, ou o claro presságio de outros que, no futuro, o repetirão até à vertigem.
Não há coisa que não esteja perdida entre infatigáveis espelhos.
 Nada pode ocorrer uma só vez, nada é primorosamente gratuito.
 O elegíaco, o grave, o cerimonial, não contam para os Imortais.
Homero e eu separamo-nos nas portas de Tânger. Creio que não nos despedimos. 

Jorge Luís Borges




































quarta-feira, 18 de julho de 2012

Parabéns Nelson Mandela












Madiba faz hoje 94 anos e o mundo celebra o homem integro, o exemplo vivo de verticalidade e de entrega total a uma causa que no seu caso não foi pequena, foi somente a luta de libertação do seu povo .
Para tal esteve preso 27 anos e depois de libertado foi eleito presidente do seu país, perdoou aos seus algozes e conduziu a África do Sul para um caminho que se dizia  quase impossível, o da paz e da reconciliação...
...e mais, contrariamente ao que é usual em África, no fim do seu mandato retirou-se e deu lugar a outro, num exemplo puro de não apego ao poder !!!
Long life to you Madiba ! 









"Ser pela liberdade não é apenas tirar as correntes de alguém, mas viver de forma que respeite e melhore a liberdade dos outros."



"Eu aprendi que a coragem não é a ausência de medo, mas o triunfo sobre ele. O homem corajoso não é aquele que não sente medo, mas aquele que conquista por cima do medo."






"Se falares a um homem numa linguagem que ele compreenda, a tua mensagem entra na sua cabeça. Se lhe falares na sua própria linguagem, a tua mensagem entra-lhe directamente no coração."

"Será que alguém pensa genuinamente que se não conseguiu algo foi por não ter tido o talento, a força, a resistência e a determinação nesse sentido?" 







"Ninguém nasce a odiar outra pessoa devido à cor da sua pele, ao seu passado ou religião. As pessoas aprendem a odiar, e, se o podem fazer, também podem ser ensinadas a amar, porque o amor é mais natural no coração humano do que o seu oposto."


"Quando penso no passado, no tipo de coisas que me fizeram, sinto-me furioso, mas, mais uma vez, isso é apenas um sentimento. O cérebro sempre domina e diz-me: tens um tempo limitado de estada na Terra e deves tentar usar esse período para transformar o teu país naquilo que desejas."

http://pt.wikipedia.org/wiki/Nelson_Mandela

domingo, 15 de julho de 2012

Neruda num domingo jamaicano






                 
                 



Ao subir à noite ao terraço de um arranha-céu altíssimo e aflitivo, pude tocar a abóboda noturna e num ato de amor extraordinário apoderei-me de uma estrela celeste.
Era uma noite negra e eu deslizava pelas ruas com a est
rela roubada no meu bolso.
De trêmulo cristal parecia e era num átimo como se levasse um pacote de gelo ou uma espada de arcanjo na cintura.






Guardei-a, temeroso, debaixo da cama para que ninguém a descobrisse, sua luz porém atravessou primeiro a lã do colchão, depois as telhas, e o telhado da minha casa.

Incômodos tornaram-se para mim os afazeres mais comuns.
Sempre com essa luz de astral acetileno que palpitava como se quisesse retornar para a noite, eu não podia dar conta de todos os meus deveres cheguei a esquecer de pagar as minhas contas e fiquei sem pão nem mantimentos.





 

Enquanto isso, na rua, se amotinavam transeuntes, boêmios vendedores atraídos sem dúvida pelo insólito clarão que viam sair de minha janela.
Então recolhi outra vez minha estrela, com cuidado a envolvi em um lenço e mascarado entre a multidão passei sem ser reconhecido.








Tomei a direção oeste, rumo ao rio Verde, que ali sob o arvoredo flui sereno.
Peguei a estrela da noite fria e suavemente lancei-a sobre as águas.
E não me surpreendeu notar que se afastava como peixe insolúvel movendo na noite do rio seu corpo de diamante.







Massala r&b by iTunes ...









Esta é a música  que estamos a passar, misturada pelo maravilhoso iTunes , esse instrumento que mudou a forma de nos relacionarmos com a musica que gostamos, enquanto os ecrãs mostram o campeonato mundial de atletismo juniores...

é calmo o inicio de noite de sábado...










^






























































Vivam a vida e curtam o seu lado positivo o mais intensamente que puderem !!!



segunda-feira, 9 de julho de 2012

Os sem escolha - music by Yoshiko Kishino


















Os caminhos que vamos percorrendo são uma mistura de trilhos feitos de pedras duras, ásperas, que nos ferem os pés e  de campos de erva tenra, de areia da praia  macia e fácil de caminhar ...
Qual a escolha mais acertada, qual dos dois o levará aonde quer chegar?






Todos os dias aprendemos algo e crescemos como pessoas ou erramos, nos enganamos e regredimos ou não passamos da cepa torta; o acaso reina absolutamente sobre qualquer plano ou desejo interiormente acalentado...
Porque teima ele  em pensar que pode realizar os seus anseios apenas porque quer e porque luta abnegadamente por conseguir?








Mandar tudo para o espaço, incluindo ele próprio...é o que no fim acaba lhe apetecendo...e com razão, digo eu !!




Os factores adversos do acaso têm-se sobreposto aos positivos estes   também decididos pelo acaso,  pelo que ele não tem hipótese de realizar nada daquilo que quer, apenas pode querer  e só realizará se o prepotente acaso assim  o entender ...












Quero ignorado, e calmo 
Por ignorado, e próprio 
Por calmo, encher meus dias 
De não querer mais deles. 

Aos que a riqueza toca 
O ouro irrita a pele. 
Aos que a fama bafeja 
Embacia-se a vida. 

Aos que a felicidade 
É sol, virá a noite. 
Mas ao que nada 'spera 
Tudo que vem é grato. 

Do que quero renego, se o querê-lo 
Me pesa na vontade. Nada que haja 
Vale que lhe concedamos 
Uma atenção que doa. 
Meu balde exponho à chuva, por ter água. 
Minha vontade, assim, ao mundo exponho, 
Recebo o que me é dado, 
E o que falta não quero. 

O que me é dado quero 
Depois de dado, grato. 

Nem quero mais que o dado 
Ou que o tido desejo.  

Fernando Pessoa (Ricardo Reis)




domingo, 1 de julho de 2012

Silicone Soul & Soul Clap , a alma duplamente ...



















Constatar, assim mesmo...
Ficar lúcido com delay, assim como não querendo tipo um tingir liquido de azuis,  depois azul mais escuro e de novo os azuis mais claros, agora a clarearem até tudo ficar alvo, branco, límpido...cheio de luz!
never ending history...
as portas da percepção atravessadas sem surpresa...
o nirvana particular aprofundado num só átomo, mais suculento, os caminhos opostos se aproximando em Zen , sossegando...











Nenhum ser nos foi concedido. Correnteza apenas 

Somos, fluindo de forma em forma docilmente: 
Movidos pela sede do ser atravessamos 
O dia, a noite, a gruta e a catedral 


Assim sem descanso as enchemos uma a uma 
E nenhuma nos é o lar, a ventura, a tormenta, 
Ora caminhamos sempre, ora somos sempre o visitante, 
A nós não chama o campo, o arado, a nós não cresce o pão 




Não sabemos o que de nós quer Deus 

Que, barro em suas mãos, connosco brinca, 
Barro mudo e moldável que não ri nem chora, 
Barro amassado que nunca coze 


Ser enfim como a pedra sólido! Durar uma vez! 
Eternamente vivo é este o nosso anseio 
Que medroso arrepio permanece apesar de eterno 
E nunca será o repouso no caminho 


Hermann Hesse










Tudo se me evapora. 
A minha vida inteira, as minhas recordações, a minha imaginação e o que contém, a minha personalidade, tudo se me evapora. 
Continuamente sinto que fui outro, que pensei outro. Aquilo a que assisto é um espectáculo com outro cenário. 
E aquilo a que assisto sou eu. 
Encontro às vezes, na confusão vulgar das minhas gavetas literárias, papéis escritos por mim há dez anos, há quinze anos, há mais anos talvez. E muitos deles me parecem de um estranho; desconheço-me deles. 
Houve quem os escrevesse, e fui eu. 
Senti-os eu, mas foi como em outra vida, de que houvesse agora despertado como de um sono alheio. 

Fernando Pessoa