segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Eduardo White, o poeta maldito...










                                                             






 Faleceu ontem o meu amigo, companheiro de viagens interiores alucinantes, parceiro de saltos no abismo das almas e também meu inimigo em discussões geradas nas muitas nossas noites de excessos... 

Foi-se embora e nem se despediu, foi como quem já tivesse partido faz muitos anos, ficaram no limbo as suas palavras tantas vezes vomitadas, de impulso gritado a despropósito ou a propósito de nada ou a doçura de suas rimas, dançando feito borboletas do paraíso nos perfumando as almas...
Palavras que construía com mestria nata, perfeitas , melodiosas, com sabor e cheiro, vivas !!

Eduardo é para mim o maior poeta de Moçambique e é também um dos maiores poetas da língua portuguesa e nem mesmo a insensibilidade com que o nosso país se despediu dele  fará mudar isso.
O mundo se renderá à sua obra mágica, ímpar e o colocará no lugar que já lhe estava reservado desde antes dos tempos... 

Eduardo era um poeta da tribo dos poetas malditos, sereno e sóbrio era o gentlemen, ébrio era um furacão que ninguém aguentava...

Rodava pelas barracas e vielas escuras de Maputo, seus ambientes de eleição, como uma assombração divina , chegava e a poesia se enchia de musas pairando à sua volta, as noites poderiam ir de loucas a insanas ou de solenes às lágrimas do desespero existencial...

Eduardo de lágrima fácil era um angustiado compulsivo e ao mesmo tempo um boémio da música, de humor sarcástico, ferino e sempre acompanhado por aquele seu riso sacanoide...
Eduardo White, a nossa terra perdeu o verdadeiro artesão mestre das palavras, perdeu essa fabricação contínua de poesia que te saia aos borbotões a toda a hora, tinhas só uma língua, tu falavas poesia, eras a poesia !
Adeus Eduardo White !!!! 











Quando a morte me chegar, não me dêem flores e nem discursos para moldar. Levem-me para casa, para que todos os dias possa voltar aos meus lugares de onde parti. Chamem pelo nome do meu País para que eu sinta as ruas que em vida percorri, chamem por ele, devagar, para que a morte saiba que não morri.

Quando eu morrer, não quero beleza das mulheres que eu amei perto de mim, antes quero os filhos onde toda vida eu cresci e quero-os belos nessa hora, e fortes e grandes como um rio para os celebrar, como uma linha de frio que mesmo, morto me faça sorrir e quero-os vivos e cheios de si, que do escuro onde me descobri se acenderá uma vela trémula de Deus e de mim.

Não quero padres nem missas que me encomendem, quero o barulho dos amigos com quem vivi, os que me deram as mãos quando precisei, os que nunca voltaram as costas quando eu enfraqueci, os que comigo beberam, os que comigo receberam o que a vida me deu e não percebi.

Quando morrer, digam um a um o nome das mulheres simples dsa minha Pátria, essa que a tornaram carne e chão, pão e vento, essas que têm estradas infinitas dentro de si e uma cama generosa para podermos dormir. E não lembrem os meus versos nesse dia que eles foram demasiado pequenos paar o merecerem e nem me demorem demasiado a velar e nem se compadeçam com os motivos porque não haverá gente para me chorar.

Quando eu morrer, recordem-se, se o puderem, quero um pedaço da terra onde eu brinquei e fui menino sobre o meu peito, uma goiaba, um pássaro que se solte do meu cadáver e que para o azul se incendeie e com isso me faça subir não para as luzes das estrelas que nunca quiz, mas para o infinito que ambicionei e pelo qual me perdi. Quero os rostos dos alfaiates sorrindo-me das velhas máquinas, das velhas fumando seus grossos cigarros em papel de caqui, quero campainha de uma ginga na magreza robusta de um pescador e uma cachaça de cana e um bolinho de sura para que a vida saiba que eu vivi.

Quando eu morrer não quero a íngua do luto, quero a lembrança de ter sido feliz, muito ou pouco, mal ou bem, quero isso que fui, quero isso que tive, quero tudo o que não dei nem nunca recebi para que seja pura a morte e se adoce como um fino licor de aniz. 

Por isso, quando eu partir, lembrem-se de Deus porque eu o vi, bebam com ele um copo e dancem e catem e abracem o Mundo como ele se abraçou a mim e acreditem que estarei convosco, e acreditem que beberei convosco, e acreditem que abraçarei o Mundo da mesma maneira que o escrevi.

E quando tiver chegado a hora de me estenderem nesse eterno repouso, nesse perpétuo sono onde me dividi, eu lembrar-vos-ei melhor por isso, mesmo que nunca o tenham sido, e lembrar-me-ei de mim, feliz, nessa hora que nunca quiz.

Mas se houver quem disto se ria, quem disto fizer gozo desmesurado, antes de morrer eu recordo-lhes que não quero na morte o que na vida me recusaram, nem eles, nem brilhantes, nem foguetes, nem gente se lembrando dela para que do morto se esqueça, nem nada que seja grande porque nunca o fui e nem que julgue hipócritamente poder merecer.

O que quero, quando eu morrer, haverá de ser TUDO o que a morte me levar do quase NADA que a vida se prestou a roubar-me. Tão sómente isso, eu quererei quando eu morrer.

Eduardo White






http://videos.sapo.mz/C1QLW0wTDQRZJNSy85kP

sábado, 19 de julho de 2014

Dalai Lama e o reggae de Chronixx









A um palmo de ser pleno e sendo-o já na sua plenitude interior,
o homem que planta naquele jardim as flores do adeus, espera...
Espera que ser feliz não seja uma doce quimera...

Acredita e sente que sim, que vai ser
Sabe que tem a tranquilidade e que só pode ser assim !!







Embora seja possível atingir a felicidade, a felicidade não é uma coisa simples. Existem muitos níveis. O Budismo, por exemplo, refere-se a quatro factores de contentamento ou felicidade: os bens materiais, a satisfação mundana, a espiritualidade e a iluminação. O conjunto destes factores abarca a totalidade da busca pessoal de felicidade. Deixemos de lado, por ora, as aspirações últimas a nível religioso ou espiritual, como a perfeição e a iluminação, e concentremo-nos unicamente sobre a alegria e a felicidade, tal como as concebemos a nível mundano. A este nível, existem certos elementos-chave que nós reconhecemos convencionalmente como contribuindo para o bem-estar e a felicidade. A saúde, por exemplo, é considerada como um factor necessário para o bem-estar. Um outro factor são as condições materiais ou os bens que possuímos. Ter amigos e companheiros, é outro. Todos nós concordamos que para termos uma vida feliz precisamos de um círculo de amigos com quem nos possamos relacionar emocionalmente e em quem possamos confiar.








Portanto, todos estes factores são causas de felicidade. Mas para que um indivíduo possa utilizá-los plenamente e gozar de uma vida feliz e preenchida, a chave é o estado de espírito. É crucial. Se utilizarmos as condições favoráveis que possuímos, tais como a saúde ou a riqueza, com fins positivos, para ajudar os outros, esses factores contribuem para uma vida mais feliz. 
Claro que, pessoalmente, também tiramos partido destas coisas —-facilidades materiais, sucesso, etc., mas se não tivermos a atitude mental correcta, se não cuidarmos do factor mental, estas coisas acabam por ter pouca incidência sobre o sentimento geral de felicidade. Por exemplo, se guardarmos ódio ou rancor no fundo de nós mesmos, isso acabará por destruir a nossa saúde, destruindo assim um dos factores. Por outro lado, se nos sentirmos infelizes ou frustrados, o conforto material não chegará para nos compensar. Mas se mantivermos um estado de espírito calmo e sereno, poderemos sentir-nos felizes mesmo se a nossa saúde não for das melhores. Em contrapartida, mesmo se possuirmos objectos raros ou preciosos, podemos querer deitá-los fora ou destruí-los num momento de grande cólera ou ódio. Nesse momento, os bens não significam nada para nós.








Existem actualmente sociedades com um grande grau de desenvolvimento material e no seio das quais muitos indivíduos não se sentem felizes. A nível superficial, essa abundância é muito atraente, mas por trás existe um desassossego mental que leva à frustração, a discórdias desnecessárias, à dependência das drogas ou do álcool e, no pior dos casos, ao suicídio. Não existe portanto nenhuma garantia de que a riqueza por si só possa trazer-nos a alegria ou a satisfação que procuramos. O mesmo se pode dizer dos amigos. Quando estamos muito zangados, mesmo um amigo muito próximo pode parecer-nos glacial, frio, distante e muito irritante. 
Tudo isto indica a enorme influência que o estado de espírito, o factor mental, pode ter na nossa vivência de todos os dias. Portanto, temos de ter esse factor seriamente em linha de conta. Independentemente de uma prática espiritual, mesmo em termos mundanos, a nossa capacidade de desfrutar de uma vida agradável e feliz depende da nossa serenidade mental. 
Talvez devesse acrescentar que quando falamos de um estado de espírito calmo ou de paz de espírito não devemos confundir isso com um estado de insensibilidade ou de apatia. Possuir um estado de espírito calmo não significa estar completamente alheado ou amorfo. A paz de espírito, esse estado de serenidade, tem de estar enraizado na afeição e na compaixão, o que implica um grande nível de sensibilidade e de sentimento.









Enquanto nos faltar a disciplina interior que conduz à serenidade, sejam quais forem as facilidades ou as condições exteriores que nos rodeiam, elas nunca nos trarão esse sentimento de alegria e de felicidade que procuramos. Por outro lado, se possuirmos as qualidades interiores de serenidade e de estabilidade, mesmo que os factores exteriores de conforto normalmente considerados como indispensáveis à felicidade não estejam em nossa posse, podemos ter uma vida alegre e feliz. 

Dalai Lama, in 'The Art of Happiness'












sexta-feira, 11 de julho de 2014

O Buddha na lucidez de Pessoa


















Ninguém a outro ama, senão que ama
O que de si há nele, ou é suposto.
Nada te pese que não te amem. Sentem-te
Quem és, e és estrangeiro.
Cura de ser quem és, amam-te ou nunca.
Firme contigo, sofrerás avaro
De penas.










Não só quem nos odeia ou nos inveja
Nos limita e oprime; quem nos ama
Não menos nos limita.
Que os deuses me concedam que, despido
De afetos, tenha a fria liberdade
Dos píncaros sem nada.
Quem quer pouco, tem tudo; quem quer nada
É livre; quem não tem, e não deseja,
Homem, é igual aos deuses.







Não queiras, Lídia, edificar no spaço
Que figuras futuro, ou prometer-te
Amanhã.  Cumpre-te hoje, não 'sperando.
Tu mesma és tua vida.
Não te destines, que não és futura.
Quem sabe se, entre a taça que esvazias,
E ela de novo enchida, não te a sorte
Interpõe o abismo?








Não quero as oferendas
Com que fingis, sinceros
Dar-me os dons que me dais.
Dais-me o que perderei,
Chorando-o, duas vezes,
Por vosso e meu, perdido.
Antes mo prometais
Sem mo dardes, que a perda
Será mais na 'sperança
Que na recordação.
Não terei mais desgosto
Que o contínuo da vida,
Vendo que com os dias
Tarda o que 'spera, e é nada




                                       





 





poesia de Fernando Pessoa 

         

sexta-feira, 27 de junho de 2014

O suicídio das borboletas - music by Lenny Kravitz



















Um dia levantar-se-ão ventos tépidos e acariciantes e as borboletas rodopiarão pelo salão.
Como cores de aguarela dançarão pelo chão de pólen enquanto vozes em surdina chorarão seus sonhos perdidos em tons dos blues dos despojados...
Os aromas das várias flores levitarão e as borboletas se embriagarão, perdidas de tesão beijarão os espelhos.
Arrancarão depois as asas e sem cor cairão extenuadas, olhando ajoelhadas o reflexo decrépito do corpo nu de lagarta desmembrada









Pestanas longas ocultam o olho visionário, o olho de água e fogo que vê para além do sol e para além do purgatório.
Por trás deste olho um crânio de ideais falhados e sonhos esburacados.
Por dentro daquele sujeito amores felizes e paixões intensas se levantaram como ténues correntes dum qualquer calmo oceano, e tudo arrastaram para as areias desertas de uma qualquer ilha perdida.
Náufrago numa terra de borboletas exóticas, viverá como adestrador de casulos, orquestrador e circense, inventará a valsa dos insectos suicidas.







Enquanto a incúria, o boçalismo, a arrogância, a cobiça e tantos outros podres permanecerem, o destino de nós todos será o de permanecermos escravos, apáticos, conformados, medíocres, pobres ou então teremos de acordar e lutar pela nossa dignidade.

 Temos de ter tomates, deixar o conforto da cobardia  e dizer BASTA !!!  





   

terça-feira, 6 de maio de 2014

Tarrus no país da cobardia






















Como a tormenta que se não adivinha, a chuva miúda ia borrifando nossos dias com incertezas e apreensões aos magotes  e mesmo assim íamos seguindo nossas vidas...
A morrinha que caía mais nuns dias do que noutros deixou de o ser e rapidamente se está a transformar em  chuva grossa,  a nós só nos resta esperar que não vire uma tempestade destruidora....
O desfecho  é mais que sabido e caminhamos sim para aquilo que nós, a maioria,  não queríamos que acontecesse mas que no intimo de cada um de nós,  sabíamos que iria acontecer, a guerra  ...









Como uma máquina gigante, surreal, que surge no horizonte da ficção cientifica e esmaga tudo à sua passagem ou como o ciclone que girando a uma velocidade alucinante segue lentamente moendo tudo à sua passagem, esta borrasca promete nos deixar de novo de rastos, esmagados contra o chão, nus, sem direito a sonhar ou a querer...
As rajadas já varrem vidas faz tempo mas agora a fúria já aumentada grita com voz de trovão e nós nos agachamos, nos estendemos colados ao asfalto, nos escondemos em baixo dos autocarros enquanto os morteiros entram em acção e vomitam desprezo, despeito, desrespeito, desgraça....








A dignidade de cada um de nós está moribunda e junto com ela o respeito por nós próprios há muito que apodreceu e não existe medicina nem religião que sare essa cobardia, essa má formação congénita de um  provável cidadão  de um país que nasceu doente...
O cidadão sonhado, de um  país que ainda não existia, anunciado com o fervor de ser o seu maior anseio, por  Craveirinha, continua adiado....
Somos um povo humilde e submisso, que grilhetas nos colocaram nossos ancestrais que não conseguimos gritar a nossa indignação, lutar  e ao invés disso  nos deixamos violar?









Porque não somos guerreiros?
Porque não nos manifestamos e não lutamos pelos nossos direitos?
Porque nos agachamos e nos escondemos heróis atrás do teclado e depois  mostramos sorrisos falsos, comprometidos, convenientes  em público ?
Porque não fazemos nada e aceitamos ser cúmplices conscientes  dos crimes dos nossos algozes?
Assim sendo devemos aceitar que temos o país e o governo que merecemos !!
Somos fracos, sem personalidade e sem sentido de pátria !!!
Somos cobardes e como tal temos o país no estado em que está, um país raptado, rapinado,  à beira do precipício   !!







quinta-feira, 1 de maio de 2014

Gabo de Macondo para Maputo ...







                                  










 Macondo cresce a partir de um pequeno assentamento num lugar isolado e com quase nenhum contacto com o mundo exterior, para eventualmente tornar-se num grande e próspero lugar que  antes era apenas um bananal. O estabelecimento do bananal vai levar Macondo à queda, a que se segue  uma gigantesca tempestade de vento que vai limpa-la do mapa. Enquanto a cidade cresce e até cair , as diferentes gerações da família Buendía desempenham um papel importante, contribuindo para seu desenvolvimento e para o seu fim.












Segundo a Ministra, na administração pública, defesa e segurança, a taxa de reajuste salarial é de oito por cento, um incremento de 222,40 MT, fixando o salário mínimo em 3.002,4 MT.
No sector da pesca semi-industrial, a taxa de reajuste é de 11,1 por cento, um acréscimo de 317 MT, o que eleva o salário mínimo para 3.167 MT, enquanto o da pesca de Kapenta o reajuste é na ordem de oito por cento, correspondente a um incremento de 212 MT, fixando o salário mínimo em 2.857 MT.
Para as pedreiras e areeiros, o salario mínimo passou para 4.316 MT, resultante do reajuste de 11 por cento, o correspondente a 428 MT, enquanto o subsector de salinas o reajuste de 3,15 por cento aumentou 122,47 MT, elevando o mínimo para 4.010 MT.
etc etc etc...
O salário dos médicos não sofreu nenhum reajuste
                                                                 1 USD = 32 MZN









                                                                                                              ciganos em Macondo





A cidade de Macondo foi fundada por José Arcadio Buendía e os membros de sua expedição, composta de vários amigos, esposas, filhos, animais de estimação e todos os tipos de utensílios
O seu objectivo era cruzar a oeste de montanhas em busca de uma saída para o mar. O sítio onde nasceu Macondo era o lugar onde uma noite, depois de ter vagado  26 meses pelo mundo, José Arcadio Buendía sonhou que estava  numa cidade barulhenta, com casas de paredes de espelho, cujo nome era Macondo








Na Assembleia da Republica os representantes do “povo” ganham, no mínimo, 68.273,50 meticais. Isto é, um pouco mais do que 27 vezes o valor pecuniário que é pago ao cidadão que menos ganha no país.









 A casa dos Buendía é ampliada  várias vezes para acomodar descendentes, cônjuges e também os visitantes . 
O Laboratório Alquimia situava-se na mesma.






A Assembleia da República aprovou ontem, em definitivo, a proposta de lei que fixa as regalias do Presidente da República, em exercício e após a cessação de funções.
“uma viagem anual de férias para qualquer parte do mundo em voo de primeira classe e ajudas de custos” para o presidente cessante “cônjuges e filhos menores ou incapazes. A lei aprovada determina que, após a cessação de funções, o presidente venha a usufruir de um subsídio de reintegração equivalente a “dez anos de vencimento-base actualizado”
 “verba destinada à manutenção e equipamento da sua residência, entre outros subsídios”
o Estado deverá reservar 46,2 milhões de meticais para garantir “dignidade” ao Chefe de Estado em exercício e cessante









Macondo é destruída por um ciclone e na sua destruição também morre o último descendente da família Buendía.,,







segunda-feira, 3 de março de 2014

Ir atrás das palavras com Jazz







                










Saudades de escrever de supetão, com as palavras a arfar, a gritarem desespero e angústias...
Vomitar as dores e as náuseas da condição humana, fazer as letras estremecerem e se encherem de lágrimas...

Onde está essa alma perturbada, sem esperança, rastejando pelos becos do desencontro, onde está?






 




Ah !  A felicidade e a plenitude deram cabo desse ser avinagrado a copos de vinho e intoxicado a fumos de levitação... eternamente enquanto dure, soi dizer-se ...
Saudades da poesia corrosiva, da miscelânea de pensamentos ansiosos, de urgências de pranto e de raivas assassinas a abarrotar...
O amor é fatal para quem ama a maldição dos sentires pungentes, para quem se descreve pela dor em palavras lavradas a sangue..









Ah ! A insatisfação é uma das fraquezas maiores dos humanos, só queremos estar onde não estamos e nada nos satisfaz, somos ambíguos e fomos feitos para ser felizes e infelizes, nunca seremos algo equilibrado, seremos sempre carentes de barriga cheia ou plenos de vazios e sorrisos.











Falar e dizer banalidades ou calar e mastigar o fel da sabedoria parida a ferros, entre dentes cerrados de insubmissão ou a entrega macia à doçura e ao carinho .
Sobra a possibilidade do improviso, da divagação sem rumo, sobra o prazer de dizer e eu digo.
Sou e estou feliz e mesmo assim rasgo palavras ao sabor doutros sentires, crio verdades falsas, desfaço torrões de sal no açucar !!








segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Os Beatles e a falta de inspiração























                             

















   





                           




                     



Escrever devia ser fruto da alegria, da felicidade, do prazer, de textos lindos, de música feita de palavras, mas para alguns é esse estado de alma que simplesmente demite a inspiração...
Para alguns a dor, a angústia, o sofrimento, são os catalisadores de palavras profundas que viram escritos vindos de precipícios, dos abismos escuros da alma...
O vazio do branco imaculado duma folha por escrever, não faz mossa nessa minha afortunada falta de inspiração !!







                             












 

















                                             
























                            





quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Bukowski & Old Rock















se não sai de ti a explodir
apesar de tudo,
não o faças.
a menos que saia sem perguntar do teu
coração, da tua cabeça, da tua boca
das tuas entranhas,
não o faças.
se tens que estar horas sentado
a olhar para um ecrã de computador
ou curvado sobre a tua
máquina de escrever
procurando as palavras,
não o faças.
se o fazes por dinheiro ou fama,
não o faças.
se o fazes para teres
mulheres na tua cama,
não o faças.
se tens que te sentar e
reescrever uma e outra vez,
não o faças.
se dá trabalho só pensar em fazê-lo,
não o faças.
se tentas escrever como outros escreveram,
não o faças.







se tens que esperar para que saia de ti
a gritar,
então espera pacientemente.
se nunca sair de ti a gritar,
faz outra coisa.
 se tens que o ler primeiro à tua mulher 
ou namorada ou namorado 
ou pais ou a quem quer que seja,
não estás preparado.









não sejas como muitos escritores,
não sejas como milhares de
pessoas que se consideram escritores,
não sejas chato nem aborrecido e
pedante, não te consumas com auto-
— devoção.
as bibliotecas de todo o mundo têm
bocejado até
adormecer
com os da tua espécie.
não sejas mais um.
não o faças.
a menos que saia da
tua alma como um míssil,
a menos que o estar parado
te leve à loucura ou
ao suicídio ou homicídio,
não o faças.
a menos que o sol dentro de ti
te queime as tripas,
não o faças.










quando chegar mesmo a altura,
e se foste escolhido,
vai acontecer
por si só e continuará a acontecer
até que tu morras ou morra em ti.
não há outra alternativa.
e nunca houve.

Charles Bukowski







quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Amor & Ódio




                                  AMOR








 



                                  

A luz no paraíso é feita de azuis, desbotam o mar em tons de aguarela
Feito de carinho e doçura o amor se transforma em sublime existir
O tacto é transparente e as almas se enroscam num sufocado abraço terno
Nas miríades de luz e amor, a dor se desvanece em certezas de alegria e rejubilo
Conchas e búzios alaranjados, roxos e brancos imaculados enfeitam as areias virgens
Amar dando como que brotando de dentro o nosso melhor, até mesmo o melhor que não sabíamos ter
A pele de cobre se torra e transforma-se em café escuro e o sorriso estampado de branco se ilumina
O mar presente é sublime na sua quietude, um mar desfeito pelas ilhas, rendido, acaricia, belíssimo!




                                             
  ÓDIO
                                     


                                 











                             


Nas matas flutuam os espíritos de muitas dezenas de meninos desta nação em pânico...
As balas ceifam os jovens que mereciam ter vivido as suas vidas, os seus sonhos
Nas matas do meu país os  irmãos como quizumbas enfeitiçadas focinham no próprio sangue ...
Ah... as mães não sabem que os seus filhos já morreram, as mães estão amordaçadas na própria dor
Elas não choram por saber dos filhos mortos, choram sim por não saber se os filhos ainda vivem...
Nas matas da minha amada terra a maldição se mantém, a paz foi envenenada ou enfeitiçada
Nós filhos e avós, juntos temos de lutar e pedir aos muzimos que nos ajudem a quebrar o mal
As matas precisam ser purificadas e de campo de morte se transformar em campos de cultivo
Nós os filhos da nossa terra queremos que a vida seja o nosso bem mais precioso, incondicionalmente!! 




   







quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O doce veneno da melancolia...








                                  












Nada! 

Horas e horas neste ponto morto 
Onde caiu agora a minha vida... 
Nem um desejo, ao menos! 
Só instintos pequenos: 
Apetite de cama e de comida! 

Nem sequer ler um livro 
Ou conversar comigo, discutir... 
Nada! 
Neutro, morno, a dormir 
Com a carne acordada. 

Miguel Torga












O prazer profundo, inefável, que é andar por estes campos desertos e varridos pela ventania, subir uma encosta difícil e olhar lá de cima a paisagem negra, escalvada, despir a camisa para sentir directamente na pele a agitação furiosa do ar, e depois compreender que não se pode fazer mais nada, as ervas secas, rente ao chão, estremecem, as nuvens roçam por um instante os cumes dos montes e afastam-se em direcção ao mar, e o espírito entra numa espécie de transe, cresce, dilata-se, não tarda que estale de felicidade.
Que mais resta, então, senão chorar? 


José Saramago















Dei-te os dias, as horas e os minutos 
Destes anos de vida que passaram; 
Nos meus versos ficaram 
Imagens que são máscaras anónimas 
Do teu rosto proibido; 
A fome insatisfeita que senti 
Era de ti, 
Fome do instinto que não foi ouvido. 

Agora retrocedo, leio os versos, 
Conto as desilusões no rol do coração, 
Recordo o pesadelo dos desejos, 
Olho o deserto humano desolado, 
E pergunto porquê, por que razão 
Nas dunas do teu peito o vento passa 
Sem tropeçar na graça 
Do mais leve sinal da minha mão... 

Miguel Torga













Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida, eu vou te amar
Em cada despedida, eu vou te amar
Desesperadamente
Eu sei que vou te amar

E cada verso meu será
Pra te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida

Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua, eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta tua ausência me causou

Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
À espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida

Vinicius de Moraes






quinta-feira, 28 de novembro de 2013

O Buddha falou assim...











A essência do Budismo está no caminho que nos leva á libertação do sofrimento..
Tarefa utópica mas ao mesmo tempo verdadeira e longa, quase direi humanamente impossível  ...
O sofrimento é o veneno que nos corrói e retira todo o significado á nossa existência
Este sofrimento na forma sentida pelo Buddha é mais próximo do sentimento de insatisfação, a nossa insatisfação, estamos felizes agora e daqui a pouco já não estamos...
Vivemos sempre nos extremos e a única forma de vida sem sofrer é a do meio, o equilíbrio é o caminho para se sair do ciclo do sofrimento. 







O Buddha diz que este sofrimento que todos sentimos tem uma causa, e essa causa está dentro de cada um de nós.
Ele depois explica que a causa é o desejo, a forma como nós lidamos com os nossos desejos mais íntimos, os verdadeiros.
O desejo tem de existir, o desejo de sermos melhores pessoas, o desejo saudável, o desejo nas suas vertentes extremas não, esse desejo causa o sofrimento. 
O Buddha deu como que uma receita para se poder viver sem o sofrimento permanente.
" Disciplina moral, consciência plena e sabedoria. "










Felicidade, Nirvana, o Buddha ensinou, podem ser encontrados no momento fugaz e na prática da meditação.
O Buddha nos ensinou como chegar a um acordo com os nossos pensamentos e desejos agitados, se nós nos tornarmos conscientes, mais atentos, ficaremos mais perto do entendimento e da tranquilidade.
" Muitas vezes a nossa mente não está tranquila o bastante. Então percebemos que talvez necessitemos de entender mais sobre a própria mente e como equilibrar as próprias emoções, como equilibrar a nossa mente e tentar cultivar mais felicidade "








Meditação não é para nos livrarmos da raiva ou da luxúria ou do ciúme. O que ocorre com frequência nas nossas vidas quotidianas é que sempre que experimentamos essas emoções, ficamos presos a elas.Elas começam a roer-nos, torcer-nos por dentro.Mas o budismo vai passando por dentro delas e saindo calmamente e isso traz-nos mais alegria.Nós não estamos a viver uma verdade parcial mas sim um conjunto de coisas juntas.
Interessante que o Buddha diz que todos nós somos Buddhas, apenas não nos revelamos, nosso ser Buddha está submerso em sofrimento, nós estamos demasiado ocupados com o corpo e tudo o que ele sente e deseja, desesperando para o satisfazer.

...inpirado pelo filme "The Buddha "(2010) David Grubin







sábado, 23 de novembro de 2013

Love me, love me not...
















Love, love, love


Noite de um verão qualquer e o amor a roer feito rato esfomeado num naco de queijo, trincando...
O amar é uma foda, é a certeza de que te vais espetar numa curva qualquer
O alvoroço da paixão, do sexo, nos embriaga, enfeitiça e tudo fica sem nome


Amar é fodido, fica colado e só te apercebes o quanto está colado quando chega a hora de descolar
Love, I love you, amo-te, tudo brotando como lava, um sentir prazer enfeitiçado, mas acaba e ai...











Fodido saber que acabou mas querer mais, os factos dizendo da diferença de planetas donde viemos, as linguagens intraduziveis ...mas mesmo assim  a tesão do corpo e as auras se fundindo para além de todas as diferenças que nos separam....
Como febre, dependente, viciado eu quero mais, mesmo sabendo que não haverá mais, queres incondicionalmente mais ...


Amar é uma dor fodida, acho que uma sensação até maior que o êxtase que a alegria e o prazer  que o próprio amar nos trás, ela faz morrer por dentro, ela deixa-nos sem alma, zombies, nos leva a todas as fronteiras do sentir ...










Amar é uma experiência única, é como que uma devoção mas natural, é a entrega de tudo o que de melhor temos...e ai, porque te deste por inteiro sem que ninguém te pedisse, no teu íntimo esperas a divina justiça, o merecimento e pensas que com todo esse sentimento verdadeiro tudo irá acontecer...
Egoísmo e ingenuidade, azar na carta fechada, mas a paixão é fortíssima e aos trancos e barrancos vais para o céu e desces ao inferno... o nível de adrenalina e desespero sempre a aumentar e logicamente que tem de ter um fim, não sobrevive, o amor tem fim, não existem amores eternos !!!











Love, I love you, nunca amei ninguém desse jeito, nuncaaaaaaaaaa, mas não funciona.....como fazer?
Dói para cacete mas lucidez e bom senso me empurraram para esta dor fodida, como dizia uma querida amiga, se um não quer dois não fazem...
Love, love, love, fuck love !!!!




sábado, 16 de novembro de 2013

um beco com reggae...













Reggae music embalando a tarde de sábado, o cidadão entorpecido pelos dias de instabilidade 
vai se consumindo numa amnésia étilica, a música aos berros, o cidadão repete a rotina de todos fins de semana mas algo soa a falso.
O pessoal vai fazendo o mesmo de todos os fins de semana mas algo estranho, impalpável, não deixa que a alegria, a festa habitual  seja como todas as outras do passado muito recente .








O saco vem enchendo e o cheiro agora já se vai alastrando, como um perfume nauseabundo a intolerância  o orgulho e o ódio enchem o éter e mesmo que não queiramos ele ali está presente, nos agoniando, tirando-nos a bênção da tranquilidade.
Um dia perfeito de Verão africano, o movimento nas barracas, a enchente na praia, a música no ar, as vozes eufóricas nas combinações das farras, tudo igual mas por dentro a agonia da incerteza  triturando a esperança que já é escassa.









No cérebro da internet percorremos cada vez mais os canais que dizem sobre as guerras, que falam das catástrofes, nos dias de hoje não tem mais como se evitar isso e é assustador o facto de sermos esse tipo de notícia ...
As noticias ao minuto sobre o caos que se está a instalar na nossa terra fazem-me lembrar do impacto da primeira guerra do golfo, a primeira guerra em directo, hoje isso está institucionalizado e então somos bombardeados com todo tipo informação, acontecimentos dramáticos que estão misteriosamente a acontecer ao mesmo tempo, no momento, raptos, ataques militares, discursos inflamados, tudo isso chovendo nas nossas cabeças, a realidade legitimando tudo, sem dó nem piedade estamos a ser massacrados .









Somos prisioneiros de outras vontades que nos são desconhecidas por completo e quase explodimos !
As nossas vidas seguem ao sabor do acaso, os nossos direitos humanos não contam para nada, só nos resta esperar surrealmente que algo aconteça e tudo se resolva definitivamente, sonhar com isso...
Entretanto enquanto não acontece nada nós continuamos decididos a viver, a trabalhar, a lutar, a amar e por ai adiante ...
O tempo se encarregará de nos revelar o fim desta triste história.
Paz, por favor.










sábado, 9 de novembro de 2013

Hesse & Moska







                                     














A serenidade não é feita nem de troça nem de narcisismo, é conhecimento supremo e amor, afirmação da realidade, atenção desperta junto à borda dos grandes fundos e de todos os abismos; é uma virtude dos santos e dos cavaleiros, é indestrutível e cresce com a idade e a aproximação da morte. É o segredo da beleza e a verdadeira substância de toda a arte. O poeta que celebra, na dança dos seus versos, as magnificências e os terrores da vida, o músico que lhes dá os tons  duma pura presença, trazem-nos a luz; aumentam a alegria e a clareza sobre a Terra, mesmo se primeiro nos fazem passar por lágrimas e emoções dolorosas.














Talvez o poeta cujos versos nos encantam tenha sido um triste solitário, e o músico um sonhador melancólico: isso não impede que as suas obras participem da serenidade dos deuses e das estrelas. O que eles nos dão, não são mais as suas trevas, a sua dor ou o seu medo, é uma gota de luz pura, de eterna serenidade. 

Mesmo quando povos inteiros, línguas inteiras, procuram explorar as profundezas cósmicas em mitos, cosmogonias, religiões, o último e supremo termo que poderão atingir é essa serenidade.












A verdade é um ideal tipicamente jovem, o amor  por seu turno, um ideal das pessoas maduras e daqueles que se esforçam por estar preparados para enfrentar a diminuição das energias e a morte. 

As pessoas que pensam só deixam de ambicionar a verdade quando se dão conta que o ser humano está extraordinariamente mal dotado pela natureza para o reconhecimento da verdade objectiva, pelo que a busca da verdade não poderá ser a actividade humana por excelência.












Mas também aqueles que jamais chegam a tais conclusões fazem, no decurso das suas experiências inconscientes, um percurso semelhante.
Ter consigo a verdade, a razão e o conhecimento, conseguir distinguir com precisão entre o Bem e o Mal, e, em consequência disso, poder julgar, punir e sentenciar, poder fazer e declarar a guerra - tudo isto é próprio dos jovens e é à juventude que assenta bem.
Se, porém, quando envelhecemos, continuamos a ater-nos a estes ideais, fenece a já de si pouco vigorosa capacidade de «despertar» que possuímos, a capacidade de reconhecer instintivamente a verdade sobre-humana.

Hermann Hesse











quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Flores murchas e um País doente ...






                                                       










 Dizia o primeiro presidente deste país que as crianças são flores que nunca murcham, mas murcham sim, estão cada vez mais murchas, sofrem como que uma praga, morrem aos poucos, se descolorem e agonizam pelos vãos de escada e pelos passeios mais imundos desta cidade.










As flores e o resto do meu  povo estão morrendo, se esvaindo em sangue, a inocência destes meninos vai murchando e secando e por entre as balas que cruzam nossa pátria, as populações vagam sem rumo, sem hipótese de se esquivarem da matança e entre elas caminham os velhos, as mulheres desamparadas e as nossas flores murchando.












A sobrevivência dum povo está a ser posta em causa, somos filhos com pais legítimos e estamos sendo tratados como órfãos abandonados, como seres insignificantes , quase diria que somos transparentes aos olhares cruéis de quem já perdeu a razão mas mesmo assim controla os desígnios deste povo.














A mentira grassa, o desprezo pela  maioria é assaz surreal e as utopias se tornam reais e incompreensíveis.
Neste momento terrível sobrou-me apenas a vontade de colocar estas fotos que não necessitam de legendas, elas são o retrato real desta nossa triste realidade.











Os meninos que erram pelas artérias desta urbe são ás dezenas e retratam toda a insensibilidade, todo o desprezo a que fomos votados, enquanto discursos e ódios e preparativos para batalhas impensáveis vão sendo feitos e sem direito a cidadania  vemos estes algozes  tomando conta do nosso presente e do nosso futuro.










A paz e a solidariedade parecem definitivamente esquecidas, sobraram só a ganância cega pelo poder e as reclamações mortíferas duma oposição também cega, proferidas a balas assassinas .
Estamos perdidos e sem qualquer tipo de esperança, que os Deuses desçam dos céus e nos acudam  !!

fotos de Féling Capela