segunda-feira, 3 de março de 2014

Ir atrás das palavras com Jazz







                










Saudades de escrever de supetão, com as palavras a arfar, a gritarem desespero e angústias...
Vomitar as dores e as náuseas da condição humana, fazer as letras estremecerem e se encherem de lágrimas...

Onde está essa alma perturbada, sem esperança, rastejando pelos becos do desencontro, onde está?






 




Ah !  A felicidade e a plenitude deram cabo desse ser avinagrado a copos de vinho e intoxicado a fumos de levitação... eternamente enquanto dure, soi dizer-se ...
Saudades da poesia corrosiva, da miscelânea de pensamentos ansiosos, de urgências de pranto e de raivas assassinas a abarrotar...
O amor é fatal para quem ama a maldição dos sentires pungentes, para quem se descreve pela dor em palavras lavradas a sangue..









Ah ! A insatisfação é uma das fraquezas maiores dos humanos, só queremos estar onde não estamos e nada nos satisfaz, somos ambíguos e fomos feitos para ser felizes e infelizes, nunca seremos algo equilibrado, seremos sempre carentes de barriga cheia ou plenos de vazios e sorrisos.











Falar e dizer banalidades ou calar e mastigar o fel da sabedoria parida a ferros, entre dentes cerrados de insubmissão ou a entrega macia à doçura e ao carinho .
Sobra a possibilidade do improviso, da divagação sem rumo, sobra o prazer de dizer e eu digo.
Sou e estou feliz e mesmo assim rasgo palavras ao sabor doutros sentires, crio verdades falsas, desfaço torrões de sal no açucar !!








segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Os Beatles e a falta de inspiração























                             

















   





                           




                     



Escrever devia ser fruto da alegria, da felicidade, do prazer, de textos lindos, de música feita de palavras, mas para alguns é esse estado de alma que simplesmente demite a inspiração...
Para alguns a dor, a angústia, o sofrimento, são os catalisadores de palavras profundas que viram escritos vindos de precipícios, dos abismos escuros da alma...
O vazio do branco imaculado duma folha por escrever, não faz mossa nessa minha afortunada falta de inspiração !!







                             












 

















                                             
























                            





quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Bukowski & Old Rock















se não sai de ti a explodir
apesar de tudo,
não o faças.
a menos que saia sem perguntar do teu
coração, da tua cabeça, da tua boca
das tuas entranhas,
não o faças.
se tens que estar horas sentado
a olhar para um ecrã de computador
ou curvado sobre a tua
máquina de escrever
procurando as palavras,
não o faças.
se o fazes por dinheiro ou fama,
não o faças.
se o fazes para teres
mulheres na tua cama,
não o faças.
se tens que te sentar e
reescrever uma e outra vez,
não o faças.
se dá trabalho só pensar em fazê-lo,
não o faças.
se tentas escrever como outros escreveram,
não o faças.







se tens que esperar para que saia de ti
a gritar,
então espera pacientemente.
se nunca sair de ti a gritar,
faz outra coisa.
 se tens que o ler primeiro à tua mulher 
ou namorada ou namorado 
ou pais ou a quem quer que seja,
não estás preparado.









não sejas como muitos escritores,
não sejas como milhares de
pessoas que se consideram escritores,
não sejas chato nem aborrecido e
pedante, não te consumas com auto-
— devoção.
as bibliotecas de todo o mundo têm
bocejado até
adormecer
com os da tua espécie.
não sejas mais um.
não o faças.
a menos que saia da
tua alma como um míssil,
a menos que o estar parado
te leve à loucura ou
ao suicídio ou homicídio,
não o faças.
a menos que o sol dentro de ti
te queime as tripas,
não o faças.










quando chegar mesmo a altura,
e se foste escolhido,
vai acontecer
por si só e continuará a acontecer
até que tu morras ou morra em ti.
não há outra alternativa.
e nunca houve.

Charles Bukowski







quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Amor & Ódio




                                  AMOR








 



                                  

A luz no paraíso é feita de azuis, desbotam o mar em tons de aguarela
Feito de carinho e doçura o amor se transforma em sublime existir
O tacto é transparente e as almas se enroscam num sufocado abraço terno
Nas miríades de luz e amor, a dor se desvanece em certezas de alegria e rejubilo
Conchas e búzios alaranjados, roxos e brancos imaculados enfeitam as areias virgens
Amar dando como que brotando de dentro o nosso melhor, até mesmo o melhor que não sabíamos ter
A pele de cobre se torra e transforma-se em café escuro e o sorriso estampado de branco se ilumina
O mar presente é sublime na sua quietude, um mar desfeito pelas ilhas, rendido, acaricia, belíssimo!




                                             
  ÓDIO
                                     


                                 











                             


Nas matas flutuam os espíritos de muitas dezenas de meninos desta nação em pânico...
As balas ceifam os jovens que mereciam ter vivido as suas vidas, os seus sonhos
Nas matas do meu país os  irmãos como quizumbas enfeitiçadas focinham no próprio sangue ...
Ah... as mães não sabem que os seus filhos já morreram, as mães estão amordaçadas na própria dor
Elas não choram por saber dos filhos mortos, choram sim por não saber se os filhos ainda vivem...
Nas matas da minha amada terra a maldição se mantém, a paz foi envenenada ou enfeitiçada
Nós filhos e avós, juntos temos de lutar e pedir aos muzimos que nos ajudem a quebrar o mal
As matas precisam ser purificadas e de campo de morte se transformar em campos de cultivo
Nós os filhos da nossa terra queremos que a vida seja o nosso bem mais precioso, incondicionalmente!! 




   







quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O doce veneno da melancolia...








                                  












Nada! 

Horas e horas neste ponto morto 
Onde caiu agora a minha vida... 
Nem um desejo, ao menos! 
Só instintos pequenos: 
Apetite de cama e de comida! 

Nem sequer ler um livro 
Ou conversar comigo, discutir... 
Nada! 
Neutro, morno, a dormir 
Com a carne acordada. 

Miguel Torga












O prazer profundo, inefável, que é andar por estes campos desertos e varridos pela ventania, subir uma encosta difícil e olhar lá de cima a paisagem negra, escalvada, despir a camisa para sentir directamente na pele a agitação furiosa do ar, e depois compreender que não se pode fazer mais nada, as ervas secas, rente ao chão, estremecem, as nuvens roçam por um instante os cumes dos montes e afastam-se em direcção ao mar, e o espírito entra numa espécie de transe, cresce, dilata-se, não tarda que estale de felicidade.
Que mais resta, então, senão chorar? 


José Saramago















Dei-te os dias, as horas e os minutos 
Destes anos de vida que passaram; 
Nos meus versos ficaram 
Imagens que são máscaras anónimas 
Do teu rosto proibido; 
A fome insatisfeita que senti 
Era de ti, 
Fome do instinto que não foi ouvido. 

Agora retrocedo, leio os versos, 
Conto as desilusões no rol do coração, 
Recordo o pesadelo dos desejos, 
Olho o deserto humano desolado, 
E pergunto porquê, por que razão 
Nas dunas do teu peito o vento passa 
Sem tropeçar na graça 
Do mais leve sinal da minha mão... 

Miguel Torga













Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida, eu vou te amar
Em cada despedida, eu vou te amar
Desesperadamente
Eu sei que vou te amar

E cada verso meu será
Pra te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida

Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua, eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta tua ausência me causou

Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
À espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida

Vinicius de Moraes






quinta-feira, 28 de novembro de 2013

O Buddha falou assim...











A essência do Budismo está no caminho que nos leva á libertação do sofrimento..
Tarefa utópica mas ao mesmo tempo verdadeira e longa, quase direi humanamente impossível  ...
O sofrimento é o veneno que nos corrói e retira todo o significado á nossa existência
Este sofrimento na forma sentida pelo Buddha é mais próximo do sentimento de insatisfação, a nossa insatisfação, estamos felizes agora e daqui a pouco já não estamos...
Vivemos sempre nos extremos e a única forma de vida sem sofrer é a do meio, o equilíbrio é o caminho para se sair do ciclo do sofrimento. 







O Buddha diz que este sofrimento que todos sentimos tem uma causa, e essa causa está dentro de cada um de nós.
Ele depois explica que a causa é o desejo, a forma como nós lidamos com os nossos desejos mais íntimos, os verdadeiros.
O desejo tem de existir, o desejo de sermos melhores pessoas, o desejo saudável, o desejo nas suas vertentes extremas não, esse desejo causa o sofrimento. 
O Buddha deu como que uma receita para se poder viver sem o sofrimento permanente.
" Disciplina moral, consciência plena e sabedoria. "










Felicidade, Nirvana, o Buddha ensinou, podem ser encontrados no momento fugaz e na prática da meditação.
O Buddha nos ensinou como chegar a um acordo com os nossos pensamentos e desejos agitados, se nós nos tornarmos conscientes, mais atentos, ficaremos mais perto do entendimento e da tranquilidade.
" Muitas vezes a nossa mente não está tranquila o bastante. Então percebemos que talvez necessitemos de entender mais sobre a própria mente e como equilibrar as próprias emoções, como equilibrar a nossa mente e tentar cultivar mais felicidade "








Meditação não é para nos livrarmos da raiva ou da luxúria ou do ciúme. O que ocorre com frequência nas nossas vidas quotidianas é que sempre que experimentamos essas emoções, ficamos presos a elas.Elas começam a roer-nos, torcer-nos por dentro.Mas o budismo vai passando por dentro delas e saindo calmamente e isso traz-nos mais alegria.Nós não estamos a viver uma verdade parcial mas sim um conjunto de coisas juntas.
Interessante que o Buddha diz que todos nós somos Buddhas, apenas não nos revelamos, nosso ser Buddha está submerso em sofrimento, nós estamos demasiado ocupados com o corpo e tudo o que ele sente e deseja, desesperando para o satisfazer.

...inpirado pelo filme "The Buddha "(2010) David Grubin







sábado, 23 de novembro de 2013

Love me, love me not...
















Love, love, love


Noite de um verão qualquer e o amor a roer feito rato esfomeado num naco de queijo, trincando...
O amar é uma foda, é a certeza de que te vais espetar numa curva qualquer
O alvoroço da paixão, do sexo, nos embriaga, enfeitiça e tudo fica sem nome


Amar é fodido, fica colado e só te apercebes o quanto está colado quando chega a hora de descolar
Love, I love you, amo-te, tudo brotando como lava, um sentir prazer enfeitiçado, mas acaba e ai...











Fodido saber que acabou mas querer mais, os factos dizendo da diferença de planetas donde viemos, as linguagens intraduziveis ...mas mesmo assim  a tesão do corpo e as auras se fundindo para além de todas as diferenças que nos separam....
Como febre, dependente, viciado eu quero mais, mesmo sabendo que não haverá mais, queres incondicionalmente mais ...


Amar é uma dor fodida, acho que uma sensação até maior que o êxtase que a alegria e o prazer  que o próprio amar nos trás, ela faz morrer por dentro, ela deixa-nos sem alma, zombies, nos leva a todas as fronteiras do sentir ...










Amar é uma experiência única, é como que uma devoção mas natural, é a entrega de tudo o que de melhor temos...e ai, porque te deste por inteiro sem que ninguém te pedisse, no teu íntimo esperas a divina justiça, o merecimento e pensas que com todo esse sentimento verdadeiro tudo irá acontecer...
Egoísmo e ingenuidade, azar na carta fechada, mas a paixão é fortíssima e aos trancos e barrancos vais para o céu e desces ao inferno... o nível de adrenalina e desespero sempre a aumentar e logicamente que tem de ter um fim, não sobrevive, o amor tem fim, não existem amores eternos !!!











Love, I love you, nunca amei ninguém desse jeito, nuncaaaaaaaaaa, mas não funciona.....como fazer?
Dói para cacete mas lucidez e bom senso me empurraram para esta dor fodida, como dizia uma querida amiga, se um não quer dois não fazem...
Love, love, love, fuck love !!!!




sábado, 16 de novembro de 2013

um beco com reggae...













Reggae music embalando a tarde de sábado, o cidadão entorpecido pelos dias de instabilidade 
vai se consumindo numa amnésia étilica, a música aos berros, o cidadão repete a rotina de todos fins de semana mas algo soa a falso.
O pessoal vai fazendo o mesmo de todos os fins de semana mas algo estranho, impalpável, não deixa que a alegria, a festa habitual  seja como todas as outras do passado muito recente .








O saco vem enchendo e o cheiro agora já se vai alastrando, como um perfume nauseabundo a intolerância  o orgulho e o ódio enchem o éter e mesmo que não queiramos ele ali está presente, nos agoniando, tirando-nos a bênção da tranquilidade.
Um dia perfeito de Verão africano, o movimento nas barracas, a enchente na praia, a música no ar, as vozes eufóricas nas combinações das farras, tudo igual mas por dentro a agonia da incerteza  triturando a esperança que já é escassa.









No cérebro da internet percorremos cada vez mais os canais que dizem sobre as guerras, que falam das catástrofes, nos dias de hoje não tem mais como se evitar isso e é assustador o facto de sermos esse tipo de notícia ...
As noticias ao minuto sobre o caos que se está a instalar na nossa terra fazem-me lembrar do impacto da primeira guerra do golfo, a primeira guerra em directo, hoje isso está institucionalizado e então somos bombardeados com todo tipo informação, acontecimentos dramáticos que estão misteriosamente a acontecer ao mesmo tempo, no momento, raptos, ataques militares, discursos inflamados, tudo isso chovendo nas nossas cabeças, a realidade legitimando tudo, sem dó nem piedade estamos a ser massacrados .









Somos prisioneiros de outras vontades que nos são desconhecidas por completo e quase explodimos !
As nossas vidas seguem ao sabor do acaso, os nossos direitos humanos não contam para nada, só nos resta esperar surrealmente que algo aconteça e tudo se resolva definitivamente, sonhar com isso...
Entretanto enquanto não acontece nada nós continuamos decididos a viver, a trabalhar, a lutar, a amar e por ai adiante ...
O tempo se encarregará de nos revelar o fim desta triste história.
Paz, por favor.










sábado, 9 de novembro de 2013

Hesse & Moska







                                     














A serenidade não é feita nem de troça nem de narcisismo, é conhecimento supremo e amor, afirmação da realidade, atenção desperta junto à borda dos grandes fundos e de todos os abismos; é uma virtude dos santos e dos cavaleiros, é indestrutível e cresce com a idade e a aproximação da morte. É o segredo da beleza e a verdadeira substância de toda a arte. O poeta que celebra, na dança dos seus versos, as magnificências e os terrores da vida, o músico que lhes dá os tons  duma pura presença, trazem-nos a luz; aumentam a alegria e a clareza sobre a Terra, mesmo se primeiro nos fazem passar por lágrimas e emoções dolorosas.














Talvez o poeta cujos versos nos encantam tenha sido um triste solitário, e o músico um sonhador melancólico: isso não impede que as suas obras participem da serenidade dos deuses e das estrelas. O que eles nos dão, não são mais as suas trevas, a sua dor ou o seu medo, é uma gota de luz pura, de eterna serenidade. 

Mesmo quando povos inteiros, línguas inteiras, procuram explorar as profundezas cósmicas em mitos, cosmogonias, religiões, o último e supremo termo que poderão atingir é essa serenidade.












A verdade é um ideal tipicamente jovem, o amor  por seu turno, um ideal das pessoas maduras e daqueles que se esforçam por estar preparados para enfrentar a diminuição das energias e a morte. 

As pessoas que pensam só deixam de ambicionar a verdade quando se dão conta que o ser humano está extraordinariamente mal dotado pela natureza para o reconhecimento da verdade objectiva, pelo que a busca da verdade não poderá ser a actividade humana por excelência.












Mas também aqueles que jamais chegam a tais conclusões fazem, no decurso das suas experiências inconscientes, um percurso semelhante.
Ter consigo a verdade, a razão e o conhecimento, conseguir distinguir com precisão entre o Bem e o Mal, e, em consequência disso, poder julgar, punir e sentenciar, poder fazer e declarar a guerra - tudo isto é próprio dos jovens e é à juventude que assenta bem.
Se, porém, quando envelhecemos, continuamos a ater-nos a estes ideais, fenece a já de si pouco vigorosa capacidade de «despertar» que possuímos, a capacidade de reconhecer instintivamente a verdade sobre-humana.

Hermann Hesse











quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Flores murchas e um País doente ...






                                                       










 Dizia o primeiro presidente deste país que as crianças são flores que nunca murcham, mas murcham sim, estão cada vez mais murchas, sofrem como que uma praga, morrem aos poucos, se descolorem e agonizam pelos vãos de escada e pelos passeios mais imundos desta cidade.










As flores e o resto do meu  povo estão morrendo, se esvaindo em sangue, a inocência destes meninos vai murchando e secando e por entre as balas que cruzam nossa pátria, as populações vagam sem rumo, sem hipótese de se esquivarem da matança e entre elas caminham os velhos, as mulheres desamparadas e as nossas flores murchando.












A sobrevivência dum povo está a ser posta em causa, somos filhos com pais legítimos e estamos sendo tratados como órfãos abandonados, como seres insignificantes , quase diria que somos transparentes aos olhares cruéis de quem já perdeu a razão mas mesmo assim controla os desígnios deste povo.














A mentira grassa, o desprezo pela  maioria é assaz surreal e as utopias se tornam reais e incompreensíveis.
Neste momento terrível sobrou-me apenas a vontade de colocar estas fotos que não necessitam de legendas, elas são o retrato real desta nossa triste realidade.











Os meninos que erram pelas artérias desta urbe são ás dezenas e retratam toda a insensibilidade, todo o desprezo a que fomos votados, enquanto discursos e ódios e preparativos para batalhas impensáveis vão sendo feitos e sem direito a cidadania  vemos estes algozes  tomando conta do nosso presente e do nosso futuro.










A paz e a solidariedade parecem definitivamente esquecidas, sobraram só a ganância cega pelo poder e as reclamações mortíferas duma oposição também cega, proferidas a balas assassinas .
Estamos perdidos e sem qualquer tipo de esperança, que os Deuses desçam dos céus e nos acudam  !!

fotos de Féling Capela










domingo, 27 de outubro de 2013

Lou Reed & the wild side







                                               
                                       1942 - 2013












A música de Lou Reed soa no ar e as imagens nítidas dum tempo memorável fazem acordar um passado que se viveu intenso, cheio de excentricidades e excessos.
Ouvi pela 1ª vez Lou Reed em Lisboa em 76, depois dessa ouvi muitas vezes mais, muitas mesmo, esse som único e estranhamente embriagante, a voz inimitável do bardo do mundo underground, do bas fond, das cores e ideias de Andy Warhol , do psicadélico, das drogas e das putas.














Velvet Underground e a arte de Warhol !!!

Patty Smith, Television, Stranglers, Genesis, Bob Marley, Peter Toch, Steely Dan, Peter Frampton, Joan Armatrading, Steve Miller, Peter Green, Caetano, Gil, Chico, etc...  um tempo de grande música e de grandes criações, Lou Reed entre todos eles  era a imagem do rebelde dos rebeldes, do junkie introspectivo.
Um tempo em que aliados à música, os livros e o cinema formavam como que uma religião, eram a igreja que nos guiava; o surrealismo, Dali, Fernando Pessoa, Breton,  Boris Vian, Burroughs, Kafka, Lautreamont, Ingmar Bergman, Gavras, Antonioni, Arrabal, Woddy Allen, Copolla, Scorcese, etc.










Os meus longínquos 19 anos, vivendo sem lar, saltitando de casa em casa mas com sede no cruzamento da  Alexandre Herculano com a Av. da Liberdade, na república da freakalhada,  sala de musica, dormitório e palco de todas bebedeiras e de todas viagens ,onde tantas vezes matávamos  a fome,  livres, anarkas e jovens ! 
Lou Reed criou aquela que é talvez a canção que mais me marcou, que era como um hino, quando tocava sentíamos que o nosso caminhar era mesmo selvagem, against the sistem !!!!


She says, "Hey babe, take a walk on the wild side"

He said, "Hey babe, take a walk on the wild side"
And the colored girls go
Doo do doo, doo do doo, doo do doo










 

Sem dúvida que foi esta vivência intensa que me transformou neste ser também meio surreal, desconhecido,  sempre colado a mim e de rebeldia em rebeldia a personalidade foi-se vincando, esta, lúdica, louca, angustiada mas romântica e  poética!!! 
Lou finalmente encontrou o verdadeiro lado selvagem dos seus anseios, a viajem psicadélica ou uma outra dimensão qualquer, a definitiva !!!


Vicious, you hit me with a flower
You do it every hour
Oh, baby you're so vicious!









segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Mayra Andrade e a africanidade





                                                     
                                               Ilha de Sta carolina - Arquipélago de Bazaruto















África, do pôr do sol que se incendeia em vermelhos e laranjas.  
Incendeiam-se também as savanas e os corações cansados e desiludidos...
África das doces tangerinas, das mangas de mel e dos doces sorrisos das gentes!










O amargo das vidas perdidas contrastam com a dádiva da beleza dos palmares infinitos...
África das praias paradisíacas e virgens, do espaço onde o tempo se perdeu para sempre de si.
Na sede do ultraje e da rapina, o nosso futuro eternamente se adia,  o futuro desacontece...









África dos contrastes, onde as minoriazinhas reinam sobre a maioria, como vampiros sedentos
A música e a dança, os corpos frenéticos no som dos tambores, o suor e as lágrimas, a força...
África, o cheiro da terra, o perfume que se prende para sempre na memoria, a marca umbilical










As capulanas e as vozes, o colorido da vida nas ruas, vive-se intensamente sem esperança... 
Africa, o berço do homem, o ninho inexplorado que de repente parece ter despertado...toda a cobiça !
O sabor dos dias é macio, sem a violência do preço a pagar para se viver que se paga nos outros continentes .
África, és o continente das reservas naturais e os teus filhos docemente penam pela sobrevivência, numa forma quase religiosa de não reagir.










quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O sabor do fel & Jack Johnson









                                                                           Manuel Bandeira




Pergunto à noite serena o porquê desta cabra da angústia não deixar de  me perseguir e sei de antemão que ela não me vai responder , pois eu sei que ela a noite é má conselheira.
Minh' alma sobressaltada, agoniada, farta destes sentires é um farrapo pisado no chão, estou de novo envelhecidamente cansado.
Onde buscar forças ? Onde?
 Estou farto desta angustia azeda  que transforma o sabor dos dias e das noites num gosto amargo de fel...
Prisioneiro sim, sou prisioneiro nesta prisão dos sentimentos sofridos !
Que agonia, acho que vou vomitar...
Só me resta vomitar e postar estes 3 versos do Manuel Bandeira  ele sim, desarmava a angustia e a transformava em peças de arte.







                                                 I

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.

A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.      









                                                        

                                                 II

Eu faço versos como quem chora

De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
Eu faço versos como quem morre.






                                                    III


Chora de manso e no íntimo... Procura curtir sem queixa o mal que te crucifica:
O mundo é sem piedade e até riria
Da tua inconsolável amargura.
Só a dor enobrece e é grande e é pura.
Aprende a amá-la que a amarás um dia.
Então ela será tua alegria,
E será, ela só, tua ventura...
A vida é vã como a sombra que passa...
Sofre sereno e de alma sobranceira,
Sem um grito sequer, tua desgraça.
Encerra em ti tua tristeza inteira.
E pede humildemente a Deus que a faça 
Tua doce e constante companheira...






domingo, 15 de setembro de 2013

Nocturnos insones & Charlie Chaplin ...







                               Catedral de Maputo -  foto de Carlos Afonso








Já perdoei erros quase imperdoáveis,

tentei substituir pessoas insubstituíveis
e esquecer pessoas inesquecíveis. 
Já fiz coisas por impulso,
já me decepcionei com pessoas quando nunca pensei me decepcionar, mas também decepcionei alguém. 
Já abracei pra proteger,
já dei risada quando não podia,
fiz amigos eternos,
amei e fui amado,
mas também já fui rejeitado,
fui amado e não amei.





Já gritei e pulei de tanta felicidade,
já vivi de amor e fiz juras eternas,
"quebrei a cara muitas vezes"! 
Já chorei ouvindo música e vendo fotos,
já liguei só para escutar uma voz,
me apaixonei por um sorriso,
já pensei que fosse morrer de tanta saudade
e tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo). 








Mas vivi, e ainda vivo!

Não passo pela vida…
E você também não deveria passar! 
Viva!
Bom mesmo é ir à luta com determinação,
abraçar a vida com paixão,
perder com classe
e vencer com ousadia,
porque o mundo pertence a quem se atreve

e a vida é "muito" pra ser insignificante.
Poema da noite Charlie Chaplin





terça-feira, 27 de agosto de 2013

Justin Timberlake e o amor...


















Justin Timberlake lançou esta peça de r&b de qualidade fina, álbum super premiado e com um dos melhores vídeos musicais de sempre:
  " Mirror"
Para mim este disco é uma homenagem ao amor, realizada com finesse e um extremo  bom gosto !!
















Amar é um sentimento imperial, ele não permite que nada se lhe sobreponha.
Dependendo do lado para onde ele puxe, nos amordaça a alma e nos faz penar angústias duradouras ou nos faz rejubilar, nos faz amar a vida.
Amor é o melhor que temos dentro de nós, nada nos leva tão longe como ele, faz-nos superarmo-nos.










O ser amado e sentir-se amado é o êxtase, é o sorriso escancarado do coração ...
Amar não significa paz e sossego, antes pelo contrário, traz-nos sim as dores mais lancinantes, as lágrimas mais sentidas até a vontade de morrer...
Faz-nos também sonhar e olhar o mundo com optimismo, fazer planos, mudar o rumo da vida, seguir o coração ...










Amar é a pele falando, são os poros vibrando, amar é morrer de prazer e ressuscitar para morrer de novo, infinitamente se repetindo... 
Quando se ama os olhos se enternecem e a voz é meiga e de dentro de nós vem  doçura e bem querer.
Amor é massa !! 







domingo, 25 de agosto de 2013

A Palavra & Fat Freddy's Drop




























... Sim Senhor, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam ... 
Prosterno-me diante delas... 
Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as ... 
Amo tanto as palavras ... 
As inesperadas ... 
As que avidamente a gente espera, espreita até que de repente caem ... 
Vocábulos amados ...
Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes de prata, são espuma, fio, metal, orvalho ... 












Persigo algumas palavras ... 
São tão belas que quero colocá-las todas em meu poema ... 
Agarro-as no voo, quando vão zumbindo, e capturo-as, limpo-as, aparo-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas ... 
E então as revolvo, agito-as, bebo-as, sugo-as, trituro-as, adorno-as, liberto-as ... 
Deixo-as como estalactites em meu poema; como pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de naufrágio, presentes da onda ... 
Tudo está na palavra ...








Uma ideia inteira muda porque uma palavra mudou de lugar ou porque outra se sentou como uma rainha dentro de uma frase que não a esperava e que a obedeceu ... 
Têm sombra, transparência, peso, plumas, pêlos, têm tudo o que, se lhes foi agregando de tanto vagar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto ser raízes ... 
São antiquíssimas e recentíssimas. 
Vivem no féretro escondido e na flor apenas desabrochada ... 
Que bom idioma o meu, que boa língua herdamos dos conquistadores torvos ... 
Estes andavam a passos largos pelas tremendas cordilheiras, pelas Américas encrespadas, buscando batatas, butifarras*, feijõezinhos, tabaco negro, ouro, milho, ovos fritos, com aquele apetite voraz que nunca mais, se viu no mundo ...









Tragavam tudo: religiões, pirâmides, tribos, idolatrias iguais às que eles traziam em suas grandes bolsas... Por onde passavam a terra ficava arrasada... 
Mas caíam das botas dos bárbaros, das barbas, dos elmos, das ferraduras. 
Como pedrinhas, as palavras luminosas que permaneceram aqui resplandecentes... o idioma. 
Saímos perdendo... 
Saímos ganhando... 
Levaram o ouro e nos deixaram o ouro... 
Levaram tudo e nos deixaram tudo... 
Deixaram-nos as palavras.

Pablo Neruda









Último álbum dos fabulosos Fat Freddy's Drop - "Blackbird" 2013




segunda-feira, 19 de agosto de 2013

os blues do lagarto - the doors













 Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo apareceria ao homem como é: infinito.
                                                                                                                          William Blake













Posso fazer a terra parar no seu trilho.
 Fiz os carros azuis irem embora.
Posso fazer-me invisível ou pequeno.
Posso tornar-me gigante & atingir as
coisas mais distantes.
Eu posso mudar 
o curso da natureza.
Posso plantar-me em qualquer lado
em espaço ou tempo.
Posso citar os mortos.
Posso perceber eventos noutros mundos,
na minha mais profunda mente interior,
& nas mentes de outros.

Eu posso

Eu sou.
                                                                                                                                                              Jim Morrison













Sabem do febril progresso sob as estrelas?
Sabem que nós existimos?
Esqueceram porventura as chaves do Reino?
Já foram dados à luz e estão vivos?
Vamos reinventar os deuses e os mitos das idades;
Celebrar símbolos do mais fundo das antigas florestas (Esqueceram as lições da guerra pretérita)
Sabem que temos sido levados à matança por almirantes plácidos e que gordos e calmos generais se tornam lascivos perante o sangue jovem ?












O grão criador dos seres concede-nos uma hora mais pra mostrarmos nossas artes e completarmos as vidas, medo da morte no Avião;
E a noite era aquilo que a Noite deveria ser;
Uma garota, uma garrafa, e um abençoado sonho.
Espalhei a minha semente pelo coração da nação;
Injetei um gérmen no sangue da veia psíquica.










Abraço agora a poesia do negócio e torno-me – por um tempo – um “Príncipe da Indústria”
Um líder natural, um poeta, um Xamã, com alma de palhaço.
O que faço no meio da arena, na Praça de Touros;
Todas as figuras públicas lutando pela liderança
Estar bêbado é um bom disfarce.
Bebo para poder falar aos idiotas. O que me inclui. [...]
Adeus América, eu amei-te.

                                                                                              Jim Morrison