segunda-feira, 27 de maio de 2013

Mia Couto - Prémio Camões 2013







                             







Mia Couto que não precisa de apresentações ganhou hoje o Prémio Camões, o maior galardão para os escrevinhadores da língua portuguesa.

Moçambique mais uma vez tem motivos para celebrar este feito que já foi  alcançado no passado pelo poeta mor José Craveirinha.
Parabéns Mia Couto, parabéns Literatura Moçambicana !!















O não desaparecimento de Maria Sombrinha


 Afinal, quantos lados tem o mundo no parecer dos olhos do   camaleão?
Já muita coisa foi vista neste mundo. Mas nunca se encontrou nada mais triste que caixão pequenino. Pense-se, antemanualmente, que esta estória arrisca conter morte de criança. Veremos a verdade dessa tristeza. Como diz o camaleão - em frente para apanhar o que ficou para trás.
Deu-se o caso numa família pobre, tão pobre que nem tinha doenças. Dessas em que se morre mesmo saudável. Não sendo pois espantável que esta narração acabe em luto. Em todo o mundo, os pobres têm essa estranha mania de morrerem muito. Um do mistérios dos lares famintos é falecerem tantos parentes e a família aumentar cada vez mais. Adiante, diria o camaleonino réptil.
A família de Maria Sombrinha vivia em tais misérias, que nem queria saber de dinheiro. A moeda é o grão de areia esfluindo entre os dedos? Pois, ali, nem dedos. Tudo começou com o pai de Sombrinha. Ele se sentou, uma noite, à cabeceira da mesa. Fez as rezas e olhou o tampo vazio.
- “Eh pá, esta mesa está diminuir!”
Os outros, em silêncio, balancearam a cabeça, em hipótese.
- “Vocês não estão a ver? Qualquer dia não temos onde comer.”
Ao se preparar para dormir, apontou o leito e chamou a mulher:
- “Esta cama cada dia está mais pequena. Um dia desses não tenho onde deitar.”
Debateram o assunto, timidamente, com o pai. Sugeriram que a razão pudesse ser inversa: o mundo é que estava a aumentar, encurralando a aldeiazinha. Fosse o caso dessa suposição, a aldeia estaria metida em vara de sete camisas. Mas o velho não arredou ideia. Casmurrou contra argumento alheio, ancorado na teima dele.
Por fim, sua visão minguante aconteceu com Sombrinha. Ele via o tamanho dela se acanhar, mais e mais pequenita. E se queixava, pressentimental:
- “Esta menina está-se a enxugar no poente...”
Todos se riam. O pai cada vez piorava. Face ao riso, o homem se remeteu à ausência. Se transferiu para as traseiras, se anichou entre desperdício e desembrulhos. A filha ainda solicitou comparência do mais velho.
- “Deixe o seu pai. lá onde está, ele não está em lugar nenhum.”
Valia a pena sombrear a miúda, minhocar-lhe o juízo? Mas Sombrinha não deixou de rimar com a alegria. Afinal, era ainda menos que adolescente, dada somente a brincriações. Sendo ainda tão menina, contudo, um certo dia ela se barrigou, carregada de outrem. Noutros termos: ela se apresentou grávida. Nove meses depois se estreava a mãe. Sem ter idade para ser filha como podia desempenhar maternidades?
A criancinha nasceu, de simples escorregão, tão minusculinha que era. A menina pesava tão nada que a mãe se esquecia dela em todo o lado. Ficava em qualquer canto sem queixa nem choro.
- “Essa menina só pára quieta!”, queixava-se Sombrinha.
Deram o nome à menininha: Maria Brisa. Que ela nem vento lembrava, simples aragem. Dona mãe ralhava, mas sem nunca fechar riso, tudo em disposições. Até que certa vez repararam em Maria Brisa. Porque a barriguinha dela crescia, parecia uma lua em estação cheia. Sombrinha ainda devaneou. Deveria ser um vazio mal digerido. Gases crescentes, arrotos tontos. Mas depois, os seios lhe incharam. E concluíram, em tremente arrepiação: a recém-nascida estava grávida! E, de facto, nem tardaram os nove meses. Maria Brisa dava à luz e Maria Sombrinha ascendia a mãe e avó quase em mesma ocasião. Sombrinha passou a tratar de igual seus rebentinhos - a filha e a filha da filha. Uma pendendo em cada pequenino seio.
A família deu conta, então, do que o pai antes anunciara: Sombrinha, afinal das contas, sempre se confirmava regredindo. De dia para dia ela ia ficando sempre menorzita. Não havia que iludir - as roupas iam sobrando, o leito ia crescendo. Até que ficou do mesmo tamanho da filha. Mas não se quedou por ali. Continuou definhando a pontos de competir com a neta.
Os parentes acreditaram que ela já chegara ao mínimo mas, afinal, ainda continuava a reduzir-se. Até que ficou do tamanho de uma unha negra. A mãe, as primas, as tias a procuravam, agulha em capinzal. Encontravam-na em meio de um anónimo buraco e lhe deixavam cair uma gotícula de leite.
- “Não deite de mais que ainda ela se afoga!”
Até que, um dia, a menina se extingiu, em idimensão. Sombrinha era incontemplável a vistas nuas. Choraram os familiares, sem conformidade. Como iriam ficar as duas orfãzinhas, ainda na gengivação de leite? A mãe ordenou que se fosse ao quintal e se trouxesse o esquecido pai. O velho entrou sem entender o motivo do chamamento. Mas, assim que passou a porta, ele olhou o nada e chamou, em encantado riso:
- “Sombrinha, que faz você nessa poeirinha?”
E depois pegou numa imperceptível luzinha e suspendeu-a no vazio dos braços. “Venha que eu vou cuidar de si”, murmurou enquanto regressava para o quintal da casa, nas traseiras da vida.

 Contos do nascer da Terra de Mia Couto











sábado, 18 de maio de 2013

Bhagavad - Guitá " A 13ª lição "








                                
















O estado de provação se estende fazendo já milhares de horas extraordinárias no meu viver.
Fiquei seco de palavras e só me sobrou o alento para beber a Sabedoria, a única possibilidade de continuar sem desfalecer definitivamente .
Então peguei meu Bhagavad - Guitá, meu Livro Sagrado e fui lendo e relendo esta lição.
 Krixna , o Ser supremo sob a forma humana (avatar ), guia o carro de Ardjuna  na batalha de 18 dias.

















O Senhor Krixna disse:

Este corpo, ó Filho de Kuntí,
chama-se o campo:quem bem o conhece
é proclamado pelos sábios, disto
cientes, como conhecedor do campo.


Fica sabendo, ó Grão Filho de Bhárata,
que sou, do campo conhecedor em todos os campos.
Conhecimento do campo e do seu conhecedor
é, por Mim, tido como o vero conhecimento.

Escuta, vou dizer-te agora e em resumo 
em que consiste o campo e qual a sua espécie,
a sua variedade e também sua origem,
e quem conhece o campo e quais os seus poderes.


Sábios- videntes, isto já muito cantaram
em vários hinos védicos, e nesses aforismos
referentes a Brahma e compostos p'la ordem
d'irrefutável, conclusivo raciocínio.










Os grandes elementos, a percepção do eu,
o intelecto mais o Não - manifestado,
e mais ainda os onze órgãos dos sentidos
e os cinco campos em que actuam os sentidos;


desejo, aversão, prazer e dor,
o agregado do corpo, a consciência
e a persistência, eis a descrição do campo,
em resumo, com suas modificações.


modéstia e total sinceridade
e não - violência e também honestidade,
paciência e serviço aos pés do Mestre ,
pureza, autodomínio e constância;

antipatia pelos objectos dos sentidos,
ausência d'egoísmo e o claro entendimento
dos malefícios, que provêm da doença
e da velhice e dor e nascimento e morte;











desprendimento, não - apego ante a família,
o filho, a mulher, a casa e tudo o mais,
e a consciência sempre igual, imperturbável,
ante o que vem que se deseja ou não deseja;


inteira devoção, a Mim só dirigida,
com rigorosa práctica d'Yôga,
vivendo num lugar, retiro solitário,
da multidão dos homens desgostoso,


em perpétua pesquisa só do conhecimento
d'Átma supremo, com a contínua percepção
d'alvo do conhecimento da verdade, eis
sabedoria: seu contrário é ignorância.






Átma -  O Eu, principio do ser , e o eu individual. O Eu e o eu exprimem, por assim dizer, as ideias de personalidade e de individualidade. Ardjuna - filho do Deus Indra, Um dos cinco heróis do Mahabharata
Brahma - Brahma não é Um, nem simples Unidade, porque tais noções provêm da nossa mente finita e Brahma não tem fim. Ele é Unico em Unidade inconcebível.
Dharma - Na sua acepção mais geral, significa maneira de ser, a natureza essencial de um ser.
Filho de Kuntí - Ardjuna
Upanixads - O epílogo dos Vedas, as escrituras sagradas, datadas do séc. XII antes de Cristo.














segunda-feira, 13 de maio de 2013

O Buddha em tons de azul...
























Venerado, Amado, Único, também meu Buddha !!!

Os caminhos se entrelaçam , desaparecem no nevoeiro que surge, simplesmente deixo de ver caminho algum...
A paz permanece plena me preenchendo o ser , como se assistisse ao meu próprio drama, tomo coca-cola e como pipocas na plateia vendo tudo acontecer sem imaginar o final .
Meu Buddha, não é entender que eu busco, não é sequer resolver meus problemas, apenas sorrir ...
Por dentro fazer sorrir os afectos e o bem querer, por fora sorrir dos cabelos aos pés !!
Buddha , mestre do apaziguamento e do desapego, explica-me como consigo estar em paz, sem receio algum quando tudo o que me rodeia ferve em azeite, se cozinhando, se torrando sem dó nem piedade?









O mar beatífico em cores suaves e o silêncio sem vento deixam a água feito um tapete mágico em tons de azul..
Pergunto ao Mestre, como beber essa aura, essa vibração irradiante do cenário gigantesco em tons de azul, como beber o que estou a ver e a sentir, a Presença Imensurável do Divino, que tudo envolve e deixar essa bênção luminosa escorrer para dentro do meu coração ?
Pergunto se algo mudaria se eu saísse  da plateia, subisse ao palco e termina-se marcial essa peça surreal...
Cantando um reggae para a cadeira vazia deixada por mim
; será que depois quando saísse do Teatro da vida, quando transpusesse as portas para a rua, encontraria algo para além dum vazio velado?
Buddha teu nirvana , tua luz e sabedoria abarcam os espíritos de todos nós e seguindo ínfimo em minha já imensa pequenez, vou soletrando teus pensamentos e consolidando minha paz !
Estou pronto já faz muito tempo, estou tranquilo já faz algum tempo, sinto sim que estou e que sou  !!!























"Um indivíduo pode ter sido iludido no passado. Mas depois corrige seu pensamento e torna-se uma pessoa desiludida. Ele, portanto, é como a lua que saiu de trás de uma nuvem escura, assim, ele ilumina o mundo. "Buddha




                           







"A escuridão não pode expulsar a escuridão: só a luz pode fazer isso. O ódio não pode expulsar o ódio: só o amor pode fazer isso."Buddha



                                                                                                                                                                                       
                                  




Existe uma única estrada e somente uma, e essa é a estrada que eu amo.
Eu a escolhi.
Quando trilho nessa estrada as esperanças brotam e o sorriso se abre em meu rosto.
Dessa estrada nunca, jamais fugirei.
Buddha











domingo, 28 de abril de 2013

Boris Vian na Jamaica







                               
















Querida vem junto de mim 
Esta noite quero cantar 
Uma canção para ti 

Uma canção sem lágrimas 
Uma canção ligeira 
Uma canção de charme 

O charme das manhãs 
Envolvidas em bruma 
Em que valsam coelhos 

O charme dos pântanos 
Onde alegres crianças louras 
Pescam crocodilos








O charme dos prados 
Que se ceifam no Verão 
Para podermos rebolar-nos 

O charme das colheres 
Que rapam os pratos 
E a sopa de olhos claros 

O charme do ovo cozido 
Que permitiu a Colombo 
O truque mais luzido 

O charme das virtudes 
Que dão ao pecado 
O gosto do proibido









Podia ter-te cantado 
Uma canção de carvalho 
De ulmeiro ou de choupo 

Uma canção de plátano 
Uma canção de teca 
De rimas mais duráveis 

Mas sem ruído nem alarme 
Preferi experimentar 
Esta canção de charme 

Charme do velho notário 
Que no estúdio austero 
Denuncia o falsário









Ou o charme da chuva 
Escorrendo gotas de ouro 
Sobre o cobre do leito 

Charme do teu coração 
Que vejo junto ao meu 
Quando penso no bem-estar 

Ou o charme dos sóis 
Que giram sempre em volta 
De horizontes vermelhos 

E o charme dos dias 
Apagados da nossa vida 
Pela goma das noites 

Boris Vian, in "Canções e Poemas"











sexta-feira, 12 de abril de 2013

O tempo em camadas vividas...














         





As teias que envolvem o quadro escondido pelo tempo são como uma manta de filigrana
No fundo do sótão, por trás de móveis desconjuntados, da bola de basket careca de tantas partidas
A tela esquecida, na penumbra dos dias permanece guardando a história dum tempo, dum espaço...
Não feito o quadro de Dorian Gray, apenas se descascando imperceptível mente, devagar...















No dia em que se fez a mudança de casa, nesse dia ele seria relegado para o fundo do sótão
Esta casa do presente, já muito antiga, não tem  nenhuma parede onde ele possa ser pendurado

Nenhum prego, nenhum acessório poderá suster o peso da pintura, as paredes liquefazem-se

Nesta casa a luz faz com que o azul do mar da tela se derrame qual maré pelo chão, pelos quartos

As gaivotas volteando por cima do barco artesanal ouvem-se pelos corredores, ah o calor...

O calor, a brisa do mar não chega para amenizar o torpor , o chão de madeira ferve, a areia queima..














Por dentro de nós passam mundos, passados,  presentes e futuros, atropelam-se as noções elementares
O vivido, são camadas de vida vivida e em qualquer delas existimos intensamente, nos apaixonamos, nos angustiamos  parecendo que só aquele presente existiu, são tantos presentes
Camada a camada vamos vivendo a vida vivida, fluindo...
O que se vive no presente, é apenas mais uma camada a acrescentar às outras, às que passaram
É o momento real, que nos envolve, que nos faz agir e que nos faz pensar no impalpável  futuro
Ele virá, será presente e de imediato mais uma camada a sobrepor as outras...














A dimensão dos sonhos sonhados, das vontades, dos desejos, do que se imagina no cenário presente
Essa é a única dimensão que não se junta as camadas do tempo, a dimensão da mente
Ela projecta e desenha, pinta, ela representa só para ti, exclusivamente és tu e sonhas para ti
Dentro de nós estão mundos passados,  presentes e futuros, atropelam-se as noções elementares
O viver transforma-se numa grande aventura, numa viagem de constantes revelações, materiais, etéreas, whatever, maravilha !











terça-feira, 9 de abril de 2013

Por favor, guerra de novo, NÃO !









                                






Impossível não querer entender, tudo está a acontecer seguido e ao mesmo tempo.
Lá da Coreia ameaçam mentes loucas e cheias de raiva fazerem explodir o planeta com armamento nuclear...
Nós frustrados com a nossa vida sem futuro melhor, conformamo-nos por estar muito longe de Pyongyang e sorrimos seguros e em paz  na nossa merda de realidade...
... mas um mal nunca vem só, para fechar o ciclo da desesperança e do desengano, oiço o matraquear das AK47 em Muxungué e vejo os cidadãos tranquilos viajando de autocarro num suposto país em paz  a serem mortos sem compaixão, o dejá vu da guerra civil está aí, real...












A guerra, que aflige com os seus esquadrões o Mundo, 
É o tipo perfeito do erro da filosofia. 
A guerra, como tudo humano, quer alterar. 
Mas a guerra, mais do que tudo, quer alterar e alterar muito 
E alterar depressa. 
Mas a guerra inflige a morte. 
E a morte é o desprezo do Universo por nós. 
Tendo por consequência a morte, a guerra prova que é falsa. 
Sendo falsa, prova que é falso todo o querer alterar. 
Deixemos o universo exterior e os outros homens onde a Natureza os pôs. 
Tudo é orgulho e inconsciência. 
Tudo é querer mexer-se, fazer coisas, deixar rasto. 
Para o coração e o comandante dos esquadrões 
Regressa aos bocados o universo exterior. 
A química directa da Natureza 
Não deixa lugar vago para o pensamento. 
A humanidade é uma revolta de escravos. 
A humanidade é um governo usurpado pelo povo. 
Existe porque usurpou, mas erra porque usurpar é não ter direito. 
Deixai existir o mundo exterior e a humanidade natural! 
Paz a todas as coisas pré-humanas, mesmo no homem, 
Paz à essência inteiramente exterior do Universo! 

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos" 
Heterónimo de Fernando Pessoa













Como é que se faz um País?

Será que não conseguem os homens ser solidários e deixar de lado a avidez vampírica pelo Poder?
Começo a crer que a tal mudança que diziam ir acontecer a 21 de Dezembro começa a fazer sentido...
Como uma onda de um Tsunami surrealmente enorme ela se vem aproximando desde então...
As relações, as atitudes, a fragilidade de todo o quotidiano, a perenidade de tudo como se  o presente fosse o último dia das nossas vidas, egoísmo, futilidade , culto do consumismo pelo consumismo, completamente oco de qualquer fundamento, ou seja, o boçalismo elevado a status dominante da sociedade, a insensibilidade para com o povo de um país riquíssimo que vive no limiar da miséria, a dança dos abutres, o riso das hienas, o cheiro a podre...
Que porra de merda é esta em que se transformou o meu país ?!?!
Obra mal feita, em vez construção responsável e em vez de se plantar para colher no futuro, colhem-se frutos híbridos, doentes no imediato .
O imediato é a religião e para isso o poder a qualquer preço como doutrina!!
A guerra muda tudo, destrói gerações, gasta tempo de vida, é uma merda !!
Tomara que esses senhores pelo menos consigam fazer calar as armas antes que nos desfaçamos em sangue !!










Triste será se um dia a vivermos de novo à base de  repolho e carapau, falarmos do país que Moçambique já era antes desta  2ª guerra civil e também falarmos daquele país grandioso em que Moçambique se poderia ter transformado, se os homens tivessem sido menos egoístas, menos cegos, menos orgulhosos, menos burros  neste momento!!!
Façamos uma  mistura de liberdade, ganância, tesouros naturais, egoísmo, tesão de  ditadura, deslumbramento, ódios, sentimentos de injustiça, desespero, pobreza  extrema, sem vergonhiçe, muito dinheiro, etc, deitemos esses ingredientes voláteis num oceano de bom senso e os deixemos esfriar.
Verificaremos que depois de frios estes ingredientes não têm mais poder para nos fazer enlouquecer a ponto de começarmo-nos a matar uns aos outros, entre irmãos; acordaremos como se tivéssemos estado a viver um pesadelo, tenho a certeza.
Consertemos as nossas almas, resgatemos a nossa essência de povo e falemos das coisas que nos separam chamando os bois pelos seus nomes !!!
Não subestimemos estes sinais, este aviso de Muxungué é um sinal muito forte.
Basta de impunidade, basta de se pensar que alguns têm mais direitos do que a maioria, sejamos honestos e construamos a paz, a felicidade e o desenvolvimento deste País  na base da verdade e do trabalho abnegado em prol de todos...
Parem esta palhaçada que já está a trazer de novo o luto provocado pelo ódio !!
Chega !!









quarta-feira, 3 de abril de 2013

Buddha , Buddha, I'm so tired....










                                           
















Minha sentida prece...

Buddha me ilumine, me dê força e lucidez, rogo do fundo da alma...
Buddha me acalme o sobressalto no peito, meu coração sai do lugar e chega à boca
Buddha  onde estás ?
Buddha dá um mirada neste teu devoto admirador, por favor !!!

Buddha  me dá só um pouco de paz que estou a morrer por dentro...
Buddha , estou tão cansado desta travessia do deserto, exausto ...
Buddha, não sei mais como buscar alento, me ajuda ou me dá ao menos a coragem para desistir...
Om mani padme hum 





                          







“A esse que é tolerante para com os intolerantes, doce para com os violentos, desapegado de tudo para com os apegados a tudo - a esse eu chamo de sábio. 
A esse que nada mais espera neste mundo, nem em um outro mundo, que é a tudo insensível, de tudo desprendido - a esse eu chamo de sábio. 

A esse que, não tendo mais ligações com os homens, superou aquelas que poderia ter com os deuses, que é completamente desprendido de tudo - a esse eu chamo de sábio.”
    Buddha





                          






Não é sobre as faltas alheias que devemos fixar a atenção, mas sobre o que nós mesmos deixamos de fazer. 
Fácil é ver a falta do próximo; difícil, a nossa própria. A dos outros, damos o maior relevo possível; a nossa, ao contrário, dissimulamos, como o trapaceiro esconde seus dados falsos. 
Que te pode interessar que outrem seja ou não culpado? 

Vem, amigo, e olha o teu próprio caminho! 

Que, pouco a pouco, sem se cansar, o sábio sopre sobre as impurezas de tua alma, como o ourives sopra sobre as partículas de prata. 
Pela atividade viril, pelo esforço vigilante, pela paz da alma e pelo domínio sobre si mesmo, o sábio pode fazer uma ilha que não submerge nas ondas. 
Calmo é o seu espírito, calma a sua palavra, calma a sua maneira de agir. 
Quando um homem, que não é crédulo, mas que conhece o Incriado (o Nirvana) , rompe assim suas amarras e diz adeus aos prazeres, torna-se o mais eminente dos mortais.”
Buddha











sexta-feira, 29 de março de 2013

surrealizando sem final...





                                       
                                            Magritte








Velho manguço sem nome caminha lentamente e as flores exalam perfumes do mato à sua passagem, odores fortes são aspergidos tal a autoridade moral do bicho...
Sentado junto ao fogareiro o velho Job controla as maçarocas a assar, no canto da boca um tabaco enrolado em papel de saco de cimento vai ardendo ...
manguço chegado à cabana do Job, salta para o peitoril da janela e espreita .

" Hum, o Job está a esmerar-se! - empinando o narizito, pensa de si para si, enquanto num salto se põe à porta e bate duas vezes.
"Deixa-te de fitas e entra pelo buraco da porta velho engraçadinho !! - vocifera Job.









Sentados à volta do foguareiro vão comendo as espigas em silêncio mas conversando por olhares.
Num certo olhar de través Job pergunta ao manguço sem nome:
" Acreditas em fábulas? "
Soa no silêncio um som raquítico, o som do possível riso do manguço sem nome:
"Crrriícririri..."
Sacudindo a cauda felpuda num movimento quase humano de reverência, olha o velho Job com um olhar franzido:
" Claro que não, achas possível que ao fim de tantos anos de partilharmos o milho e termos conseguido nos comunicarmos em silêncio eu posso ouvir uma pergunta dessas sem chiar ? "
Velho Job levanta-se meio curvado e num olhar de paralaxe  responde:
" Sendo assim, traz a garrafa de aguardente para assarmos as bolotas, ensinaste-me a gostar delas velho safado ! "
O dia seguindo seu curso fantástico e fora da cabana a harmonia reinando na floresta ...








- Toninho ! Toninho !- o chamado entra  pela porta do quarto como se chegasse da casa de Job.
 Toninho levanta-se da cama contrariado e fecha o livro.
 O final da história fica para depois do lanche.
- Já vou mãe !









sábado, 23 de março de 2013

no chuveiro com candeeiros...


















Hoje resolvi mandar os problemas para os buracos da rua para que os carros os amassem e os desfaçam sem contemplações...  estou radiante !!

Quero que tudo se resolva por si, que eu não me angustie ficando a espera do sinal verde, não quero mais !!!
Afinal de que serve isso se você não pode controlar ou mesmo influenciar o resultado final?





Então ficamos assim, vou gastar montes de litros do liquido precioso e vou-me chuveirar até a alma se sentir completamente fresca, depois vou sair da toca e trabalhar meus candeeiros bem na sombra da mangueira e ouvir música aos gritos, mas dentro do civismo claro...






Sinto-me um privilegiado por poder fazer o que disse e milionário por poder dispor do meu tempo mesmo sabendo que tenho todo o tempo para mim por estar sem trabalhar, sou um riquíssimo teso viu ?
O vil metal está chegando ao fim e começo a imaginar como será a vida debaixo da ponte mas estou feliz e positivo e mais, estou vivo, belo, alimentado e apaixonado, então....estou perfeito !!







Quero ser e sentir que sou, respirar e sentir a vida entrar por mim dentro fluindo , chilando, me acarinhando, me fazendo dançar e sorrir...
Viver vale a pena, não tem coisa mais bela que o sorriso de despreocupação irradiando no rosto de quem luta arduamente para não se angustiar...

Essa puta está aprendendo que comigo não tem mais hipótese !!!
Vou pro chuveiro, ciau !!




                                              

sábado, 9 de março de 2013

aprendendo sempre...




                                                                                   Irises, 1889  Vincent van Gogh 








                                                                                   
            
                                                                   



Aquela dita cuja, amiga do alheio, que por vocação rouba às almas o néctar do doce viver....
Voltou, volta sempre, vai voltar sempre...
O balanço de Jamiroquai  fluindo, como quando imaginamos que estamos no paraíso...mas não estamos.
Não existe paraíso algum, existem sim momentos em que sentimos estar no paraíso, e só....

Ah felizardos que somos por ter esses momentos de irrealidade, esses momentos reais de plenitude !!







A nostalgia chega sem avisar entrando por portas e travessas, sem permissão, sem que alguém a tenha chamado...e senta em cima de tudo!
O já vivido a cabra não tira, ela sem saber faz com que o paraíso visitado fique mais brilhante, mais encantador e extremamente apetecível...
Rindo-me para a cabra sei que como veio há-de ir e de certeza voltarei ao paraíso...
Assim são as visitas da peste e suas tentativas vãs para reinar...









 Perde sempre porque na balança pesam mais os momentos vividos com paixão, com o sangue fervendo, com a cabeça acelerando e com um sorriso rasgado permanente, do que as cinzentas razões que a peste  usa para se afirmar como sendo ela a forma em que tudo acaba...
Enganou-se a megera, ela é que serve para que queiramos mais é viver e usufruir ...
A cabra definitivamente está se dando mal....
A vida pulsando é muito mais forte do que a sombra gélida duma qualquer angústia, podem escrever !!!







terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Esvoaçando por aí...



















O beija flor, minusculo, ele percebe o doce pólen
pára no ar voando e seu bico de agulha suga o amor
a flor se oferece e entrega sua essência perfumada
sem palavras e prenhe de sibilares o amor revela-se.













O Borges me contou dum livro mágico, infinito
que folheando-o nunca encontrara o principio,
nem o fim jamais encontrou em suas folhas.
Quis queimá-lo mas teve medo, imaginou que
o fogo nunca teria fim e o mundo arderia...















As folhas secas, as penas perdendo o viço, o já visto
a condição exige, o espetáculo de nós discutindo
por dentro, questões gastas, as regras dum jogo estranho e sonhando queremos o impossível acontecer.
A cabeça branca no reflexo das montras, a imagem falando...















Voar como uma águia, pelos céus, pelas montanhas
com olhar penetrante, dominado o espaço, livre
a leveza de ser-se , isolamento ou explosão, leve.
Ser e deixar acontecer, desafio do desistir, ir, partir...














A miragem do amor que nos guie sempre e ao virar
de algumas dunas , o oásis desesperado  e na água
espelhado, o rosto do amor vital.
Amar é a luz que nos guia, a missão...









sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

... revisitando Led Zeppelin




























Led Zeppelin, é como um cheiro antigo ou um lugar distante que a mente já guardou no arquivo morto, de repente cruzas de novo com ele e num flash de imagens e apertos no peito sentes-te transportado para as sombras iluminadas, esquecidas, mas vivas na mente....















Foi há muito tempo que esta banda enchia de som o meu quarto cheio de posters, deles e das outras grandes bandas da altura.

O pessoal todo espalhado pelo chão ouvindo discos de vinil, era o máximo que poderíamos querer ou sonhar.








Nesse time não tínhamos TV, muito menos computador ou cell, só tínhamos o vinil e depois os gravadores de cassetes, a entrega ao conteúdo era muito grande, eram viagens psicadélicas...







                








Hoje os jovens são mais apreciadores das potencialidades da tecnologia e esquecem o principal que é usufruir,  sentir, viver, tocar.
Cadeias invisíveis prendem a espontaneidade para a pratica de actividades físicas e sociais, eles preferem a secretária ou a cama e a internet; o cérebro vertiginoso atrofiando o corpo que fica inerte montes de horas, como um velho doente prisioneiro da idade...















Acordem  jovens, oiçam um pouco de rock e pulem, gritem, deixem o lap de lado, vão namorar, vão a praia, façam desporto, teatro, socializem senão um dia irão parar nas futuras clínicas de desintoxicação do vício da internet  !!!
Wake up !!
















Rock é uma linguagem crua, viva !!
O rock dos Zeppelin é especial, intemporal, magnífico !!!


http://pt.wikipedia.org/wiki/Led_Zeppelin




segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Changes... - music by Frank Ocean















 " Tudo muda, nada permanece. "
  Heráclito






  




Mude.
Mas comece devagar, porque a direção 
é mais importante que a velocidade. 
Mude de caminho, ande por outras ruas, 
observando os lugares por onde você passa. 
Veja o mundo de outras perspectivas. 
Descubra novos horizontes. 
Não faça do hábito um estilo de vida. 
Ame a novidade.                                                                                              










Tente o novo todo dia. 
O novo lado, o novo método, o novo sabor, 
o novo jeito, o novo prazer, o novo amor. 
Busque novos amigos, tente novos amores. 
Faça novas relações. 
Experimente a gostosura da surpresa. 
Troque esse monte de medo por um pouco de vida. 
Ame muito, cada vez mais, e de modos diferentes. 
Troque de bolsa, de carteira, de malas, de atitude. 









Mude. 
Dê uma chance ao inesperado. 
Abrace a gostosura da Surpresa. 
Sonhe só o sonho certo e realize-o todo dia. 
Lembre-se de que a Vida é uma só, 
e decida-se por arrumar um outro emprego, 
uma nova ocupação, um trabalho mais prazeiroso, 
mais digno, mais humano. 
Abra seu coração de dentro para fora. 
Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as. 
Exagere na criatividade.












E aproveite para fazer uma viagem, longa, 
se possível sem destino. 
Experimente coisas diferentes, troque novamente. 
Mude, de novo. 
Experimente outra vez. 
Você conhecerá coisas melhores e coisas piores, 
mas não é isso o que importa. 
O mais importante é a mudança, 
o movimento, a energia, o entusiasmo. 
Só o que está morto não muda !
Edson Marques.











segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

William Blake - music by Poliça














                     Provérbios do Inferno



No tempo da semeadura, aprende; na colheita, ensina; no inverno, desfruta.
Conduz teu carro e teu arado por sobre os ossos dos mortos.
A estrada do excesso leva ao palácio da sabedoria.
A Prudência é uma solteirona rica e feia, cortejada pela Impotência.
Quem deseja, mas não age, gera a pestilência.
O verme partido perdoa ao arado.
Mergulha no rio quem gosta de água.
O tolo não vê a mesma árvore que o sábio.
Aquele, cujo rosto não se ilumina, jamais há de ser uma estrela.
A Eternidade anda apaixonada pelas produções do tempo.
A abelha atarefada não tem tempo para tristezas.
As horas de loucura são medidas pelo relógio; mas nenhum relógio mede as de sabedoria.
Os alimentos sadios não são apanhados com armadilhas ou redes. Torna do número, do peso e da medida em ano de escassez. Nenhum pássaro se eleva muito, se se eleva com as próprias asas.

Um cadáver não vinga as injúrias.
O ato mais sublime é colocar outro diante de ti.





Se o louco persistisse em sua loucura, acabaria se tornando Sábio.
A loucura é o manto da velhacaria.
O manto do orgulho é a vergonha.
As Prisões se constroem com as pedras da Lei, os Bordéis, com os tijolos da Religião.
O orgulho do pavão é a glória de Deus.
A luxúria do bode é a glória de Deus.
A fúria do leão é a sabedoria de Deus.
A nudez da mulher é a obra de Deus.
O excesso de tristeza ri; o excesso de alegria chora.
O rugir de leões, o uivar dos lobos, o furor do mar tempestuoso e da espada destruidora são fragmentos de eternidade grandes demais para os olhos humanos.
A raposa condena a armadilha, não a si própria.
Os júbilos fecundam. As tristezas geram.
Que o homem use a pele do leão; a mulher a lã da ovelha.
O pássaro, um ninho; a aranha, uma teia; o homem, a amizade.
O sorridente tolo egoísta e o melancólico tolo carrancudo serão ambos julgados sábios para que sejam flagelos.
O que hoje se prova, outrora era apenas imaginado.
A ratazana, o camundongo, a raposa, o coelho olham as raízes;
o leão, o tigre, o cavalo, o elefante olham os frutos.






A cisterna contém; a fonte derrama.
Um só pensamento preenche a imensidão.
Dizei sempre o que pensas, e o homem torpe te evitará.
Tudo o que se pode acreditar já é uma imagem da verdade.
A águia nunca perdeu tanto o seu tempo como quando resolveu aprender com a gralha.
A raposa provê para si, mas Deus provê para o leão.
De manhã, pensa; ao meio-dia, age; no entardecer, come; de noite, dorme.
Quem permitiu que dele te aproveitasses, esse te conhece.
Assim como o arado vai atrás de palavras, assim Deus recompensa orações.
Os tigres da ira são mais sábios que os cavalos da educação.
Da água estagnada espera veneno.
Nunca se sabe o que é suficiente até que se saiba o que é mais que suficiente.
Ouve a reprovação do tolo! É um elogio soberano!
Os olhos, de fogo; as narinas, de ar; a boca, de água; a barba, de terra.
O fraco na coragem é forte na esperteza.
A macieira jamais pergunta à faia como crescer; nem o leão, ao cavalo, como apanhar sua presa.
Ao receber, o solo grato produz abundante colheita.







Se os outros não fossem tolos, nós teríamos que ser.
A essência do doce prazer jamais pode ser maculada.
Ao veres uma Águia, vês uma parcela da Genialidade. Levanta a cabeça!
Assim como a lagarta escolhe as mais belas folhas para deitar seus ovos, assim o sacerdote lança sua maldição sobre as alegrias mais belas.
Criar uma florzinha é o labor de séculos.
A maldição aperta. A benção afrouxa.
O melhor vinho é o mais velho; a melhor água, a mais nova.
Orações não aram! Louvores não colhem!  Júbilos não riem!  Tristezas não choram!
A cabeça, o Sublime; o coração, o Sentimento; os genitais, a Beleza; as mãos e os pés, a Proporção.
Como o ar para o pássaro ou o mar para o peixe, assim é o desprezo para o desprezível.
A gralha gostaria que tudo fosse preto; a coruja, que tudo fosse branco.
A Exuberância é a Beleza.
Se o leão fosse aconselhado pela raposa, seria ardiloso.
O Progresso constrói estradas retas; mas as estradas tortuosas, sem o Progresso, são estradas da Genialidade.
Melhor matar uma criança no berço do que acalentar desejos insatisfeitos.
Onde o homem não está a natureza é estéril.
A verdade nunca pode ser dita de modo a ser compreendida sem ser acreditada.
É suficiente! Ou Basta.