sábado, 25 de agosto de 2012

essa nossa condição...








                                         



                                                 





                              Para o meu brother John, que se reintegrou de novo no Inominável ... 



Ah nossa perene condição humana...
Somos pó das estrelas amassados numa argila baça, onde se não vislumbra o cintilar estrelar...

Sim, o sorriso inocente duma criança, sim , ele exprime a novidade, a descoberta, mas vamos evoluindo pela existência e a condição terráquea se começará a revelar...

Ela não pára de se afirmar mais e mais cruel, mais e mais rapace, mais e mais selecção animalesca das espécies!






...e o espírito?

ele que sente, ele que percebe a incompreensão...
 Olha a matéria de que nós somos moldados e permanece flutuante...pairando no limbo do não saber
Habitante involuntário pergunta porque razão existe prisioneiro de um ser estranho, um ser com quem nos habituamos a conviver, de quem nos habituamos  a perceber as imperfeições ? 
Aleatoriamente somos moldados belos ou imperfeitos, chineses, indianos ou de outra característica diferente, inteligentes ou não....
Tal como numa fábrica, somos produtos acabados produtos série, ovos chocados na incubadora planetar , prontos para a experiência inexplicável de Gaia...







As recordações da juventude sobrevivem à decadência, ficam depois da morte prisioneiras numa fotografia ou numa canção em desuso...
Ser-se maduro é saber perceber que não somos pó nenhum das estrelas, somos sim entes incubados em argila ,aliens sem explicação...
 Somos felizes, somos angustiados, somos desligados, somos encucados...
Existimos sim, aqui, em Gaia...
e depois? 








segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Palavreando o tempo sem sentido













O tempo escorre qual água incessante e infinita que cascateia ravina abaixo, se perdendo nos destinos caminhos, sugada pela terra, evaporando-se 
sem sentido no éter ou viajando, exibindo sua cristalinidade  aos céus sequiosos...

Passa e não deixa sinais, segue e nos surpreende sempre, ora porque passou demasiado rápido ou porque simplesmente resolveu parar nos deixando desesperados...







Passageiros nesta nave corpórea seguimos ignorantes e meio apreensivos, constatando a velocidade a aumentar, velocidade que o tempo a si impõe , que a si injecta,  junkie de chegar a algum lugar a nós não comunicado...
Nessa estrada alucinante , a vertiginosa velocidade do tempo carrega em suas entranhas tempos mais lentos que espreitam impotentes o tempo se esvaindo, não deixando hipótese alguma de um sorriso curativo, apaziguador, poder  permanecer.






O tempo dum beijo canibal, longo de prazer absoluto demora uma ano-luz e alguns segundos até que um mosquito indiscreto numa frase inapropriada transforma o êxtase numa lágrima de sangue vermelho, vivo, e o relógio do tempo inverte o sentido dos ponteiros e instantaneamente a dor se pronuncia, a pele da alma se empola e a borbulhinha  fica e dura o tempo que o tempo quiser...
O tempo vira temporal, o temporal muda o tempo quente em tempo chuvoso que dura o tempo que tiver que durar...





Porque o tempo passa e não nos avisa que está passando rápido ou que não está querendo passar?
Como poderemos medir a velocidade com que o tempo passa por nossas vidas?
Gosto da velocidade do piscar dos olhos, é perfeita, não interfere com o que vemos, não interfere com as lágrimas nem com os sorrisos que nos habitam,  enquanto que o outro tempo, é revelador e nos deixa sempre frustrados, ora passa rápido quando o queríamos parado para continuar a felicidade daquele momento ou pára, quando o que queremos é fugir de alguma mágoa que nos apunhala...


domingo, 5 de agosto de 2012

Surreal_jazzmente











Lá ao longe a pequena figura surge e se aproxima em crescendo...desabitante de si vem vindo sem saber se voltará alguma vez.










O  jazz de Paul Brown & Marc Antoine faz o seu caminhar ritmado soltar notas musicais e sem sentir caminha absorto, caminha sabendo que não acontecerá nada em Dezembro de 2012, nem mais nada acontecerá para além do imprevisível .
 Possesso de tédio  chega finalmente ao lago do que não é previsível , a temperatura está amena , um crocodilo se achando  dorme de barriga para o ar, confiante, enquanto isso o pescador a seu lado remenda as redes velhas com que vem sonhando apanhar cardumes improváveis ..







Solta a jangada e num instante já flutua pelo lago, não deixa que as águas lhe molhem a apatia, precisa de permanecer seco , a tarde vai caindo e com ela a temperatura e a mascara inexpressiva da sua indiferença  ...
Avista a cabana na pequena ilhota dos desapontamentos e uma luz ténue de esperança ilumina subtilmente o cenário, não se vê ninguém, ali só se permite a solidão , a solidão intransponível de cada um.
Olhando a lua diminuída, coloca seus phones e  quando Najee começa a soprar o sax a lua  se encanta e   fica cheia e enorme...e azul.
 Um arco íris explode dentro do seu cérebro e tudo fica mais imprevisível...









Dançando com swing, é uma silhueta ritmada na enluarada  ilha das desilusões.
 Sacudida pela dança  a mente baralhada de tantas incertezas, ao ritmo do jazz de Jessie J vai-se encaixando, incerteza em certeza, como peças de  um puzzle...
Uma estrela cadente risca o céu no momento em que ele risca um fósforo para acender a beata e outros recantos do pensamento despertam, se iluminam...
Perto da meia noite e depois dum serão maravilhoso de solitude involuntária e que se esperava de resultado imprevisível, apaticamente e em paz dirigiu-se para a porta da cabana.











Tocou no botão da suposta campainha e alguns segundos depois e sem estar à espera, abriram-se duas portas e ele entrou num elevador.
Carregou na tecla do rés do chão e respirou fundo, se preparou para regressar ao mundo real, olhou para o relógio e só teria autocarro para casa ás 04H30...
O som de Richard Elliot traz o saxofone desta vez para a estação vazia, donde nunca saiu nenhum autocarro nem será previsível que  alguma vez saia ....e ao fundo na vitrine enegrecida de fuligem um poster velho,  um crocodilo  dorme de barriga para o ar, confiante, enquanto isso o pescador a seu lado remenda as redes velhas .....



   

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Romain Virgo - álbum novíssimo...








                             


...o menino cresceu , este é o 2º álbum, fresquinho.... e muito bom !!!





























segunda-feira, 30 de julho de 2012

Romain Virgo - the voice






                             




Voz, voz e muita voz !!!

 Jamaicano de 21 anos, descoberto num concurso de televisão em 2006. 

Simplesmente uma voz sublime !!!




























































http://en.wikipedia.org/wiki/Romain_Virgo

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Amy Whinehouse, um ano passou...






                                 
                                 





(...) A morte (ou a sua alusão) torna os homens delicados e patéticos.
Estes comovem-se pela sua condição de fantasmas. Cada acto que executam pode ser o último.
Não há um rosto que não esteja por se desfigurar como o rosto de um sonho.
Tudo, entre os mortais, tem o valor do irrecuperável e do perdido.
Entre os Imortais, pelo contrário, cada acto (e cada pensamento) é o eco de outros que no passado o antecederam, sem princípio visível, ou o claro presságio de outros que, no futuro, o repetirão até à vertigem.
Não há coisa que não esteja perdida entre infatigáveis espelhos.
 Nada pode ocorrer uma só vez, nada é primorosamente gratuito.
 O elegíaco, o grave, o cerimonial, não contam para os Imortais.
Homero e eu separamo-nos nas portas de Tânger. Creio que não nos despedimos. 

Jorge Luís Borges




































quarta-feira, 18 de julho de 2012

Parabéns Nelson Mandela












Madiba faz hoje 94 anos e o mundo celebra o homem integro, o exemplo vivo de verticalidade e de entrega total a uma causa que no seu caso não foi pequena, foi somente a luta de libertação do seu povo .
Para tal esteve preso 27 anos e depois de libertado foi eleito presidente do seu país, perdoou aos seus algozes e conduziu a África do Sul para um caminho que se dizia  quase impossível, o da paz e da reconciliação...
...e mais, contrariamente ao que é usual em África, no fim do seu mandato retirou-se e deu lugar a outro, num exemplo puro de não apego ao poder !!!
Long life to you Madiba ! 









"Ser pela liberdade não é apenas tirar as correntes de alguém, mas viver de forma que respeite e melhore a liberdade dos outros."



"Eu aprendi que a coragem não é a ausência de medo, mas o triunfo sobre ele. O homem corajoso não é aquele que não sente medo, mas aquele que conquista por cima do medo."






"Se falares a um homem numa linguagem que ele compreenda, a tua mensagem entra na sua cabeça. Se lhe falares na sua própria linguagem, a tua mensagem entra-lhe directamente no coração."

"Será que alguém pensa genuinamente que se não conseguiu algo foi por não ter tido o talento, a força, a resistência e a determinação nesse sentido?" 







"Ninguém nasce a odiar outra pessoa devido à cor da sua pele, ao seu passado ou religião. As pessoas aprendem a odiar, e, se o podem fazer, também podem ser ensinadas a amar, porque o amor é mais natural no coração humano do que o seu oposto."


"Quando penso no passado, no tipo de coisas que me fizeram, sinto-me furioso, mas, mais uma vez, isso é apenas um sentimento. O cérebro sempre domina e diz-me: tens um tempo limitado de estada na Terra e deves tentar usar esse período para transformar o teu país naquilo que desejas."

http://pt.wikipedia.org/wiki/Nelson_Mandela

domingo, 15 de julho de 2012

Neruda num domingo jamaicano






                 
                 



Ao subir à noite ao terraço de um arranha-céu altíssimo e aflitivo, pude tocar a abóboda noturna e num ato de amor extraordinário apoderei-me de uma estrela celeste.
Era uma noite negra e eu deslizava pelas ruas com a est
rela roubada no meu bolso.
De trêmulo cristal parecia e era num átimo como se levasse um pacote de gelo ou uma espada de arcanjo na cintura.






Guardei-a, temeroso, debaixo da cama para que ninguém a descobrisse, sua luz porém atravessou primeiro a lã do colchão, depois as telhas, e o telhado da minha casa.

Incômodos tornaram-se para mim os afazeres mais comuns.
Sempre com essa luz de astral acetileno que palpitava como se quisesse retornar para a noite, eu não podia dar conta de todos os meus deveres cheguei a esquecer de pagar as minhas contas e fiquei sem pão nem mantimentos.





 

Enquanto isso, na rua, se amotinavam transeuntes, boêmios vendedores atraídos sem dúvida pelo insólito clarão que viam sair de minha janela.
Então recolhi outra vez minha estrela, com cuidado a envolvi em um lenço e mascarado entre a multidão passei sem ser reconhecido.








Tomei a direção oeste, rumo ao rio Verde, que ali sob o arvoredo flui sereno.
Peguei a estrela da noite fria e suavemente lancei-a sobre as águas.
E não me surpreendeu notar que se afastava como peixe insolúvel movendo na noite do rio seu corpo de diamante.







Massala r&b by iTunes ...









Esta é a música  que estamos a passar, misturada pelo maravilhoso iTunes , esse instrumento que mudou a forma de nos relacionarmos com a musica que gostamos, enquanto os ecrãs mostram o campeonato mundial de atletismo juniores...

é calmo o inicio de noite de sábado...










^






























































Vivam a vida e curtam o seu lado positivo o mais intensamente que puderem !!!



segunda-feira, 9 de julho de 2012

Os sem escolha - music by Yoshiko Kishino


















Os caminhos que vamos percorrendo são uma mistura de trilhos feitos de pedras duras, ásperas, que nos ferem os pés e  de campos de erva tenra, de areia da praia  macia e fácil de caminhar ...
Qual a escolha mais acertada, qual dos dois o levará aonde quer chegar?






Todos os dias aprendemos algo e crescemos como pessoas ou erramos, nos enganamos e regredimos ou não passamos da cepa torta; o acaso reina absolutamente sobre qualquer plano ou desejo interiormente acalentado...
Porque teima ele  em pensar que pode realizar os seus anseios apenas porque quer e porque luta abnegadamente por conseguir?








Mandar tudo para o espaço, incluindo ele próprio...é o que no fim acaba lhe apetecendo...e com razão, digo eu !!




Os factores adversos do acaso têm-se sobreposto aos positivos estes   também decididos pelo acaso,  pelo que ele não tem hipótese de realizar nada daquilo que quer, apenas pode querer  e só realizará se o prepotente acaso assim  o entender ...












Quero ignorado, e calmo 
Por ignorado, e próprio 
Por calmo, encher meus dias 
De não querer mais deles. 

Aos que a riqueza toca 
O ouro irrita a pele. 
Aos que a fama bafeja 
Embacia-se a vida. 

Aos que a felicidade 
É sol, virá a noite. 
Mas ao que nada 'spera 
Tudo que vem é grato. 

Do que quero renego, se o querê-lo 
Me pesa na vontade. Nada que haja 
Vale que lhe concedamos 
Uma atenção que doa. 
Meu balde exponho à chuva, por ter água. 
Minha vontade, assim, ao mundo exponho, 
Recebo o que me é dado, 
E o que falta não quero. 

O que me é dado quero 
Depois de dado, grato. 

Nem quero mais que o dado 
Ou que o tido desejo.  

Fernando Pessoa (Ricardo Reis)




domingo, 1 de julho de 2012

Silicone Soul & Soul Clap , a alma duplamente ...



















Constatar, assim mesmo...
Ficar lúcido com delay, assim como não querendo tipo um tingir liquido de azuis,  depois azul mais escuro e de novo os azuis mais claros, agora a clarearem até tudo ficar alvo, branco, límpido...cheio de luz!
never ending history...
as portas da percepção atravessadas sem surpresa...
o nirvana particular aprofundado num só átomo, mais suculento, os caminhos opostos se aproximando em Zen , sossegando...











Nenhum ser nos foi concedido. Correnteza apenas 

Somos, fluindo de forma em forma docilmente: 
Movidos pela sede do ser atravessamos 
O dia, a noite, a gruta e a catedral 


Assim sem descanso as enchemos uma a uma 
E nenhuma nos é o lar, a ventura, a tormenta, 
Ora caminhamos sempre, ora somos sempre o visitante, 
A nós não chama o campo, o arado, a nós não cresce o pão 




Não sabemos o que de nós quer Deus 

Que, barro em suas mãos, connosco brinca, 
Barro mudo e moldável que não ri nem chora, 
Barro amassado que nunca coze 


Ser enfim como a pedra sólido! Durar uma vez! 
Eternamente vivo é este o nosso anseio 
Que medroso arrepio permanece apesar de eterno 
E nunca será o repouso no caminho 


Hermann Hesse










Tudo se me evapora. 
A minha vida inteira, as minhas recordações, a minha imaginação e o que contém, a minha personalidade, tudo se me evapora. 
Continuamente sinto que fui outro, que pensei outro. Aquilo a que assisto é um espectáculo com outro cenário. 
E aquilo a que assisto sou eu. 
Encontro às vezes, na confusão vulgar das minhas gavetas literárias, papéis escritos por mim há dez anos, há quinze anos, há mais anos talvez. E muitos deles me parecem de um estranho; desconheço-me deles. 
Houve quem os escrevesse, e fui eu. 
Senti-os eu, mas foi como em outra vida, de que houvesse agora despertado como de um sono alheio. 

Fernando Pessoa















                         




segunda-feira, 25 de junho de 2012

Parabéns Moçambique !!





                        

                                             Samora Machel proclamando a Independência de Moçambique



        25 de Junho de 1975, estava lá no estádio da Machava, esperamos à chuva, agrupados ao estilo russo por Grupo Dinamizadores dos Bairros e a chuva a cair miúda, sem parar…
depois já dentro do Estádio vi os recém chegados  ilustres filhos da Pátria, a figura daqueles que na mata tinham lutado para que chegássemos aquele 
momento solene…
ouvimos a voz carismática de Samora Machel a proclamar a nossa Independência …
a bandeira de Portugal foi arriada e em êxtase hasteamos todos a nossa primeira bandeira, a de Nação Soberana, 
da República Popular de Moçambique, a nação nascia marxista -leninista !!!
Muita coisa aconteceu e escrevemos a nossa história recente com sangue e com determinação.





Hoje somos mais maduros, temos mais tranquilidade para pensar e tomar decisões e somos a República de Moçambique, nação jovem, terra prometida para muitos, nossa terra onde ainda esperamos que seja  profícua para os seus filhos…
Manancial de possibilidades para o mundo inteiro mas ainda muito aquém do bem que poderia gerar na vida dos moçambicanos…

Como diz o Mia Couto, existem muitos enriquecidos quando precisávamos sim era de ricos, geradores de riqueza, ricos por trabalho realizado, ricos que contribuem  na criação de empregos, que constroem obra visível e com pertinência para o desenvolvimento do país, etc... 





Vivi isso com os meus 17 anos e nesse momento inesquecível, como numa viagem psicadélica, sonhei a minha pátria essa pátria aqui evocada no poema de  José Craveirinha, o nosso poeta-mor !!!!



SIA-VUMA 

Enquanto
instintivas andorinhas
incansáveis fulgem as asas 
contra a taciturna saca azul
engomada a pulso sobre nós
com alcunha portuguesa de céu
suburbaninhos largam-se à mecha dos pneus à mão
ou pilotos analfabetizados mesmo assim guiam
à pata os friendships de caixote
SIA-VUMA!

E o nosso amor de homens
descerra os olhos ao nu mais feminino
de um par de pernas nacionais abertas
na insolação viril do xigubo
SIA-VUMA!

E noivas
cingem aos rins
a vertigem púrpura das capulanas
e reprimem nos bantos corações
uma a uma as missangas da tristeza
e talham a dente a xicatauana da paciência
que o tempo de amar não se extingue
e na espera o longo sono excessivo
do mais verdadeiro amor também compensa
alucinante visão de um novo horizonte
SIA-VUMA!

E carnudos
gomos de lábios escarlates de virgindade
nas nossas pálpebras
boca e músculos tlhatlhuvem a verdade
da coacta insónia do zampungana
SIA-VUMA!

E não mais o lovolo
e a estiva de manhã à noite
sem o gozo comum dos sexos
e coxas delas penetradas
a invencíveis machos de liberdade
SIA-VUMA!

E as maxilas
das fêmeas a tin-gomas de desejo
que nos mordam a carne no delírio
indelével dos dentes
e fembem-nos o torso e os punhos
à lei dos tintlholos irados
contra as maiúsculas das letras
e algarismos nas blusas de contratados
SIA-VUMA!

E o comboio dos magaízas
será transporte escolar dos meninos da linha
e os compondes celeiros do nosso milho
SIA-VUMA!

E um círculo de braços
negros, amarelos, castanhos e brancos
aos uivos da quizumba lançada ao mar
num amplexo a electrogéneo
apertará o imbondeiro sagrado de Moçambique
à música das timbilas
violas, transístores e xipendanas
SIA-VUMA

E dançaremos o mesmo tempo da marrabenta
sem a espera do calcanhar da besta
do medo a cavalo em nós
SIA-VUMA!

E seremos viajantes por conta própria
jornalistas, operários com filhas também dançarinas de ballet
arquitectos, poetas com poemas publicados
compositores e campeões olímpicos
SIA-VUMA!

E construiremos escolas
hospitais e maternidades ao preço
de serem de graça para todos
e estaleiros, fábricas, universidades
pontes, jardins, teatros e bibliotecas
SIA-VUMA!

E guiaremos as nossas charruas
editaremos os nossos livros
semearemos de arroz os nossos campos
sintonizaremos a voz dos nossos emissores
e bateremos também o crawl nas piscinas
SIA-VUMA!

E ergueremos estátuas aos nossos técnicos
estâncias para os nossos velhos
estádios para os nossos jovens
e represas alegóricas ao pai
à mãe e ao filho não evocados nas maldições
infinitas que devastaram a África
SIA-VUMA!

E distribuiremos amuletos de aritmética
e invocaremos o exorcismo dos altos-fornos
a antropologia cultural de um changana
a uma virgem maconde moçambicanamente
e a lógica diesel das geradoras na Manhiça
SIA-VUMA!

E armados de martelo e chaves-de-boca
montaremos água canalizada no Xipamanine todo
desviaremos o machimbombo 7 para a Polana
e o machimbombo 2 da Polana para o Alto-Maé
e controlaremos a lavra de quilovátios todos os dias
semeando amperes no Chamanculo inteiro
SIA-VUMA!

E inocularemos
e nós para o mundo a vacina
contra os vírus suásticos
e pendurada exibiremos ao povo dos belos bairros
a relíquia fóssil da gengiva de nojo
dos que traírem o folclore deste poema
SIA-VUMA!

E à propaganda deste abecedário
inoxidáveis ao medo
levantemo-nos ao acetileno das palavras
insurrectos em massa
SIA-VUMA!

E deixem em nós gerar-se
irresistível a prole das sementes do beijo
consanguíneo do Grande Dia
SIA-VUMA!

Que um enxame de mãos em prece
na orgia fantástica dos augúrios do nhanga
há-de voltar deste exílio
mais moçambicano connosco
SIA-VUMA!


Passaram 37 anos e eu queria que o meu País fosse mais justo e que o objectivo de vida vigente, que é o de atingir a riqueza a qualquer preço, fosse substituído pelo nascer de uma consciência nacionalista  e que nos preocupássemos mais em desenvolver os valores humanos e no ensinamento do sentido profundo do  significado da pátria…









Queria também que aqueles que traçam o nosso futuro, não perdessem completamente o sentido da realidade e que conseguissem perceber o caminho por onde estão a levar um povo inteiro…
Que reflectissem  com sentimento e com respeito…
O meu sonho de pátria mantém-se intacto e sei que encontraremos o nosso caminho, que as ervas daninhas serão arrancadas pela raiz e que definitivamente trilharemos esse almejado caminho do desenvolvimento, da justiça, da verdade…












Sou feliz por ter nascido aqui e por pertencer a este povo humilde, alegre, generoso e trabalhador…
Parabéns Moçambique, parabéns por termos conseguido nos mantermos e em paz, apesar dos pesares…
Aos trancos e barrancos vamos  crescendo e  vamos nos acertando…















quarta-feira, 20 de junho de 2012

Babylon is falling...













Quando o juízo final chegar quero estar sentado na fila da frente e quero ser julgado...
vou dizer que passei por aqui sempre expectante e sempre disposto a ir mais além, seguindo a miragem do bem...
vou dizer que nunca foi minha intenção fazer deste planeta um lugar ruim...
vou dizer também que nunca percebi as regras que nós inventamos para nós,  nem os resultados antagónicos entre o que se conseguiu tecnologicamente e o fracasso do que não se conseguiu para a humanidade num todo...





Vou berrar com raiva e desencanto pelo facto da maioria ter vivido sem nunca ter realizado os seus anseios e reenvindicar saber  o porquê de só alguns terem chegado lá...
vou perguntar porque razão tivemos de passar por tantas provações e mesmo assim não entendermos o porquê...





Nesse dia vou expurgar meus podres e exigir a justificação de ter tido de entrar num jogo em que não pedi para participar...
vou me rir na cara dos juízes e dizer-lhes que não tenho medo de nada e que a minha alma já não lhes pertence desde há muito...
quando soarem as trombetas do veredicto eu quero estar atento e estarei pronto para o que der e vier, 
só espero sem humildade alguma que  no fim TUDO FIQUE CLARO E EU PERCEBA OS DESÍGNIOS QUE NOS FIZERAM AQUI SURGIR E AQUI PERMANECER ...





 Por agora a minha raiva egoísta, pessoal, é apenas uma insignificância face ao caos...e é insanamente corajosa 
Toquem música!!!
Toquem sons embriagantes da Babilónia a ruir....
Sirvam-me o amor, embriaguem-me de prazer, deixem-me gargalhar até aos limites, deixem-me ficar LOUCO, enlouquecido...enquanto ainda tenho tempo!!!






segunda-feira, 18 de junho de 2012

Blá, blá, blá









O caminho do bem...
Trilhamos todos nossos caminhos pessoais, uns pelo caminho do bem outros por  percursos que não o do bem...
O caminho do mal...
Por opção seremos nós maus? ou seremos maus por alguma disfunção ?
Ah! quando nos sentimos injustiçados , acusados de prevaricarmos e sem qualquer hipótese somos condenados...





Onde fica a justiça quando te enclausuram numa mágoa sem hipótese de redenção?
Divagar sem pressa, devagarzinho, lágrima a lágrima atrás do sorriso castrado.
Queria que o pedido de perdão esclarecesse suas intenções puras, queria tanto...
Pedir perdão mesmo que esse pedido não tenha razão de existir...
 O olhar exterior o julga sem apelo nem agravo e o seu mundo interior?





 Não existe protecção divina  quando a verdade está oculta e não tem como se mostrar?
Terrível condição humana, sempre complicando o que não tem razão nenhuma para se complicar!!!

Sabe que está escrevendo por sinais, tal qual o acaso quando  decide complicar as nossas vidas, ele se porta como um verdadeiro ditador sacana...





Corre atrás dele em retrospectiva, auscultando e abrindo bem os olhos, investigando o percurso já feito...
 Errou, tropeçou, sabe de certeza que não foi de propósito, apenas aconteceu, só, como acontecem os acidentes  ...
Não se consegue viver naturalmente se se tiver  que estar constantemente a fiscalizar nossos passos, nossos impulsos...
Tanta besteira, tanta frustração, tanta mágoa e tristeza e uma sensação de desilusão e desalento...





Ele só queria ser um poucochinho feliz e tranquilo, porque é tão difícil ?


sexta-feira, 15 de junho de 2012

Naguib - sentimentalmente






                                      






                




Naguib é o meu pintor preferido, moçambicano e mestre das formas femininas e das cores... 




        





                                            






              






Triunfam aqueles que sabem quando lutar e quando esperar

Sun Tzu



                                   







              






O amor não prende, liberta! Ame porque isso faz bem a você, não por esperar algo em troca. Criar expectativas demais pode gerar decepções. Quem ama de verdade, sem apego, sem cobranças, conquista o carinho verdadeiro das pessoas. 

Chico Xavier




                             







        



Se você não se atrasar demais, posso te esperar por toda a minha vida. 
Oscar Wilde




http://www.kulungwana.org.mz/por/Artistas/Naguib-Abdula