segunda-feira, 25 de junho de 2012

Parabéns Moçambique !!





                        

                                             Samora Machel proclamando a Independência de Moçambique



        25 de Junho de 1975, estava lá no estádio da Machava, esperamos à chuva, agrupados ao estilo russo por Grupo Dinamizadores dos Bairros e a chuva a cair miúda, sem parar…
depois já dentro do Estádio vi os recém chegados  ilustres filhos da Pátria, a figura daqueles que na mata tinham lutado para que chegássemos aquele 
momento solene…
ouvimos a voz carismática de Samora Machel a proclamar a nossa Independência …
a bandeira de Portugal foi arriada e em êxtase hasteamos todos a nossa primeira bandeira, a de Nação Soberana, 
da República Popular de Moçambique, a nação nascia marxista -leninista !!!
Muita coisa aconteceu e escrevemos a nossa história recente com sangue e com determinação.





Hoje somos mais maduros, temos mais tranquilidade para pensar e tomar decisões e somos a República de Moçambique, nação jovem, terra prometida para muitos, nossa terra onde ainda esperamos que seja  profícua para os seus filhos…
Manancial de possibilidades para o mundo inteiro mas ainda muito aquém do bem que poderia gerar na vida dos moçambicanos…

Como diz o Mia Couto, existem muitos enriquecidos quando precisávamos sim era de ricos, geradores de riqueza, ricos por trabalho realizado, ricos que contribuem  na criação de empregos, que constroem obra visível e com pertinência para o desenvolvimento do país, etc... 





Vivi isso com os meus 17 anos e nesse momento inesquecível, como numa viagem psicadélica, sonhei a minha pátria essa pátria aqui evocada no poema de  José Craveirinha, o nosso poeta-mor !!!!



SIA-VUMA 

Enquanto
instintivas andorinhas
incansáveis fulgem as asas 
contra a taciturna saca azul
engomada a pulso sobre nós
com alcunha portuguesa de céu
suburbaninhos largam-se à mecha dos pneus à mão
ou pilotos analfabetizados mesmo assim guiam
à pata os friendships de caixote
SIA-VUMA!

E o nosso amor de homens
descerra os olhos ao nu mais feminino
de um par de pernas nacionais abertas
na insolação viril do xigubo
SIA-VUMA!

E noivas
cingem aos rins
a vertigem púrpura das capulanas
e reprimem nos bantos corações
uma a uma as missangas da tristeza
e talham a dente a xicatauana da paciência
que o tempo de amar não se extingue
e na espera o longo sono excessivo
do mais verdadeiro amor também compensa
alucinante visão de um novo horizonte
SIA-VUMA!

E carnudos
gomos de lábios escarlates de virgindade
nas nossas pálpebras
boca e músculos tlhatlhuvem a verdade
da coacta insónia do zampungana
SIA-VUMA!

E não mais o lovolo
e a estiva de manhã à noite
sem o gozo comum dos sexos
e coxas delas penetradas
a invencíveis machos de liberdade
SIA-VUMA!

E as maxilas
das fêmeas a tin-gomas de desejo
que nos mordam a carne no delírio
indelével dos dentes
e fembem-nos o torso e os punhos
à lei dos tintlholos irados
contra as maiúsculas das letras
e algarismos nas blusas de contratados
SIA-VUMA!

E o comboio dos magaízas
será transporte escolar dos meninos da linha
e os compondes celeiros do nosso milho
SIA-VUMA!

E um círculo de braços
negros, amarelos, castanhos e brancos
aos uivos da quizumba lançada ao mar
num amplexo a electrogéneo
apertará o imbondeiro sagrado de Moçambique
à música das timbilas
violas, transístores e xipendanas
SIA-VUMA

E dançaremos o mesmo tempo da marrabenta
sem a espera do calcanhar da besta
do medo a cavalo em nós
SIA-VUMA!

E seremos viajantes por conta própria
jornalistas, operários com filhas também dançarinas de ballet
arquitectos, poetas com poemas publicados
compositores e campeões olímpicos
SIA-VUMA!

E construiremos escolas
hospitais e maternidades ao preço
de serem de graça para todos
e estaleiros, fábricas, universidades
pontes, jardins, teatros e bibliotecas
SIA-VUMA!

E guiaremos as nossas charruas
editaremos os nossos livros
semearemos de arroz os nossos campos
sintonizaremos a voz dos nossos emissores
e bateremos também o crawl nas piscinas
SIA-VUMA!

E ergueremos estátuas aos nossos técnicos
estâncias para os nossos velhos
estádios para os nossos jovens
e represas alegóricas ao pai
à mãe e ao filho não evocados nas maldições
infinitas que devastaram a África
SIA-VUMA!

E distribuiremos amuletos de aritmética
e invocaremos o exorcismo dos altos-fornos
a antropologia cultural de um changana
a uma virgem maconde moçambicanamente
e a lógica diesel das geradoras na Manhiça
SIA-VUMA!

E armados de martelo e chaves-de-boca
montaremos água canalizada no Xipamanine todo
desviaremos o machimbombo 7 para a Polana
e o machimbombo 2 da Polana para o Alto-Maé
e controlaremos a lavra de quilovátios todos os dias
semeando amperes no Chamanculo inteiro
SIA-VUMA!

E inocularemos
e nós para o mundo a vacina
contra os vírus suásticos
e pendurada exibiremos ao povo dos belos bairros
a relíquia fóssil da gengiva de nojo
dos que traírem o folclore deste poema
SIA-VUMA!

E à propaganda deste abecedário
inoxidáveis ao medo
levantemo-nos ao acetileno das palavras
insurrectos em massa
SIA-VUMA!

E deixem em nós gerar-se
irresistível a prole das sementes do beijo
consanguíneo do Grande Dia
SIA-VUMA!

Que um enxame de mãos em prece
na orgia fantástica dos augúrios do nhanga
há-de voltar deste exílio
mais moçambicano connosco
SIA-VUMA!


Passaram 37 anos e eu queria que o meu País fosse mais justo e que o objectivo de vida vigente, que é o de atingir a riqueza a qualquer preço, fosse substituído pelo nascer de uma consciência nacionalista  e que nos preocupássemos mais em desenvolver os valores humanos e no ensinamento do sentido profundo do  significado da pátria…









Queria também que aqueles que traçam o nosso futuro, não perdessem completamente o sentido da realidade e que conseguissem perceber o caminho por onde estão a levar um povo inteiro…
Que reflectissem  com sentimento e com respeito…
O meu sonho de pátria mantém-se intacto e sei que encontraremos o nosso caminho, que as ervas daninhas serão arrancadas pela raiz e que definitivamente trilharemos esse almejado caminho do desenvolvimento, da justiça, da verdade…












Sou feliz por ter nascido aqui e por pertencer a este povo humilde, alegre, generoso e trabalhador…
Parabéns Moçambique, parabéns por termos conseguido nos mantermos e em paz, apesar dos pesares…
Aos trancos e barrancos vamos  crescendo e  vamos nos acertando…















quarta-feira, 20 de junho de 2012

Babylon is falling...













Quando o juízo final chegar quero estar sentado na fila da frente e quero ser julgado...
vou dizer que passei por aqui sempre expectante e sempre disposto a ir mais além, seguindo a miragem do bem...
vou dizer que nunca foi minha intenção fazer deste planeta um lugar ruim...
vou dizer também que nunca percebi as regras que nós inventamos para nós,  nem os resultados antagónicos entre o que se conseguiu tecnologicamente e o fracasso do que não se conseguiu para a humanidade num todo...





Vou berrar com raiva e desencanto pelo facto da maioria ter vivido sem nunca ter realizado os seus anseios e reenvindicar saber  o porquê de só alguns terem chegado lá...
vou perguntar porque razão tivemos de passar por tantas provações e mesmo assim não entendermos o porquê...





Nesse dia vou expurgar meus podres e exigir a justificação de ter tido de entrar num jogo em que não pedi para participar...
vou me rir na cara dos juízes e dizer-lhes que não tenho medo de nada e que a minha alma já não lhes pertence desde há muito...
quando soarem as trombetas do veredicto eu quero estar atento e estarei pronto para o que der e vier, 
só espero sem humildade alguma que  no fim TUDO FIQUE CLARO E EU PERCEBA OS DESÍGNIOS QUE NOS FIZERAM AQUI SURGIR E AQUI PERMANECER ...





 Por agora a minha raiva egoísta, pessoal, é apenas uma insignificância face ao caos...e é insanamente corajosa 
Toquem música!!!
Toquem sons embriagantes da Babilónia a ruir....
Sirvam-me o amor, embriaguem-me de prazer, deixem-me gargalhar até aos limites, deixem-me ficar LOUCO, enlouquecido...enquanto ainda tenho tempo!!!






segunda-feira, 18 de junho de 2012

Blá, blá, blá









O caminho do bem...
Trilhamos todos nossos caminhos pessoais, uns pelo caminho do bem outros por  percursos que não o do bem...
O caminho do mal...
Por opção seremos nós maus? ou seremos maus por alguma disfunção ?
Ah! quando nos sentimos injustiçados , acusados de prevaricarmos e sem qualquer hipótese somos condenados...





Onde fica a justiça quando te enclausuram numa mágoa sem hipótese de redenção?
Divagar sem pressa, devagarzinho, lágrima a lágrima atrás do sorriso castrado.
Queria que o pedido de perdão esclarecesse suas intenções puras, queria tanto...
Pedir perdão mesmo que esse pedido não tenha razão de existir...
 O olhar exterior o julga sem apelo nem agravo e o seu mundo interior?





 Não existe protecção divina  quando a verdade está oculta e não tem como se mostrar?
Terrível condição humana, sempre complicando o que não tem razão nenhuma para se complicar!!!

Sabe que está escrevendo por sinais, tal qual o acaso quando  decide complicar as nossas vidas, ele se porta como um verdadeiro ditador sacana...





Corre atrás dele em retrospectiva, auscultando e abrindo bem os olhos, investigando o percurso já feito...
 Errou, tropeçou, sabe de certeza que não foi de propósito, apenas aconteceu, só, como acontecem os acidentes  ...
Não se consegue viver naturalmente se se tiver  que estar constantemente a fiscalizar nossos passos, nossos impulsos...
Tanta besteira, tanta frustração, tanta mágoa e tristeza e uma sensação de desilusão e desalento...





Ele só queria ser um poucochinho feliz e tranquilo, porque é tão difícil ?


sexta-feira, 15 de junho de 2012

Naguib - sentimentalmente






                                      






                




Naguib é o meu pintor preferido, moçambicano e mestre das formas femininas e das cores... 




        





                                            






              






Triunfam aqueles que sabem quando lutar e quando esperar

Sun Tzu



                                   







              






O amor não prende, liberta! Ame porque isso faz bem a você, não por esperar algo em troca. Criar expectativas demais pode gerar decepções. Quem ama de verdade, sem apego, sem cobranças, conquista o carinho verdadeiro das pessoas. 

Chico Xavier




                             







        



Se você não se atrasar demais, posso te esperar por toda a minha vida. 
Oscar Wilde




http://www.kulungwana.org.mz/por/Artistas/Naguib-Abdula

terça-feira, 12 de junho de 2012

Estilhaçado





                               




O chão fugiu, num piscar de olhos o sol emudeceu...
Como chuva caindo muita, também seu sol se esvaiu pelo chão e tudo a terra sugou...
A festa que parecia a celebração perfeita da vida terminou e ficou ele de novo dançando sozinho.
Sozinho com seus ais e seus fantasmas hilariantes, com sua estupefacção aos caprichos do improvável...








O caminho como diz seu velho amigo começa a ficar mais claro, o processo se desenrolando...
 A sabedoria da dor é pungente e apunhala, fere trespassa as lágrimas e nem chorar consegue, queda-se acocorado, à  mercê do acaso...










O fascínio é lhe proibido, apenas poderá passear seu olhar pelo oxigénio do sentir, sem ele sorrindo a certeza do definhar é vera e caótica.
Uma vontade de pranto o acomete e quase com prazer anseia o momento em que explodirá por dentro, em que os cacos do tesouro se espalharão feito cinzas ...
Fragmentos irreais do que era o seu sol, miríade de  uma luz que se extingue.









 Inconformado e vivo geme, teme pelo que virá, não quer imaginar o vazio do que parecia pleno se transformando num holograma, em mais um ente etéreo lhe atazanando o sentir, quebrando de novo, estilhaçando...
Quebrando irremediavelmente  tudo !!!









domingo, 3 de junho de 2012

Dançando com a vida







                               








               







A idiotice é vital para a felicidade.

Gente chata essa que quer ser séria, profunda e visceral sempre. Putz! A vida já é um caos, por que fazermos dela, ainda por cima, um tratado? Deixe a seriedade para as horas em que ela é inevitável: mortes, separações, dores e afins.

No dia-a-dia, pelo amor de Deus, seja idiota! Ria dos próprios defeitos. E de quem acha defeitos em você. Ignore o que o boçal do seu chefe disse. Pense assim: quem tem que carregar aquela cara feia, todos os dias, inseparavelmente, é ele. Pobre dele.

Milhares de casamentos acabaram-se não pela falta de amor, dinheiro, sexo, sincronia, mas pela ausência de idiotice. Trate seu amor como seu melhor amigo, e pronto.

Quem disse que é bom dividirmos a vida com alguém que tem conselho pra tudo,soluções sensatas, mas não consegue rir quando tropeça?

hahahahahahahahaha!...







Alguém que sabe resolver uma crise familiar, mas não tem a menor idéia de como preencher as horas livres de um fim de semana? Quanto tempo faz que você não vai ao cinema?
É bem comum gente que fica perdida quando se acabam os problemas. E daí,o que elas farão se já não têm por que se desesperar?
Desaprenderam a brincar. Eu não quero alguém assim comigo. Você quer? Espero que não.
Tudo que é mais difícil é mais gostoso, mas... a realidade já é dura; piora se for densa.
Dura, densa, e bem ruim.

Brincar é legal. Entendeu?

Esqueça o que te falaram sobre ser adulto, tudo aquilo de não brincar com comida, não falar besteira, não ser imaturo, não chorar, não andar descalço,não tomar chuva.
Pule corda!
Adultos podem (e devem) contar piadas, passear no parque, rir alto e lamber a tampa do iogurte.
Ser adulto não é perder os prazeres da vida - e esse é o único "não" realmente aceitável.





Teste a teoria. Uma semaninha, para começar.
Veja e sinta as coisas como se elas fossem o que realmente são:

passageiras. Acorde de manhã e decida entre duas coisas: ficar de mau humor e transmitir isso adiante ou sorrir...

Bom mesmo é ter problema na cabeça, sorriso na boca e paz no coração!
Aliás, entregue os problemas nas mãos de Deus e que tal um cafezinho gostoso agora?
A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore,dance e viva intensamente antes que a cortina se feche!

Arnaldo Jabor














quarta-feira, 30 de maio de 2012

Filipe Catto - Fôlego













Espectáculo!!!!

O Brasil faz dançar a língua de Camões e esta é mais uma grande estrela recém nascida

Sublime pintura , disco  maravilhoso, super diferente mas com tudo, com todos ....
Cristalino, sonoridade nova, feliz é como me sinto, uma prenda !!!
Como é bom quando de novo nos apaixonamos por um disco e tocamos e tocamos....









                                                  


















             












               











            











            














          




quinta-feira, 24 de maio de 2012

Maldoror - Bar Lounge Classics Vol.5











Li os " Cantos de Maldoror " nos meus vinte e alguns e marcou-me para sempre, livro alucinado,uma viagem psicadélica fantástica às profundezas do ser, um filme por fazer.
Incrível a forma como ele confronta o Criador, muito avançado o Isidore Ducasse que só viveu 24 anos e escreveu este documento único...








“Vós me destes a lógica, que é como a própria alma  de vossos ensinamentos, 
cheia de sabedoria; com seus silogismos, cujo labirinto complicado nem por isso deixa de ser compreensível para mim, minha inteligência sentiu duplicarem suas forças audaciosas. 
Com a ajuda deste auxiliar terrível descobri na humanidade, ao nadar rumo às profundezas, diante do arrecife do ódio, a maldade negra e 
horripilante que vegetava em meio a miasmas deletérios, admirando seu umbigo. 
Fui o primeiro a descobrir, nas trevas de suas entranhas, esse vício nefasto, o mal! 
Superior nela ao bem. Com essa arma envenenada que  me concedestes fiz descer de seu pedestal construído pela covardia do homem, o próprio criador!”








 " 
Em que estavas pensando, menino? 

- Eu pensava no céu. 
- Não é necessário que penses no céu; já é bastante pensar na terra, estás cansado de viver, tu que mal acaba de nascer? 
- Não, mas qualquer um prefere o céu à terra. 
- Pois bem, eu não. Pois já que o céu foi criado por deus, assim como a terra, podes estar certo de que lá encontres os mesmos males que aqui em baixo. 
Depois da tua morte, não serás recompensado de acordo com teus méritos; pois, se cometem injustiças nesta terra (como tu o perceberás, por experiência própria, mais tarde), não há motivo para que, na outra vida, não se cometam outras tantas.







O melhor que tens a fazer é não pensar em deus, e praticar a justiça por tuas 
próprias mãos, já que esta te é recusada... Desejas riquezas, belos palácios e a glória? Ou me enganaste quando afirmaste essas nobres pretensões? 
- Não, não, eu não o enganava. Mas queria alcançar  o que desejo por outros meios. 
- Então, nada alcançarás. Os meios virtuosos e bem intencionados não levam a nada. É preciso por em acção alavancas mais enérgicas e tramas mais sábias. 
Antes que te tornes célebre pela virtude, e assim alcances tua meta, uma centena de outros terá tido tempo de saltar sobre tuas costas, e chegar ao fim da corrida antes de ti, de forma que não haverá mais lugar para suas ideias estreitas."






Tu me darias prazer, ó criador, se me deixasses expressar meus sentimentos. 
Manejando sarcasmos terríveis, com mão firme e fria, advirto-te que meu coração conterá o bastante deles para poder atacar-te até o fim de minha existência.
Golpearei tua carcaça  oca; e com tamanha força, que me encarrego de fazer saírem dela as parcelas restantes de inteligência que não quiseste dar ao homem, pois teria ciúme de fazê-lo igual a ti, e que escondeste em tuas tripas, bandido esperto, como se não soubesses que mais cedo ou mais tarde eu as descobriria com meu olho sempre aberto, as roubaria, e as compartilharia com meus semelhantes.







Eu vos criei; portanto, tenho direito de fazer convosco o que bem entender. 
Nada me fizestes, não digo o contrário. Faço-vos sofrer, e isso é para o meu prazer”






“Eu vi, durante toda a minha vida, sem exceptuar um só, os homens de ombros 

estreitos praticarem atos estúpidos e numerosos, embrutecerem seus 
semelhantes, enfiarem o dinheiro dos outros no bolso, e perverterem as almas por todos os meios”





http://pt.wikipedia.org/wiki/Conde_de_Lautr%C3%A9amont





segunda-feira, 21 de maio de 2012

Surrealidade - mais música










                                






Tocam sinos
Tlim! Tlim! Tlim !
Os carneiros prateados saltam a sebe,  sincronizados, um atrás do outro.
A nuvem de sono fica cheia de balidos e a luz do laptop é um pirilampo mágico, a música do vizinho soa no ouvido...
...deixa vida me levar, vida leva eu, lá lá lá
depois dum comment justinho num blog amado ele ficou envergonhado e percebeu que não vale a pena ser chorão..
As luzes azuis da noite de inverno africano silhuetam a minha cidade, os vermelhos dos stop dos carros quebram a monotonia e o morcego chia e passa  a alta velocidade...
Falar de coisas bonitas é mais difícil do que da dor, porque será?





Feliz acordou muito cedo e se preparou para mais um dia de labuta...

ligou o rádio e se encantou com as notícias, o mundo não podia ser mais perfeito !! 


" ...na cidade de Chocolate foi decretado que a semana de trabalho seja encurtada de 3 dias para 2 dias de modo a que o cidadão possa desfrutar deste inverno na companhia dos seus, fazendo actividades culturais e desportivas...
 A fábrica de produtos de 1ª necessidade que produz para oferecer  aproveita esta medida para duplicar sua produção a fim de apoiar o país vizinho com problemas técnicos na sua fábricação.
O futebolista internacional mais bem pago do mundo o Chico do Toque, declarou que vai abandonar a carreira a fim de terminar seus estudos, pois sonha desde criança em ser médico sem fronteira....





...segundo novas pesquisas apenas alguns países ainda não extinguiram a fome mas espera-se que dentro de 2 anos o mundo não tenha mais este problema...
A fábrica Microsoft após anos de lucros fabulosos vendendo o famoso Apple Mac decidiu produzir durante alguns meses um modelo mais simples para ser distribuído por todos os jovens que se destacarem nos estudos em todo o mundo..." 








desliga disse o felizardo e o rádio obediente se calou depois   desceu pelo elevador de vidro; o autocarro electrónico  passou logo na hora e à entrada tinha seu croissant e café esperando no  assento ( um bónus da companhia de transportes para seus clientes madrugadores).
Olhou o jardim enquanto passava e pela janela o cheiro das flores entrou e todo mundo em coro disse "ahhhhhhhh, que maravilha" e choraram todos de emoção...
Vivia num mundo sem mácula, a humanidade finalmente tinha o mundo que merecia !!!
...um mundo sem graça nenhuma !!







 

sábado, 19 de maio de 2012

Oh God dammit !! - music by Crazy P













Não e basta !!!
Crazy P a bater e eu , eu mesmo sem ser a 3ª pessoa, moi !!!
What a fuck is this???
Bater no ceguinho, chover no molhado, pérolas a porcos, insistir , insistir mudando a fórmula...
Human Being...
como ele não acerta nunca, como ele acerta só algumas poucas vezes...
A frustração de perceber o quanto sou, o quanto nós todos somos um esboço do que poderíamos ser.











Chega uma hora em que se perde a força de recomeçar, se percebe a nossa solidão férrea a de  viver sem saber...
Este drama existencial é de tal modo cheio de vibração que ninguém jamais encontra a paz , o zen feliz do que não existe.
Estar constantemente a mudar de emoções fortes é desgastante, então que venha a próxima dimensão ou mesmo um potencial vazio eterno..
Esse possível desvendar desta charada trágico-romântica que é a nossa existência que venha  já a seguir !!!
Por aqui, por este formigueiro ou vespeiro ou aglomeração desta nossa espécie nos surpreendemos ininterruptamente..
Vistos sob um prisma para além ser humano o nosso espectáculo é deprimente, é a pura lei do mais forte e a qualquer preço...









Então no outono desta passagem acabei percebendo que nunca vou entender o que aqui vim fazer, que propósito vim aqui cumprir...
As nossas vidinhas são sempre  previsíveis, o extraordinário está muito para além de nós terráqueos, de certeza, só pode...
Sonhei tanto um mundo diferente que cada vez mais sinto menos deslumbramentos, aliás não me deslumbro à muito.
Quando penso que encontrei a onda perfeita algo vem e estraga o barato, quando penso que finalmente encontrei logo logo me decepciono
Estou chatiadíssimo e de certeza chatíssimo também...
I need true cumplicity !!!!






quinta-feira, 17 de maio de 2012

Reggaerockando a maldita...












" Olá, tás aí?
Estou !
Já tinha reparado....
Então porque perguntas ? "

O velho cenário de cortinas vermelhas, de vermelho esfiapado e deslavado se abrindo para mais uma reprise...










Por traz das luzes sombrias os mesmos figurantes, ele e ela são a peça a acontecer nos bastidores...
Ninguém entende que o que se vai passando no palco está gasto, estão como que hipnotizados, vivendo a vida dos personagens...
as suas vidas são pobres e sem sentido...










A peça nos bastidores sob os rolos de corda e panos sujos pelo chão, vai-se desenrolando sublime...
A angústia vestida de soberba, velhaca metamorfoseada de equilíbrio perfeito, de senhora do domínio do bem e do mal...
Irrita-o esta condição humana tão primária e tão folclórica, como gostaria de ter o dom mágico de a fazer simplesmente desaparecer, de num passe de mágica transformá-la  num ápice numa nuvem de penas de ganso...









Na plateia um casal de corvos moralistas cutuca nas cabeças da fila da frente, não são cabeças, são crânios velhos e amarelados pela incompreensão, essa maleita  pior que a falta de tolerância...
Uma nuvem luminosa vai ganhando cor, subjacente aos personagens,  o vermelho alastra pelo fundo do cenário, o ambiente silencia e fica um zumbido no ar...









Ela, a porca sanguessuga, de novo metamorfoseada é agora a princesa adormecida e ele que de parvo não tem nada, desembainha a espada do desprezo e num salto matrix decepa a petulância que rola para o esgoto dos maus sentires...
Claro que fantasia, ela a nojenta permanece, mas não por muito tempo...
Está cumprido mais um exorcismo...












domingo, 13 de maio de 2012

Bob Marley - 31 anos depois...








                                        





 Passaram 31 anos sobre a sua morte...
O meu amigo e ídolo, o pensador, o homem que viveu as injustiças do mundo como a sua razão de viver...
Marley é o musico que mesmo tendo passado tanto tempo continua a ser amado pelo mundo inteiro,  super contemporâneo, que continua a influenciar geração após geração com a música, pensamento, etc, com a mesma intensidade que o fez em vida...
Amo e respeito este HOMEM e músico ímpar e ontem rendemos-lhe uma singela homenagem, transformamos essa efeméride numa evocação incrível, numa celebração doida...
Ele esteve por lá...
Jah Rastafarai...  








                               







Há uma mística natural
soprando pelo ar.
Se escutares atentamente agora,
 ouvirás!








                                    






Enquanto a cor da pele for mais importante do que o brilho dos olhos haverá  guerra... 
Enquanto imperar a filosofia de que há uma raça inferior e outra superior, o mundo estará permanentemente em guerra.
É uma profecia, mas 
todo mundo sabe que isto é verdade.







                                            








Às vezes construímos sonhos em cima de grandes pessoas...
O tempo passa, e 
descobrimos que grandes mesmo eram os sonhos; as pessoas eram pequenas demais para torná-los reais!




                             










Difícil não é lutar por aquilo que se quer, e sim desistir daquilo que se mais ama.
Eu desisti.
 Mas não pense que foi por não ter coragem de lutar, e sim por não ter mais condições de sofrer.
Bob Marley

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Poeta maldito - músicas rebeldes








                                               Charles Baudelaire






A tolice, o pecado, o logro, a mesquinhez 
Habitam nosso corpo e o espírito viciam, 
E adoráveis remorsos sempre nos saciam, 
Como o mendigo exibe a sua sordidez. 
Fiéis ao pecado, a contrição nos amordaça; 
Impomos alto preço à infâmia confessada, 
E alegres retornamos à lodosa estrada, 
Na ilusão de que o pranto as nódoas nos desfaça. 
Na almofada do mal é Satã Trismegisto 
Quem docemente nosso espírito consola, 
E o metal puro da vontade então se evoca 
Por obra deste sábio que age sem ser visto. 
É o diabo que nos move e até nos manuseia!





Em tudo que repugna, uma jóia encontramos; 
Dia após dia, para o Inferno caminhamos, 
Sem medo algum, dentro da treva que nauseia. 
Assim como um voraz devasso beija e suga 
O seio murcho que lhe oferta uma vadia, 
Furtamos ao acaso uma carícia esguia 
Para espremê-la qual laranja que se enruga. 
Espesso, a fervilhar, qual um milhão de helmintos, 
Em nosso crânio um povo de demónios cresce, 
E, ao respirarmos, aos pulmões a morte desce, 
Rio invisível, com lamentos indistintos. 
Se o veneno, a paixão, o estupro, a punhalada 
Não bordaram ainda com desenhos finos 
A trama vã de nossos míseros destinos, 
É que nossa alma arriscou pouco ou quase nada.




Em meio às hienas, às serpentes, aos chacais, 
Aos símios, escorpiões, abutres e panteras, 
Aos monstros ululantes e às viscosas feras, 
No lodaçal de nossos vício ancestrais, 
Um há mais feio, mais iníquo, mais imundo! 
Sem grandes gestos ou sequer lançar um grito, 
Da Terra, por prazer, faria um só detrito 
E num bocejo imenso engoliria o mundo; 
É o Tédio! - O olhar esquivo à mínima emoção, 
Com patíbulos sonha, ao cachimbo agarrado. 
Tu o conheces, leitor, ao monstro delicado 
- Hipócrita leitor, meu igual, meu irmão.







É preciso estar sempre embriagado. Eis aí tudo: é a única questão. 
Para não sentirdes o horrível fardo do Tempo que rompe os vossos ombros e vos inclina para o chão, é preciso embriagar-vos sem trégua.
Mas de quê? 
De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa maneira. Mas embriagai-vos.
E se, alguma vez, nos degraus de um palácio, sobre a grama verde de um precipício, na solidão morna do vosso quarto, vós acordardes, a embriaguez já diminuída ou desaparecida, perguntai ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que foge, a tudo que geme, a tudo que anda, a tudo que canta, a tudo que fala, perguntai que horas são; e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio, responder-vos-ão: 
'É hora de embriagar-vos! 
Para não serdes os escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos: embriagai-vos sem cessar! De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa maneira'.

 Charles Baudelaire