sábado, 10 de dezembro de 2011

Great expectations - song by Lou Reed



Moderar as Expectativas


Ordinário desaire de tudo o que é muito celebrado antes é não chegar depois ao excesso do que foi concebido. Nunca o verdadeiro pôde alcançar o imaginado, porque fingir perfeições é fácil; difícil é consegui-las. Casa-se a imagi­nação com o desejo e concebe sempre muito mais do que as coisas são. Por maiores que sejam as excelências, não bastam para satisfazer o conceito, e, se o enganam com exorbitante expectação, é mais rápido o desengano que a admiração. A esperança é grande falsificadora da verdade: que a sensatez a corrija, fazendo que a fruição seja superior ao desejo. Princípios de crédito servem para despertar a curiosidade, não para empenhar o obje­cto. Melhor resulta quando a realidade excede o conceito e é mais do que se acreditou. Essa regra faltará no que é mau, pois ajuda-o a própria exageração; desmente-a o aplauso, chegando a parecer tolerável o que se temeu ser ruim ao extremo.

Baltasar Gracián y Morales, in 'A Arte da Prudência


quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Boris Vian - song by Frank Zappa




Boris Vian faz parte dos autores que mais me marcaram, li os seus livros há muitos anos mas permanece em mim a magia e o encanto que senti  nas viagens surrealistas em que ele me transportou...

Os livros mais marcantes são sem dúvida "O arranca corações " e  " A espuma dos dias ", aqui ficam alguns excertos do A espuma dos dias...




"O casamento As vagonetas encontravam-se alinhadas à entrada da igreja. Colin e Alise instalaram-se na primeira e partiram imediatamente. Foram dar a um corredor escuro que cheirava a religião. A vagoneta deslizava nos carris com ruído de trovoada e a música ressoava com uma força enorme.
(…)"

"Desabotoou o colarinho. Alise reuniu forças e com um gesto resoluto espetou o arranca-corações no peito de Partre. Ficou a olhar para ela. Morria muito depressa mas fazia um último olhar de espanto ao verificar que o seu coração tinha a forma de um tetraedro. Alise ficou muito pálida. Jean-Sol já estava morto, e o chá arrefecia. Agarrou no manuscrito da Enciclopédia e rasgou-o. Um dos criados veio limpar o sangue e todas as porcarias que a caneta tinha feito na pequena mesa rectangular. Alise pagou, abriu os dois braços do arranca-corações e o coração de Partre caiu em cima da mesa; voltou a fechar o instrumento brilhante, meteu-o na carteira e saiu, levando na mão a caixa de fósforos que Partre trazia no bolso. (…)
"

"- Esta empada de enguias é notável - disse Chick. - Quem te deu a ideia de a fazeres?
- Foi o Nicolas quem teve a ideia - retorquiu Colin. - Há uma enguia - ou antes, havia - que todos os dias vinha ter ao lavatório dele pelo cano da água fria. Punha a cabeça de fora e esvaziava o tubo de pasta dentífrica, fazendo pressão com os dentes. Nicolas só usa pasta americana, de ananás. Isso deve tê-la tentado.
- Como é que ele a apanhou? - perguntou Chick.

- Pôs um ananás inteiro no lugar do tubo. Quando engolia a pasta conseguia deglutir e depois recolher a cabeça, mas com o ananás, quanto mais ela puxava, mais os dentes se enterravam no ananás. (…)"



" — De facto não me interessa muito — disse o gato.
— Fazes mal — respondeu a ratinha. — Ainda sou nova e até há pouco bem alimentada.
— Também eu ando bem alimentado — disse o gato — e não sinto nenhuma vontade de me suicidar. Estás pois a ver por que razão acho isso anormal.
— É porque não viste — acrescentou a ratinha.
— O que é que isso tem? — perguntou o gato.
Não tinha grande necessidade de sabê-lo. Havia calor e os seus pêlos revelavam a maior elasticidade.
— Fica à beira da água — disse a ratinha — espera a hora, anda pela prancha e pára ao meio. Vê qualquer coisa.
— Não pode ver grande coisa — respondeu o gato. — Talvez um nenúfar.
— Sim — disse a ratinha, — Espera que ele suba para o matar.
— É idiota. Não tem qualquer interesse.
— Depois de passar a hora — continuou a ratinha — volta à margem e olha para a fotografia.
— Nunca come? — perguntou o gato.
— Nunca — disse a ratinha. — Está a ficar muito fraco e eu não posso suportar uma coisa dessas. Um destes dias vai dar um passo em falso, quando passar por cima daquela grande prancha.
— E que mal isso te faz? perguntou o gato. — Sentir-se-á infeliz, por acaso?
— Não se sente infeliz — respondeu a ratinha —, sofre. É isso que eu não posso suportar. E depois há-de cair na água, debruça-se de mais.
— Sendo assim — disse o gato —, quero prestar-te o serviço, mas não sei por que razão digo «sendo assim», uma vez que não percebo nada.
— És formidável — disse a ratinha.
— Mete a cabeça na minha boca e espera.
— Vai demorar muito tempo?
— O tempo de alguém me pisar o rabo — respondeu o gato; tenho de ter reflexos rápidos. Mas vou deixá-lo de fora, não tenhas medo.
 A ratinha afastou as mandíbulas do gato e enfiou a cabeça entre os dentes agudos. Retirou-a logo a seguir.
 — Diz-me cá — perguntou —, comeste tubarão esta manhã?
— Ouve — disse o gato —, se não te agradar podes pôr-te a mexer. Esses truques não me impressionam. Desenrasca-te sozinha.
 Parecia aborrecido.
 — Não te zangues — pediu a ratinha.
 Fechou os olhinhos pretos e pôs a cabeça em posição. Com precaução, o gato encostou os caninos pontiagudos ao pescoço cinzento e delicado. Os bigodes pretos da ratinha misturavam-se aos seus. Desenrolou a cauda felpuda e deixou-a estendida no passeio.
 Onze rapariguinhas cegas do Orfanato Júlio, o Apostólico, aproximavam-se a cantar. (…)"

Boris Vian









terça-feira, 6 de dezembro de 2011

William Shakespeare - song by Heavy D


Depois de algum tempo, você aprende a diferença, a subtil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.

E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão. Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam... E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la, por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.


Descobre que se levam anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante das quais se arrependerá pelo resto da vida. Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida. E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher. Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam, percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos.


Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa, por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos. Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser. Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto.

Aprende que não importa onde já chegou, mas onde está indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve. Aprende que, ou você controla seus actos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem
dois lados.





Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as consequências. Aprende que paciência requer muita prática. Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se.


Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou. Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha. Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são insignificantes, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.


Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama, contudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.


Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo. Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado. Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás.

Portanto... plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores. E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida!"

William Shakespeare





domingo, 4 de dezembro de 2011

Craveirinha - song by George Benson




Relembrar Craveirinha, é relembrar que no passado houve homens que sonharam este país diferente, diferente do regime colonial e também diferente deste que temos...
Passados 36 anos de Independência ainda não é este o país  que foi sonhado por José Craveirinha, Noémia de Sousa, Rui Knofli, Eduardo Mondlane,  etc...
Reler estes poemas que foram escritos durante o colonialismo, e que por causa deles Craveirinha pagou na pele a sua ousadia, a de desafiar o regime com palavras, talvez sirva para reflectirmos um pouco sobre o tempo que já passou e o quanto falta fazer para termos realmente o país sonhado...


O meu preço

Eu cidadão anónimo
do País que mais amo sem dizer o nome
se é para me dar de corpo e alma
dou-me todo como daquela vez em Chaimite.
Dou-me em troca de mil crianças felizes
nenhum velho a pedir esmola
uma escola em cada bairro
salário justo nas oficinas
filas de camiões carregados de hortaliças
um exército de operários todos com serviço
um tesouro de belas raparigas maravilhando as praias
e ao vento da minha terra uma grande bandeira sem quinas.
Se é para me dar
dou-me de graça por conta disso.
Mas se é para me vender
vendo-me mas vendo-me muito caro.









HINO À MINHA TERRA

O sangue dos nomes
é o sangue dos homens.
Suga-o tu também se és capaz
tu que não nos amas.

Amanhece
sobre as cidades do futuro.
E uma saudade cresce no nome das coisas
e digo Metengobalame e Macomia
e é Metengobalame a cálida palavra
que os negros inventaram
e não outra coisa Macomia.

E grito Inhamússua, Mutamba, Massangulo!!!
E torno a gritar Inhamússua, Mutamba, Massangulo!!!
E outros nomes da minha terra
afluem doces e altivos na memória filial
e na exacta pronúncia desnudo-lhes a beleza.
Chulamáti! Manhoca! Chinhambanine!
Morrumbala, Namaponda e Namarroi
e o vento a agitar sensualmente as folhas dos canhoeiros
eu grito Angoche, Marrupa, Michafutene e Zóbuè
e apanho as sementes do cutlho e a raíz da txumbula
e mergulho as mãos na terra fresca de Zitundo.
Oh, as belas terras do meu áfrico País
e os belos animais astutos
ágeis e fortes dos matos do meu País
e os belos rios e os belos lagos e os belos peixes
e as belas aves dos céus do meu país
e todos os nomes que eu amo belos na língua ronga
macua, suaíli, changana,
xitsua e bitonga
dos negros de Camunguine, Zavala, Meponda, Chissibuca
Zongoene, Ribáuè e Mossuril.
– Quissimajulo! Quissimajulo! – gritamos
nossas bocas autenticadas no hausto da terra.
– Aruángua! – Responde a voz dos ventos na cúpula das micaias.

E no luar de cabelos de marfim nas noites de Murrupula
e nas verdes campinas das terras de Sofala a nostalgia sinto
das cidades inconstruídas de Quissico
dos chindjiguiritanas no chilro tropical de Mapulanguene
das árvores de Namacurra, Muxilipo, Massinga
das inexistentes ruas largas de Pindagonga
e das casas de Chinhanguanine, Mugazine e Bala-Bala
nunca vistas nem jamais sonhadas ainda.
Oh! O côncavo seio azul-marinho da baía de Pemba
e as correntes dos rios Nhacuaze, Incomáti, Matola, Púnguè
e o potente espasmo das águas do Limpopo.
Ah! E um cacho das vinhas de espuma do Zambeze coalha ao sol
e os bagos amadurecem fartos um por um
amuletos bantos no esplendor da mais bela vindima.

E o balir pungente do chango e da impala
o meigo olhar negro do xipene
o trote nervoso do egocero assustado
a fuga desvairada do inhacoso bravo no Funhalouro
o espírito de Mahazul nos poentes da Munhuana
o voar das sécuas na Gorongoza
o rugir do leão na Zambézia
o salto do leopardo em Manjacaze
a xidana-kata nas redes dos pescadores da Inhaca
a maresia no remanso idílico de Bilene Macia
o veneno da mamba no capim das terras do régulo Santaca
a música da timbila e do xipendana
o ácido sabor da nhantsuma doce
o sumo da mampsincha madura
o amarelo quente da mavúngua
o gosto da cuácua na boca
o feitiço misterioso de Nengué-ua-Suna.

Meus nomes puros dos tempos
de livres troncos de chanfuta umbila e mucarala
livres estradas de água
livres pomos tumefactos de sémen
livres xingombelas de mulheres e crianças
e xigubos de homens completamente livres!

Grito Nhanzilo, Eráti, Macequece
e o eco das micaias responde: Amaramba, Murrupula,
e nos nomes virgens eu renovo o seu mosto em Muanacamba
e sem medo um negro queima as cinzas e as penas de corvos de agoiro
não corvos sim manguavavas
no esconjuro milenário do nosso invencível Xicuembo!

E o som da xipalapala exprime
os caninos amarelos das quizumbas ainda
mordendo agudas glandes intumescidas de África
antes da circuncisão ébria dos tambores incandescentes
da nossa maior Lua Nova.





Reza, Maria

Suam no trabalho as curvadas bestas
E não são bestas
São homens, Maria!

Corre-se a pontapés os cães na fome dos ossos

E não são cães
São seres humanos, Maria!

Feras matam velhos, mulheres e crianças

E não são feras, são homens
E os velhos, as mulheres e as crianças
São os nossos pais
Nossas irmãs e nossos filhos, Maria!

Crias morrem à míngua de pão

Vermes na rua estendem a mão à caridade
E nem crias, nem vermes são
Mas aleijados meninos sem casas, Maria!

Do ódio e da guerra dos homens

Das mães e das filhas violadas
Das crianças mortas de anemia
E de todos os que apodrecem nos calabouços
Cresce no mundo o girassol da esperança

Ah! Maria,

Põe as mãos e reza
Pelos homens todos
E negros de toda a parte
Põe as mãos
E reza, Maria!

José Craveirinha






sábado, 3 de dezembro de 2011

Nneka - Soul is Heavy



Já tinha feito um post desta cantora e este é sem dúvida um dos melhores álbuns de 2011...
Todo bom, sem músicas fracas, é ouvir de ponta a ponta e repetir...



quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Fernando Pessoa - song by Raphael Saadiq



Depois  de ouvir o último álbum de Raphael Saadiq " Stone Rollin' " apaixonei-me por este tema e resolvi fazer um post  a combinar com sadness, emotion and peace..

Ontem também pensou-se em Fernando Pessoa, morreu há 76 anos e o que escreveu é intemporal...nada como fazer-lhe mais uma devida e merecida vénia...




O amor romântico é como um traje, que, como não é eterno, dura tanto quanto dura; e, em breve, sob a veste do ideal que formámos, que se esfacela, surge o corpo real da pessoa humana, em que o vestimos.
O amor romântico, portanto, é um caminho de desilusão. 
Só o não é quando a desilusão, aceite desde o princípio, decide variar de ideal constantemente, tecer constantemente, nas oficinas da alma, novos trajes, com que constantemente se renove o aspecto da criatura, por eles vestida.


Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!



 O Amor, Quando Se Revela


O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar pra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente

Não sabe o que há-de dizer.
Fala: parece que mente…
Cala: parece esquecer…

Ah, mas se ela adivinhasse,

Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;

Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe

O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar…
Fernando Pessoa




terça-feira, 29 de novembro de 2011

Buddha - song by Trentemoller






 

 

                   OS TOLOS E A PROCURA DO CAMINHO


Suponhamos um homem que vai á floresta buscar alguma medula, que cresce no centro das árvores, e volta com um fardo de galhos e folhas, pensando que conseguira aquilo que fora buscar.
Não seria ele um tolo, se está satisfeito com a casca, endoderma ou madeira, ao invés da medula que fora procurar ? 
Mas é isto o que muitos seres humanos fazem.
Uma pessoa procura um caminho que a afasta do (sofrimento) nascimento, da velhice, da doença e da morte, ou da lamentação, da tristeza, do sofrimento e da dor; entretanto, se, seguindo um pouco esse caminho, nota algum progresso, torna-se orgulhosa, vaidosa e arrogante.
É como o homem que procurava medula e saiu da floresta satisfeito apenas com uma braçada de galhos e folhas.
Outro homem que se satisfaz com o progresso alcançado com pouco esforço, negligência seu empenho e se torna vaidoso e orgulhoso; está apenas a carregar um fardo de galhos ao invés da medula que procurava.
Outro ainda, achando que sua mente se tornou mais tranquila e que seus pensamentos se tornaram mais claros, também relaxa o seu esforço e se torna orgulhoso e vaidoso; tem um fardo de cascas ao invés da medula que procurava. 




 Outra pessoa se torna orgulhosa e vaidosa porque notou que obteve um pouco de compreensão intuitiva; ela tem uma carga de fibra lenhosa ao invés da medula.
 Todos estes seres humanos que se satisfazem com seu insuficiente esforço e se tornam orgulhosos e altivos, negligenciam o seu empenho e facilmente caem na indolência.
Todos eles, inevitavelmente, terão que arrostar novamente o sofrimento.
Aqueles que buscam o verdadeiro caminho da iluminação não devem esperar uma tarefa cómoda e fácil ou um prazer proporcionado pelo respeito, honra e devoção.
E mais, não devem almejar, com pouco esforço, ao supérfluo progresso em tranquilidade, conhecimento ou introspeção.
Antes de tudo, deve-se ter, de modo claro na mente, a básica e essencial natureza deste mundo de vida e de morte
.




segunda-feira, 28 de novembro de 2011

1 Giant Leap - What About Me ?


Disco mágico, pura World Músic com uma componente electronic muito forte e uma espiritualidade subjacente incrível....
Participam neste álbum desde Michel Stripe, Zap Mamma, K.D.Lang, Baaba Maal, Carlos Santana, Jhelisa Anderson, Allanis Morissete, Rokia Traoré etc.
Maravilha para chillar e curtir ...obrigado Miguel e Vera....
Projecto de musica conceptual e multimédia criado pelo fundador dos Faithless Jamie Catto e Duncan Bridgemen








http://en.wikipedia.org/wiki/1_Giant_Leap

sábado, 26 de novembro de 2011

Raphael Saadiq - Instant Vintage

 

 

Raphael Saadiq é um músico com uma voz extraordinária, um dos grandes nomes do   R&B .


Meu álbum preferido  "Instant Vintage" de 2002...




Raphael Saadiq (born Charles Ray Wiggins in Oakland, California; May 14, 1966) is an American singer, songwriter and record producer. Saadiq has been a standard bearer for "old school" R&B since his early days as a member of the multiplatinum group Tony! Toni! Toné! He also produced songs of such artists as TLC, Joss Stone, D'Angelo, Mary J. Blige, and John Legend. He and D'Angelo were occasional members of The Ummah, a music production collective, composed of members Q-Tip and Ali Shaheed Muhammad of A Tribe Called Quest, and the late Jay Dee (also known as J Dilla) of the Detroit-based group Slum Village.

Saadiq's critically acclaimed album, The Way I See It, released on September 16, 2008, featuring artists Stevie Wonder, Joss Stone and Jay-Z, received three Grammy Award Nominations and was voted Best Album on iTunes of 2008. His fourth studio album, Stone Rollin', was released on March 25, 2011. For the album, Saadiq worked with steel guitarist Robert Randolph; former Earth, Wind & Fire keyboardist Larry Dunn; Swedish/Japanese indie rock songstress Yukimi Nagano (of Little Dragon fame); plus hip hop newcomer Taura Stinson


http://en.wikipedia.org/wiki/Raphael_Saadiq




quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Fiction? - song by Gnarls Barkley









A fila de carros no cruzamento se transforma num puzzle, encaixam-se em desenhos abstractos no mais perfeito passa quem puder e onde os mais engenhosos tentam  furar pelos espaços possíveis enquanto os semáforos vão pacientemente mudando de verde para laranja, depois vermelho, de novo verde  e assim sucessivamente...
O caos se instalou e ninguém fica nervoso ou sai do carro para reclamar aos céus...simplesmente o ambiente está normalíssimo e os condutores  esperam, é assim que funciona,  alguns  falam ao telemóvel ausentando-se dali pelos ouvidos, outros dormem um pouquinho e a maior parte parece ausente com os semblantes inexpressivos, hipnotizados...
Os polícias não estão para fazer fluir este mar, não existem, estão a controlar a velocidade dos incautos que se apressam em estradas desimpedidas da periferia e por isso mesmo uma tentação para se  andar um pouco mais rápido ou estão em avenidas por onde circulam transportes de passageiros superlotados,  mandando-os parar para exigir a sua autoridade em forma de dinheiro, enquanto os passageiros se explodem em apertos, cheiros e desespero de chegarem a casa...



Olho para o céu, que só vejo parte por entre os prédios e espero ver aparecer  o super homem   voando em nossa direcção com o braço esticado,  furando o ar e vindo para nos salvar, mas não o vejo aparecer...
Vejo sim um saco plástico sebento que se cola no pára brisas e como sei que o transito está parado saio do carro e... meto o pé num buraco  do alcatrão, ainda por cima  cheio de água da chuva que vai caindo sem parar enquanto no passeio alguns putos se escangalham a rir...
Não me irrito, enervar-me para quê?
O sistema imunológico entra em acção e sacudo o pé,  retiro o plástico voador do vidro e entro de novo no carro.
Ligo o rádio e oiço o locutor a dizer que segundo estudos apurados  as alterações introduzidas no transito melhoraram bastante o tráfego,  pois segundo esses estudiosos, agora as filas não são em dois sentidos e como tal reduziu-se o congestionamento de dois para um só sentido, desligo de imediato o aparelho...
Finalmente lá vou eu e passo, rolando  calmamente com o sinal vermelho fixo, os semáforos só existem para animar a época natalícia,  o transito processa-se á vez, um de cada vez e todos ao mesmo tempo...



quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Os lavadinhos - song by Chico Buarque



Como um dilúvio começaram a chover os novos imigrantes, os lavadinhos como já ouvi rotularem os portugueses que chegam ás centenas...
Não passa despercebida a presença destes pelos quatro cantos da cidade; são de estratos sociais diferentes e é vê-los no Alto-Maé de sacola ao ombro a olhar para as lojas na tentativa de colher informações para alugar; é vê-los na Cristal que é tipo o quartel general a almoçar, branquinhos esverdeados, tom de pele que sinaliza  o facto de serem recém chegados vindos do Inverno;  no Piri Piri são os clientes maioritários e não sei quantos mais estarão já  por este nosso imenso Moçambique,  são cerca de 30.000 que já cá estão a tentar a sua sorte, pois a situação em  Portugal está de se fugir...
Só em Angola estão mais de 130.000 , não consigo imaginar o cenário se as coisas continuarem neste ritmo...
A vida é de uma ironia cruel e eu que já vivi o suficiente para testemunhar as grandes mudanças fico sem argumentos, sem lógica  para explicar o que isto me faz sentir, mas mesmo assim vou arriscar..
Nasci e cresci aqui sob o regime colonial e também assisti  ao êxodo dos portugueses que acompanhou a transição para a Independência de Moçambique.
Vivi também os grandes choques e os grandes ressentimentos em relação a tudo que fosse português no pós independência mas com o passar dos anos tudo isso se foi esbatendo pois a nossa realidade democrática foi tomando conta das atenções e o resto passou para segundo plano...
Já tivemos várias invasões de estrangeiros a tentarem a sorte, a tentarem se radicar para ganhar a vida, falo dos nigerianos, dos paquistaneses, dos libaneses e mais recentemente a dos chineses,  mas este regresso em massa dos portugueses nunca me passou pela cabeça que viesse a acontecer e nestes moldes .
Quando se deu a Independência saíram pela porta pequena, uns fugindo outros por vontade própria mas partiram em massa na sua quase totalidade.
A vida dá muitas voltas e de repente aí estão eles de regresso e a entrarem pela  porta pequena de novo mas num cenário totalmente diferente, espero eu...
Quando saíram foi ou porque tinham culpas no cartório ou porque não estavam para ser governados por pretos ou porque na altura era muito difícil ser-se português face ao contexto histórico ou  mesmo porquenão se identificavam com a linha politica do novo país.





Agora voltam a procura de uma oportunidade e entram discretamente, e para minha agradável surpresa estão a ser recebidos com tolerância e sem qualquer tipo de ressentimento.
Eu penso que a vinda destes lavadinhos como já os baptizaram, poderá ser uma ajuda para o desenvolvimento do nosso país; se eles se fixarem por este Moçambique afora e fizerem agricultura, comércio, criarem industrias, formarem pessoas (têm a vantagem da língua e uma cultura irmã) serão mais benéficos  que os chineses ou os paquistaneses para o nosso desenvolvimento...
Poderíamos aproveitar este momento e de colonizados usados e explorados ,sermos nós a usar a sua força de trabalho e o seu saber para connosco levantarmos a nossa nação.
O Brasil, a Venezuela, a Argentina, a África do Sul etc devem muito do seu desenvolvimento aos imigrantes portugueses, e nós deveríamos orientá-los nas possibilidades de se radicarem por este Moçambique enorme.
Para terminar quero também dizer que no meio destes imigrantes estarão com certeza alguns que tentarão repetir certos comportamentos do passado colonial que já nada têm a ver com este Moçambique independente e a esses avisar que não o façam, pois se o fizerem  poderão por em risco a situação destes muitos milhares que continuam a chegar e destruir algo que poderá ser uma boa nova para as relações de fraternidade e cooperação entre estes dois povos.
A esses a porta pequena será de novo aberta para se porem a andar e não mais voltarem....

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Quem me dera ser onda - song by Keb' Mo'





Faz mais de 20 anos que li este pequeno romance que é uma obra de humor a sério.
O saudoso Heliodoro Baptista emprestou-me o livro e quis que o lê-se no mesmo dia, e foi isso que fiz enquanto  ouviamos música , ele vasculhava outros livros e fumávamos uns charritos...
Ainda não tinha trazido nada de humor para aqui e depois de tanta seriedade espiritual nada como a perspectiva dumas boas gargalhadas ....
Recomendo absolutamente a leitura deste livro...









Este livro é a crónica de uma cidade numa época em que o socialismo era a ideologia dominante. Aqui  o autor caricatura a sociedade e a burguesia como era vista na visão socialista aproveitando-se para tanto da descrição da vivência cultural quotidiana daquele povo.



...o autor é o angolano Manuel Rui que evidência o carácter cómico durante toda a narrativa.

Diogo e sua família são oriundos do interior, moram no sétimo andar de um prédio que não permite animais domésticos; porém Diogo tem muito desejo de comer carne e acaba ganhando um porquinho, ao leva-lo para casa sua intenção é cria-lo até que engorde e se torne uma apetitosa refeição.

Os filhos de Diogo, Ruca e Zeca se afeiçoam ao animal, dão-lhe o nome de carnaval,  já que é nessa data que o pai pretende fartar-se da sua carne, brincam com ele e fazem com que o porquinho seja mais que um animal de estimação; seja parte da família.

Com a presença de carnaval o prédio vira uma confusão só, pois o sindico desconfia da sua existência e tente de todos os jeitos flagrar o animal de Diogo para que este livre-se do porco. Para os meninos tudo isso é uma festa, eles chegam a levar o porco para a escola a fim de mostrá-lo aos colegas.

As crianças têm importante papel durante a trama, pois são elas que possuem o pensamento rápido e astuto para conseguir garantir a permanência do animal, escondendo-o, através de mentiras, dos fiscais responsáveis pelo cumprimento das regras do prédio.


http://criscompagnoni.blogspot.com/2010/06/quem-me-dera-ser-onda.html?showComment=1321906234255#c4502091364103652549









domingo, 20 de novembro de 2011

O Vendedor de Sonhos - song by Boozoo Bajou









Neste livro o Mestre continua a desmontar a sociedade virando-a  de cabeça para baixo. Depois de sofrer perdas irreparáveis e ver seu mundo desmoronar, esse misterioso homem procura reconstruir sua vida vendendo sonhos. "O Vendedor de Sonhos e a revolução dos anónimos" mostra como a trajectória de cada ser humano é complexa, escrita com lágrimas e júbilo, tranquilidade e ansiedade, sanidade e loucura.




Augusto Cury é um  escritor fabuloso, mestre das palavras e de  lúcida sensibilidade quando sente a alma humana , é a minha mais recente descoberta ...ainda não acabei de ler o livro mas é de tal forma intenso e de revelações constantes que não resisti a fazer este post...
Foi um acaso maravilhoso que me trouxe este escritor, esse  mesmo acaso mudou a minha vida para melhor, fez-me sentir que vale a pena querer ser uma pessoa melhor ...
Alguns pensamentos :



A maior aventura de um ser humano é viajar,
E a maior viagem que alguém pode empreender
É para dentro de si mesmo.
E o modo mais emocionante de realizá-la é ler um livro,
Pois um livro revela que a vida é o maior de todos os livros,
Mas é pouco útil para quem não souber ler nas entrelinhas
E descobrir o que as palavras não disseram...


Sem sonhos, a vida não tem brilho.
Sem metas, os sonhos não têm alicerces.
Sem prioridades, os sonhos não se tornam reais. Sonhe, trace metas, estabeleça prioridades e corra riscos para executar seus sonhos. Melhor é errar por tentar do que errar por omitir!









Sábio é o ser humano que tem coragem de ir diante do espelho da sua alma para reconhecer seus erros e fracassos e utilizá-los para plantar as mais belas sementes no terreno de sua inteligência.



Quando somos abandonados pelo mundo, a solidão é superável;quando somos abandonados por nós mesmos,a solidão é quase incurável.



Os sensíveis sofrem mais, mas amam mais e sonham mais.



Os sonhos não determinam o lugar em que você vai estar, mas produzem a força necessária para tirá-lo do lugar em que está.



Os milionários quiseram comprar a felicidade com seu dinheiro, os políticos quiseram conquistá-la com seu poder, as celebridades quiseram seduzi-la com sua fama. Mas ela não se deixou achar. Balbuciando aos ouvidos de todos, disse: "Eu me escondo nas coisas mais simples e anónimas...











sábado, 19 de novembro de 2011

Buddha - song by Absolute Elsewhere









                                                                                

 Eu sou o resultado de meus próprios actos, herdeiros de actos; actos são a matriz que me trouxe, os actos são o meu parentesco; os actos recaem sobre mim; qualquer ato que eu realize, bom ou mal, eu dele herdarei. Eis em que deve sempre reflectir todo o homem e toda mulher.

Tudo o que nasceu vai morrer, tudo o que foi reunido será espalhado, tudo o que foi acumulado terá fim, tudo o que foi construído será derrubado, e o que esteve nas alturas será rebaixado.







                                                                               
O segredo da saúde, mental e corporal, está em não se lamentar pelo passado,  não se preocupar com o futuro, nem se adiantar aos problemas, mas viver sabia e seriamente o presente.
                                                                                
Jamais, em todo o mundo, o ódio acabou com o ódio; o que acaba com o ódio é o amor.
                                                                             
Quanto mais coisas você tem, mais terá com o que se preocupar.
                                                                              
A verdade está dentro de nós. Não surge das coisas externas, mesmo que assim acreditemos.
                                                                           
 A paz vem de dentro de você mesmo. Não a procure à sua volta.


Buddha



quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Natiruts - Reggae Power Ao Vivo









Disco perfeito, fabuloso,  não tem uma que não preste, super bem produzido,maningue nice !!!
Curti muito esta banda ainda com o  nome Nativus,  era presença de respeito no saudoso ARTEBAR
Reggae do Brasil e como tal com o lado sensual, sweet loving reggae,  cantado na nossa língua...
Está a trovejar e as tensões se dissipam lentamente, não chove e tudo vai sossegando aos poucos, ao sabor  dos escassos pingos que vão caindo...
Natiruts elevam o astral, são pra cima e é para lá que tenho de vos levar depois do Pessoa profundíssimo ..







A banda Natiruts surgiu em Brasília, em 1996, com outro nome: Nativus. A formação da banda então contava com Alexandre Carlo (vocais e guitarra), Luís Maurício (baixo), Juninho (bateria), Bruno Dourado (percussão), Kiko Peres (guitarra solo) e Izabella Rocha (vocais).
A banda já lançou nove discos, fazendo bastante sucesso pelo país com canções como Presente De Um Beija-Flor, Liberdade Pra Dentro Da Cabeça, Natiruts Reggae Power, entre outras.

Natiruts Reggae Power Ao Vivo é o primeiro CD e DVD ao vivo da banda Natiruts, lançado em Dezembro de 2006.
Gravado  em São Paulo no dia 1 de Setembro de 2006, o disco é um apanhado geral da carreira da banda, trazendo desde sucessos antigos, como Liberdade Pra Dentro da Cabeça e Presente de Um Beija-Flor, até canções recentes, como Não Chore Meu Amor, Quem Planta Preconceito e Quero Ser Feliz Também (as três pertencentes ao disco Nossa Missão, de 2005). O disco trouxe a canção inédita Natiruts Reggae Power, que foi sucesso nacional.





é muito bom, vale ouvir duas...








vá lá três a conta que Deus fez
...





Pessoa - song by Elbow





Sou Lúcido


Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa
Aquele homem mal vestido, pedinte por profissão que se lhe vê na cara,
Que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele;
E reciprocamente, num gesto largo, transbordante, dei-lhe tudo quanto tinha
(Excepto, naturalmente, o que estava na algibeira onde trago mais dinheiro:
Não sou parvo nem romancista russo, aplicado,
E romantismo, sim, mas devagar...).

Sinto uma simpatia por essa gente toda,
Sobretudo quando não merece simpatia.
Sim, eu sou também vadio e pedinte,
E sou-o também por minha culpa.
Ser vadio e pedinte não é ser vadio e pedinte:
É estar ao lado da escala social,
É não ser adaptável às normas da vida,
'As normas reais ou sentimentais da vida -
Não ser Juiz do Supremo, empregado certo, prostituta,
Não ser pobre a valer, operário explorado,
Não ser doente de uma doença incurável,
Não ser sedento da justiça, ou capitão de cavalaria,
Não ser, enfim, aquelas pessoas sociais dos novelistas
Que se fartam de letras porque tem razão para chorar lagrimas,
E se revoltam contra a vida social porque tem razão para isso supor.

Não: tudo menos ter razão!
Tudo menos importar-se com a humanidade!
Tudo menos ceder ao humanitarismo!
De que serve uma sensação se ha uma razão exterior a ela?

Sim, ser vadio e pedinte, como eu sou,
Não é ser vadio e pedinte, o que é corrente:
É ser isolado na alma, e isso é que é ser vadio,
É ter que pedir aos dias que passem, e nos deixem, e isso é que é ser pedinte.

Tudo o mais é estúpido como um Dostoiewski ou um Gorki.
Tudo o mais é ter fome ou não ter o que vestir.
E, mesmo que isso aconteça, isso acontece a tanta gente
Que nem vale a pena ter pena da gente a quem isso acontece.

Sou vadio e pedinte a valer, isto é, no sentido translato,
E estou-me rebolando numa grande caridade por mim.

Coitado do Álvaro de Campos!
Tão isolado na vida! Tão deprimido nas sensações!
Coitado dele, enfiado na poltrona da sua melancolia!
Coitado dele, que com lágrimas (autenticas) nos olhos,
Deu hoje, num gesto largo, liberal e moscovita,
Tudo quanto tinha, na algibeira em que tinha pouco
Aquele pobre que não era pobre que tinha olhos tristes por profissão.

Coitado do Álvaro de Campos, com quem ninguém se importa!
Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!

E, sim, coitado dele!
Mais coitado dele que de muitos que são vadios e vadiam,
Que são pedintes e pedem,
Porque a alma humana é um abismo.

Eu é que sei. Coitado dele!
Que bom poder-me revoltar num comício dentro de minha alma!

Mas até nem parvo sou!
Nem tenho a defesa de poder ter opiniões sociais.
Não tenho, mesmo, defesa nenhuma: sou lúcido.

Não me queiram converter a convicção: sou lúcido!

Já disse: sou lúcido.
Nada de estéticas com coração: sou lúcido.
Merda! Sou lúcido.

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Johannesburg - song by Bayete



Um simples passeio de 3 dias a Johannesburg ou  Egoli,  aonde já não ia há alguns anos fez com que mais uma vez os meus neurónios começassem a fumegar...
Ouve-se ainda dizer que desde que os brancos  deixaram o país que a África do Sul está a cair e que o futuro será um desastre igual ao das ex-colónias portuguesas...
O que eu vi foi um país a funcionar como sempre funcionou, organizado e em franco desenvolvimento (estou a falar só do que vi, ou seja de Maputo até Jo'burg por estrada e depois dentro da cidade), Sandton City que é um dos melhores centros comerciais que já conheci continua a funcionar como sempre funcionou  cheio de gente de todas as raças e nacionalidades, as ruas limpas, passeios impecáveis, jardins lindos, pessoas ordeiras, exactamente como sempre vi...
Sei que há zonas de risco como Hillbrow , a zona velha da cidade etc, mas isso sempre foi...a violência é uma marca deixada pelo estigma do apartheid  e que irá continuar até que os traumas daquela sociedade se curem...
A estátua de Mandela em Mandela Square é um espectáculo, é pura arte e tem a marca sul africana foi feita por sul africanos...




Vêm-se pelas artérias de Egoli , Mercedes Benz de modelos incríveis, Porches, até Ferraris vi, vi um parque automóvel de fazer inveja...mas por incrível que pareça não choca ver esses símbolos de riqueza...porque o que se vê é desenvolvimento e progresso e quando assim é tudo se encaixa; também vi terminais de chapas  com qualidade, minibuses  em bom estado e em quantidade para não haver transtornos para os utentes; não tem nada a ver com o impacto que os carros de luxo causam em Maputo, aqui parece desajustado face à realidade que se vive, sem dúvida ! 
Pois , é aqui que eu começo a fritar de raiva...
Comparar a nossa cidade de Maputo com Jo'burg é utopia , mas se uma cidade que é não sei quantas vezes maior que Maputo consegue estar  da forma que eu vi, pergunto porque é que a nossa cidadezinha comparada com ela é simplesmente uma vergonha, reflexo de desmazelo, lixo, ruas esburacadas, passeios destruídos ou a caminho da desintegração, avenidas que não são varridas, prédios descoloridos e em avançado estado de degradação, caixas de electricidade abertas, pessoas a urinarem nas acácias,somos  tudo aquilo que choca e reflecte um abandono, um deixa andar sufocante...
A estátua do Samora não poderia ter sido feita por artistas moçambicanos e reflectirem um outro lado que não o lado militarista?
Samora também tem imagens que poderiam ser enfatizadas duma forma artística sem que tivéssemos que encomendar aos coreanos algo de tão marcial, imagem  tão ultrapassada como o é o marxismo-leninismo, ele também se vestia de fato ou de balalaica .
Onde está o vestígio da nossa arte num monumento tão simbólico?



Somos vizinhos, somos irmãos...a África do Sul é a maior potência de África, porque é que nunca estreitamos os nossos laços de forma a que a qualidade deles fosse importada por nós para o nosso desenvolvimento ?
Não consigo perceber porque somos tão cegos ou tão orgulhosos  que não queiramos aprender com eles sobre como se gere uma cidade, como se mantém uma cidade, como se faz a manutenção duma cidade...
Só temos que nos envergonhar e não ficar ofendidos quando os sul africanos nos olham e tratam  com pena ou com desprezo, pois nós reflectimos o que acabei de mencionar !!!
Eles são muito ricos é verdade, mas são conhecedores de muitos domínios e numa plataforma de troca de interesses poderiam fazer por nós muito mais que certos países que aqui estão simplesmente a sacar, a roubar as nossas riquezas a troco de porcelanas frágeis ou mesmo a troco de nada quando comparado com o que eles levam...
Irrita-me solenemente...e eu que não me queria irritar, só fui passear e olhem o que aconteceu, não dá !!!



sábado, 12 de novembro de 2011

Amar - song by Lenny Kravitz

 
                                                           




                                               Amar Intensamente


De que vale no mundo ser-se inteligente, ser-se artista, ser-se alguém, quando a felicidade é tão simples! Ela existe mais nos seres claros, simples, compreensíveis e por isso a tua noiva de dantes, vale talvez bem mais que a tua noiva de agora, apesar dos versos e de tudo o mais. Ela não seria exigente, eu sou-o muitíssimo. Preciso de toda a vida, de toda a alma, de todos os pensamentos do homem que me tiver. Preciso que ele viva mais da minha vida que da vida dele. Preciso que ele me compreenda, que me adivinhe. A não ser assim, sou criatura para esquecer com a maior das friezas, das crueldades. Eu tenho já feito sofrer tanto! Tenho sido tão má! Tenho feito mal sem me importar porque quando não gosto, sou como as estátuas que são de mármore e não sentem.


Florbela Espanca, in "Correspondência (1920)"




                  Amar!



Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar!  Amar!  E não amar ninguém!


Recordar?  Esquecer?  Indiferente!...
Prender ou desprender?  É mal?  É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!


Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!


E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...


Florbela Espanca


quarta-feira, 9 de novembro de 2011

R.I.P. Heavy D



Nunca fui grande fã do hip hop, tirando alguns artistas ou alguns discos ou mesmo algumas músicas.
Essa faceta do Heavy D pouco ou nada conheço ou aprecio, mas este senhor nascido na Jamaica em 2008 lançou um álbum de reggae chamado " VIBES" e isso sim foi outra fruta !!
Minha singela homenagem a este artista que se foi com 44 anos de idade.