segunda-feira, 15 de junho de 2015

O pão que Deus amassou...











Estar presente em si e colar conchas, pintar de cores fortes a madeira virgem
O pedaço de casca de árvore, transforma-se em arte e renasce...

Dos obscuros recônditos do que doía, pelo agir vai se iluminando o ser,
surgem cores em círculos, laranja e amarelos do sol, como velas de cera bruxuleando no escuro
O trilho de regresso é cheio de trinados de pássaros tranquilos e o aperto,
o aperto do peito vai e vem, este ir não tem como não ir e vou...









Soberano e lúcido é como se deve ser,  como a flor amarela do cacto, 
das assustadoras agulhas do carnudo verde, desse corpo nasce a flor, 
soberana, irradiando beleza
Assim o sol rompe a noite fria e o trilho surge ali, a dizer, vem!







As agulhas no verde fui eu, por dentro conheci caminhos estranhos que me confundiram tudo
O tempo de fermentação depende da dor, ela deve ser profunda e longa para se chegar 
As portas da percepção não se abrem só pela prática da meditação ou por outras formas sublimes de se ir ao encontro de si.
A dor abre sem pena, o buraco da visão lúcida e demora, demora a doer...
Sarada a ferida o olho se abre, tudo fica mais leve, tudo é mais claro, enxergas  mais um pouco...








A lucidez, o gostar de estar assim, consigo em sintonia, afinal lá fora não tem mais confusão, 
este é o teu tempo, agora, o trilho é de ouro e a luz cega-me. 
Vou, não tem mais frio, sou pássaro de novo e de novo voo, lúcido !








terça-feira, 2 de junho de 2015

Uma metamorfose dos sentidos...








                                











Quando de repente  o céu escureceu pensei por momentos que fosse um temporal a chegar sem avisar, e era, era a maior tempestade dos meus sentidos!
Os vidros de meu edifício vibraram de tal forma que meus ouvidos ensurdeceram com o clamor de minha alma, gritando feito um berro, sobrepondo-se o lamento ao som dos vidros enlouquecidos ...
Partiu-se o espelho onde toda a vida me mirei, infeliz dono de tantas certezas, onde a minha imagem reflectida, a do meu ser agachado com o peso das expectativas  que se alhearam de tudo, cagaram para mim e empurram-me para baixo; a imagem  repetia-se e repetia-se em cada pedacinho de espelho, fazendo-me no meu ajoelhar multiplicado, entender a frio que o jogo acabou, a tempestade não veio por acaso, veio para se transformar em verdade de uma vez por todas.









Naquele momento a temperatura subiu ao ritmo acelerado do meu batimento cardíaco, fundiu o aço das minhas defesas e me vi a esvair feito lava, escorrendo como utópicas lágrimas de metal pelo chão, por cima da poesia que parecia e afinal não era....
Ficou noite sem estrelas, cego tentei apalpar a realidade mas as formas que tocava não as conseguia identificar, e fiquei e caminhei e fui e parei e andei, tentando em vão perceber...
Caminhei quilómetros por labirintos sem saída, sem respostas para perguntas não formuladas, quedava-se meu ser aos apalpões e sem vontade de encontrar a saída e ao mesmo tempo lutando por encontrá-la.








Ribombaram trovões duvidosos, rugidos da natureza nunca antes ouvidos e eu perdi-me, o caminho não estava mais ali, a tempestade até o cheiro dos dias fez mudar, o ar não mais foi puro, sentia-se um aroma a flores murchas, a rosas azedas, os pássaros deixaram de cantar e não mais me acordaram nas manhãs.
Dormi muitos dias, muitos, acordado velava meu sono profundo, o cansaço virou adrenalina e discuti comigo aos gritos, tive que impor uma vontade, a única que servia para não enlouquecer.
Peguei em mim e saí dali, neste momento ainda caminho, mas não estou mais na zona da tormenta.
Caminhei aos tombos durante uma longa noite, que durou muitos dias e da mesma forma que a tempestade chegou, de surpresa, foi com surprsa que comecei de repente a ver e a perceber que estava em lugares novos, não deu ainda para fazer juízos sobre os mesmos, mas sinto que estou a viver algo novo.











 O caminho até ao destino, se é que há um destino, ainda é longo, distante, como se estivesse a começar uma aventura, as cores são vivas e vejo-me a sorrir, sim, a sorrir sem razão ou mesmo com razão !
A vida está aqui e é para ser vivida.
Feita de emoções, as pesadas, com o sabor salgado de lágrimas, o ter de tomar consciência das nossas legítimas derrotas.
Feita também de celebração, com gargalhadas e beijos canibais, com a aceleração dos sentidos no êxtase, na vida a pulsar, no abraço verdadeiro, apertado. 
Vamos, o tempo não pára, quero mais, vou querer sempre mais quando o que tiver não me chegar !